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Teatro

Miserere: Um espectáculo heterodoxo que aponta para a única ortodoxia possível

No início, com o pano de ferro fechado, ouve-se o “Ave Verum Corpus”, de Mozart; no final, o “Miserere” por Pavarotti e Zucchero, ao vivo no Royal Albert Hall, em Londres.

Estes dois trechos musicais sinalizam um dos grandes vectores do espectáculo, a saber: o ideal de uma vida totalmente sublimada pela religião e uma existência em que a palavra religiosa é banalizada pelo contexto mercantil em que também nos movemos.

O “Auto” é este percurso, extremado numa visão centrada no sofrimento purificador. A Alma é mortificada e por isso a sua existência é essencialmente representada por uma presença física quase sem discurso, e Rita Blanco é, sob este aspecto, uma extraordinária presença de sofrimento redentor.

À sua volta existem os magníficos corpos e discursos do mundo, redentores ou culpabilizadores, cruéis ou magnânimos. Todos os actores são exemplares. Fora do palco, sentada ao órgão, está uma figura azul que homenageia Eric Ramos, o rapaz americano que, com a sua música, recolhida no YouTube, representa a fé, a inocência e a generosidade do homem como ser divino, inalterável e modesto face aos espinhos do chão, e companheiro do animal verde e misterioso que habita, contudo, o palco dos artistas e o mundo dos homens.

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Faz lembrar, também, as esculturas de George Segal, o artista norte-americano que nunca aderiu completamente à abstracção porque a representação concreta da figura humana lhe permitia estar do lado do mundo real e da vida, mistura de limitações, imperfeições, transcendência e procura de sentido.

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É exactamente o que faz este espectáculo, um dos melhores que Luís Miguel Cintra já encenou para a Cornucópia.

Para o encenador, a peça quer “apelar para uma revisão do cristianismo; provocar um fenómeno de rejeição e de choque em relação à ‘câmara de horrores’ que está em cena”.

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Na conversa que se seguiu ao ensaio geral, a 14 de Abril, Luís Miguel Cintra disse que “o público é desafiado a exercitar a capacidade de aceitação das incoerências da condição humana”.

“Sendo heterodoxa, esta representação aponta para a única ortodoxia possível, que é ligar a Paixão de Cristo à existência humana”, referiu por sua vez o P. José Tolentino Mendonça.

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Texto: João Carneiro / SNPC
In Expresso (Actual), 24.4.2010
Fotografia: rm
25.04.10

Cartaz

 

 

 

 

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