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Arte e espiritualidade

Luís Miguel Cintra e o gosto pelo Sermão de Quarta-feira de Cinzas

Luís Miguel Cintra interpretou o Sermão de Quarta-Feira de Cinzas, do P. António Vieira, na sessão que assinalou o terceiro ano de D. Manuel Clemente como bispo do Porto. Entrevista ao semanário Voz Portucalense.

Como surgiu esta "paixão" pelo P. António Vieira e pela declamação dos seus Sermões?
Já vem de longe, quando uma óptima professora do liceu mo deu a ler. Tive a sorte de ter óptimos professores antes de entrar para a faculdade. Depois, quando Manoel de Oliveira me convidou para ler alguns trechos para o seu filme Lisboa Cultural na igreja de S. Roque em Lisboa onde o Padre Vieira pregou tantas vezes, o gosto de o dizer nunca mais desapareceu. Apaixonam-me como textos escritos para serem ditos (ainda que, ao que parece, ele improvisasse os sermões e só depois os escrevesse) e mais teatrais que qualquer peça de teatro, tipicamente barrocos na sua espectacularidade. E sou particularmente sensível à enérgica postura moral que os atravessa onde as fronteiras entre a religião e a política não existem, as duas coisas coincidem. Quando Manoel de Oliveira me convidou para interpretar a figura de Vieira no seu filme Palavra e Utopia, tive uma enorme alegria. Só tenho pena de não me ter cabido representar a cena da morte do Padre, uma dessas cenas inesquecíveis da obra desse cineasta exemplar.

Neste Sermão de Quarta-feira de Cinzas o que destaca de clamor mais actual e fundamental?
O que mais actual me parece, ou por outra, mais pertinente para a nossa época, é a chamada de atenção, através da consciência da morte, para como a acumulação de riquezas e as desigualdades sociais são absurdas. A nossa época, infelizmente, parece dominada pela sociedade de mercado, esquecida da dimensão espiritual do homem. E sem qualquer visão mais digna do ser humano que aquela que o torna em consumidor de produtos.

Tem “pregado” em muitos púlpitos e para muita gente?

Onde para mim foi perfeita a sensação de pregar do púlpito foi na Igreja do Colégio dos Jesuítas do Funchal. Que Igreja linda!!! Acalento o desejo de um dia me ser permitido usar um dos dois magníficos púlpitos da Igreja de S. Francisco, na Ribeira do Porto. É um cenário perfeito. E apesar de ser uma igreja grande tem o chão em madeira, o que evita grande parte da reverberação que nas igrejas altas é um problema. Espantoso como a arte oratória do Padre António Vieira é capaz ainda de prender o público da nossa época.

Entende que se este jesuíta vivesse neste tempo faria esse Sermão tal e qual? Porquê?
Tento interpretar o texto como imagino que ele o faria. Um actor tem de fazer sempre esse trabalho da imaginação. Mas nunca saberei se o estou a fazer bem. Tento muito conservar a mesma seriedade e empenho no tema de que se fala que ele com certeza teria. O perigo é cair na mera articulação sintáctica das ideias, esquecendo-me do que ele diz. Como discurso religioso é naturalmente datado. A Igreja já não fala do Inferno assim. A humanidade vai evoluindo e a Igreja, que não é divina, apesar de no Credo se lhe chamar “santa”, vai evoluindo também. Apesar de tudo, a ideia principal é: “Lembra-te ó Homem, que és pó e que ao pó hás-de voltar. “ Não é coisa pouca. Nunca imagino o Vieira, por mais retórico que seja, como alguém que ali esteja a fazer demagogia.

FotoIgreja do Colégio, Funchal

 

In Voz Portucalense
11.04.10

Foto
Luís Miguel Cintra





























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