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A Igreja que Francisco sonha é mais inclusiva, intercultural e periférica

Numa época em que «os nacionalismos fechados e agressivos e o individualismo radical desagregam ou dividem o “nós”, tanto no mundo como dentro da Igreja», o papa Francisco sonha com um «futuro a cores», em que a Igreja seja «cada vez mais inclusiva» para com deslocados de outras confissões, de maneira a promover o diálogo ecuménico e inter-religioso, e que o mundo seja «enriquecido pela diversidade e pelas relações interculturais» e as fronteiras se transformem em «lugares privilegiados de encontro».

Na sua mensagem para a 107.ª Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado, que se assinala a 26 de setembro, o papa aponta caminhos aos «fiéis católicos» e a «todos os homens e mulheres da Terra» para esconjurar um risco que agrava a condição da humanidade já vergada pela pandemia, começando desde logo pelo título, “Rumo a um ‘nós’ cada vez maior”.

Com efeito, «o “nós” querido por Deus está dilacerado e dividido, ferido e desfigurado», «e o preço mais alto é pago por aqueles que mais facilmente se podem tornar os “outros”: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais».

Ao retomar o moto declarado na emblemática celebração a que presidiu a 27 de março de 2020, ao anoitecer, diante e uma vazia praça de S. Pedro, «estamos todos na mesma barca», Francisco reiterou a convicção de que os católicos são chamados a comprometer-se «para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os “outros”, mas só um “nós”, do tamanho da humanidade inteira».



A todos, em particular aos católicos que, em nome de nacionalismos e ideologias estranhas ao Evangelho, Francisco acentua: «No encontro com a diversidade dos estrangeiros, dos migrantes, dos refugiados e no diálogo intercultural que daí pode brotar, é-nos dada a oportunidade de crescer como Igreja, enriquecer-nos mutuamente»



É também aos católicos que o papa pede para que o sejam sempre e mais:  «A catolicidade da Igreja, a sua universalidade é uma realidade que requer ser acolhida e vivida em cada época, conforme a vontade e a graça do Senhor que prometeu estar sempre connosco até ao fim dos tempos. O seu Espírito torna-nos capazes de abraçar a todos para se fazer comunhão na diversidade, harmonizando as diferenças sem nunca impor uma uniformidade que despersonaliza».

A todos, em particular aos católicos que, em nome de nacionalismos e ideologias estranhas ao Evangelho, Francisco acentua: «No encontro com a diversidade dos estrangeiros, dos migrantes, dos refugiados e no diálogo intercultural que daí pode brotar, é-nos dada a oportunidade de crescer como Igreja, enriquecer-nos mutuamente. Com efeito, todo o batizado, onde quer que se encontre, é membro de pleno direito da comunidade eclesial local e membro da única Igreja, habitante na única casa, componente da única família».

Como é que se pode passar das palavras aos atos? «Cada qual a partir da comunidade onde vive, a comprometer-se para que a Igreja se torne cada vez mais inclusiva, dando continuidade à missão que Jesus Cristo confiou aos apóstolos», o que significa «sair pelas estradas das periferias existenciais para cuidar de quem está ferido e procurar quem anda extraviado, sem preconceitos nem medo, sem proselitismo», nomeadamente «muitos migrantes e refugiados, deslocados e vítimas de tráfico humano, aos quais o Senhor deseja que seja manifestado o seu amor e anunciada a sua salvação».



É nas fronteiras físicas e existenciais que o “nós” de cada país e povo pode conseguir «o milagre de um “nós” cada vez maior», «que não faz distinção entre autóctones e estrangeiros, entre residentes e hóspedes»



Depois de sublinhar as oportunidades para o diálogo ecuménico e inter-religioso «sincero e enriquecedor» que decorrem do acolhimento a migrantes e refugiados Francisco apela a «todos os homens e mulheres» para se envolverem num desafio de sempre, mas talvez nunca tão premente como nestes tempos: «Recomporem a família humana, a fim de construirmos em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído».

«Para alcançar este ideal, devemos todos empenhar-nos por derrubar os muros que nos separam e construir pontes que favoreçam a cultura do encontro, cientes da profunda interconexão que existe entre nós. Nesta perspetiva, as migrações contemporâneas oferecem-nos a oportunidade de superar os nossos medos para nos deixarmos enriquecer pela diversidade do dom de cada um», reitera.

É nas fronteiras físicas e existenciais que o “nós” de cada país e povo pode conseguir «o milagre de um “nós” cada vez maior», «que não faz distinção entre autóctones e estrangeiros, entre residentes e hóspedes», e que se traduz num «desenvolvimento mais sustentável, equilibrado e inclusivo».

A mensagem termina com uma prece: «Pai santo e amado,/ o vosso Filho Jesus ensinou-nos/ que nos Céus se esparge uma grande alegria/ quando alguém que estava perdido/ é reencontrado,/ quando alguém que estava excluído, rejeitado ou descartado/ é reinserido no nosso nós,/ que assim se torna cada vez maior.// Pedimos-vos que concedais a todos os discípulos de Jesus/ e a todas as pessoas de boa vontade/ a graça de cumprirem a vossa vontade no mundo.// Abençoai todo o gesto de acolhimento e assistência/ que repõe a pessoa que estiver em exílio/ no nós da comunidade e da Igreja,/ para que a nossa terra possa tornar-se,/ tal como Vós a criastes,/ a Casa comum de todos os irmãos e irmãs. Ámen».


 

A partir de texto de Salvatore Cernuzio
In Vatican News
Trad./edição: Rui Jorge Martins
Imagem: Vatican News
Publicado em 07.10.2023

 

 

 
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