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A pastoral da paróquia é abrir portas e receber com um sorriso, em vez de dizer «estamos fechados, não está na hora»

A Igreja é um corpo composto de muitos membros, todos ao serviço uns dos outros e todos animados pelo mesmo amor: o de Cristo. E quando a Igreja não é assim, cai na mundanidade, cai no clericalismo, que é uma coisa feíssima. Recordai-vos sempre que é com a beleza e a riqueza desta variedade e desta comunhão que levais Jesus ao mundo: é este o meio mais poderoso com que anunciais o Evangelho, antes ainda das palavras. (…)

Exorto-vos a caminhar juntos como irmãos e irmãs, porque a fraternidade torna as pessoas mais livres e felizes. O mundo não termina com nós próprios, por favor. A comunidade não se faz à frente do espelho, eu e o espelho, não. Só descobrimos verdadeiramente o mundo quando caminhamos juntos com os outros, dia após dia. Por isso é importante a paróquia: porque é o lugar em que, no seguimento de Jesus, nos encontramos, nos conhecemos, nos enriquecemos uns com os outros, pessoas de diferentes gerações e diferentes condições culturais e sociais, todos com alguma coisa de único a dar e a receber. Vemos nas nossas cidades o que acontece quando nos esquecemos disto: o horizonte restringe-se e todos se tornam mais sós.

Caminhar juntos, caminhar com amor. O amor entre vós esteja sempre em primeiro lugar. Através das atividades formativas, a catequese, os grupos (…), a atenção aos pobres e aos últimos, às pessoas idosas e sós, aos noivos e às jovens famílias, através das bandas de música e das atividades desportivas, vós preparais o terreno, por vezes algo árido e duro, para semear amor e transformar o território em que viveis num campo abundante, rico de frutos bons do Evangelho. Em particular, amar significa “alargar o círculo”, construindo unidade na confiança e no acolhimento, trabalhando juntos e procurando sempre os pontos em comum e as ocasiões para fazer comunidade, em vez de motivos de divisão. Respeitar as diferenças.



Abertura total. Braços e mãos abertos, olhos desejosos de encontro e repletos de afeto. Esta é a pastoral de uma paróquia



Sabeis, eu fui pároco durante seis anos, e trago essa experiência no coração. Gostava da missa com as crianças… Pensai que naquele bairro havia muitas, e na missa dominical das crianças havia 200, 280 – naqueles bairros as famílias têm quatro ou cinco filhos –, e começava sempre a dialogar com elas. Uma vez – era o Pentecostes – disse: «Hoje é Pentecostes!». As crianças respondiam: «Sim, padre, sim». Em resumo, é o Espírito Santo… Quem de vós sabe quem é o Espírito Santo?». E algumas levantavam as mãos. «Muito bem, diz tu!» - «O paralítico!» - «O que disseste?» - «O paralítico.» - «Aquele que anda numa cadeira de rodas?» - «Sim!» - «Não, querido, é o Paráclito, é outra coisa!». Mas era belo. Noutra ocasião falei da não maledicência, porque as maledicências fazem mal, e as pessoas que dizem maledicências fazem mal. «Ah! – disse imediatamente uma criança –, como as senhoras Tal e Tal!». As crianças são espontâneas, a missa com as crianças é uma coisa belíssima: levai-as sempre. A paróquia é um lugar abençoado, onde se vai para se sentir amado. Quem bate à porta das nossas igrejas e dos nossos ambientes procura muitas vezes antes de tudo um sorriso acolhedor, procura braços e mãos abertas, olhos desejosos de encontro e repletos de afeto.

Numa paróquia, tu bates à porta e, se não está no horário, dizem-te: «Vai-te embora, está fechado». Uma vez, um pároco disse-me: «Tenho vontade de fechar as janelas com tijolos.» - «Mas estás louco?» - «Não, porque as pessoas vêm, e se não as recebo à porta, batem às janelas.» As pessoas não se cansam de pedir e de chamar, e nós não devemos cansar-nos de abrir as portas e as janelas. Se tu és padre, é para isto; se tu estás no círculo da paróquia, é para isto: para abrir portas, para abrir janelas, para receber sempre com um sorriso. E não dizer «não está na hora». Abertura total. Braços e mãos abertos, olhos desejosos de encontro e repletos de afeto. Esta é a pastoral de uma paróquia. Na paróquia cada um leva também o seu fardo, para podê-lo partilhar com alguém e aligeirar-lhe o peso, mas também para partilhar as coisas boas que contém.



Se te vem a vontade de maldizer, morde a língua. A língua inchará e não poderás falar. Morde a língua antes de maldizer. Nada de maledicência, por favor, é uma peste que destroça as paróquias, destroça as famílias e muitas coisas



Sim, há um inimigo grande, nas paróquias, como em todo o lado: a maledicência. Estai atentos, não deixeis entrar a maledicência. A maledicência mata. E não faleis mal uns dos outros. Se não gostas daquele, se não gostas daquela, come o teu juízo, mas não o partilhes para destroçar o outro. «Mas, padre, é tão fácil a maledicência…». Sim, é fácil, é verdade. Mas há um remédio muito bom contra a maledicência, não sei se o conheceis, mas é bom, é um bom remédio. Se te vem a vontade de maldizer, morde a língua. A língua inchará e não poderás falar. Morde a língua antes de maldizer. Nada de maledicência, por favor, é uma peste que destroça as paróquias, destroça as famílias e muitas coisas… (…)

Segui em frente! Vós, idosos, vós, adultos, transmiti aos jovens o testemunho que recebestes das gerações que vos precederam; e dai-o enriquecido pelo vosso empenho e pelo vosso testemunho. E vós, jovens, não tenhais medo de falar com os velhos. Vai falar, vai discutir, vai escutar os velhos, porque te darão força, a partir da sua história, para que tu possas seguir em frente, tu que és jovem agora. Isto não significa olhar sempre para trás, não. Vai ter com os velhos, mas olha para a frente, para o horizonte. É importante que os jovens encontrem os velhos e falem com os velhos.


 

Papa Francisco
Excertos do discurso aos fiéis das paróquias de Rho (Itália), Vaticano, 25.3.2023
In Sala de Imprensa da Santa Sé
Edição / trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Vatican Media
Publicado em 27.03.2023

 

 
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