«Nenhum de nós viu a Deus. E, contudo, Ele fornece um horizonte e uma experiência de sentido à vida. Este paradoxo, constituindo uma fonte de esperança, não deixa de ser um espinho.»
É em torno do «silêncio de Deus», com o qual o crente é convocado para a «luta», que se tece a crónica semanal de D. José Tolentino Mendonça no jornal “Expresso”, que fala da crença como «um confronto, um entusiasmo árduo e inacabado».
«Esta é a condição peregrinante da fé. Buscamos a Deus sem o ver, escutamos a sua voz sem verdadeiramente o ouvir. Tateamos o seu rosto no vazio e no silêncio. E, contudo, esses lugares de ausência são espaços que misteriosamente insinuam uma presença», observa.
Depois de anotar que todo o ser humano é atravessado «pela possibilidade de Deus, pela sua interminável interrogação», o responsável pela biblioteca e arquivo da Santa Sé defende que os crentes «têm de ser humildes».
Com efeito, na «maior parte do tempo» o que é dado a experimentar é «o desencontro de Deus, o seu extenso silêncio», e é também por tudo isso que «a experiência crente não é uma experiência creditada».
«Ela vive unicamente assegurada por uma desmesurada confiança. Nesse sentido, a fé tem a forma de uma hipótese. Caminhamos às apalpadelas, como se víssemos o invisível», assinala.
A fé, acentua o arcebispo no texto intitulado «como se víssemos o invisível», expõe «desassombradamente» o ser humano «à contemplação, ao silêncio, às idas e vindas sem entender nada, ao fazer e ao refazer».
Todavia, «a dúvida e a dificuldade de crer não descaracterizam a fé. Pelo contrário, são um seu elemento fundamental. Mas lutando com Deus, também dançamos com Ele», conclui D. José Tolentino Mendonça.