«Quero ser como uma porta fechada à inveja e avidez, aberta ao dom e à oferta. Uma porta que afasta frio e gelo, que protege e faz encontrar. Uma porta fechada ao egoísmo, aberta ao amor ao próximo e à compreensão. Uma porta que a ti, Senhor, oferece uma casa e aos outros amor, tempo e segurança.»
«Toda a casa é um candelabro/ onde as vidas dos homens ardem/ como velas isoladas.» Este belíssimo verso de uma das primeiras poesias (1923) do escritor argentino Jorge L. Borges poderia ser um augúrio e um moto para as famílias.
Passando pelas ruas de uma cidade à noite, por trás das janelas iluminadas pode pensar-se no amor, na alegria, na generosidade, mas também nos cansaços, nas dores, nas crises que se escondem dentro de paredes.
As famílias com as suas histórias são como chamas que aquecem o gelo de muitas solidões. Mas para aí chegar, é preciso um compromisso profundo e sério, para que a família não se reduza a uma mera coexistência debaixo do mesmo teto.
Para descrever esta tarefa, quis hoje propor, ao início, as belas palavras que a liturgia nupcial luterana põe na boca da esposa como promessa na sua missão familiar. São frases límpidas e a meditar para que as famílias possam verdadeiramente cintilar.
Ao centro está o símbolo bíblico e social da porta. Por um lado, ela deve fechar-se à inveja, ao egoísmo, à avidez, de outro modo a fonte íntima do estar juntos seca.
Por outro, a porta deve abrir-se ao amor aos outros. O calor e a luz da família devem irradiar-se ao exterior no mundo que é muitas vezes escuro e gelado.