Exposição
"Escavação", de Ana Oliveira Martins
'Numa ânsia de ter alguma coisa, divago por mim mesmo a procurar.' (Mário de Sá-Carneiro, 'Escavação', 1913)
Exploro o interior infinito do eu através de pinturas, desenhos e instalações. Temas de presença e de ausência em relação ao eu e ao corpo, o espaço entre o objeto e o espetador, estão implícitos através da cor, da forma tridimensional e da tactilidade da superfície.
‘Há algo que continua profundamente encarcerado dentro de mim.’ (Etty Hillesum, ‘Diary, 1941-1943’)
Ao citar Etty Hillesum (1914-1943) tento mostrar a importância da construção do mundo interior na atividade criadora. A frase clarificou o tema do meu trabalho: Vida dentro do sujeito criador = Vida dentro do objeto de criação, numa tentativa de ligar: a forma à vida; o universal ao individual; a geometria ao gesto e ao imprevisível; a matéria ao espírito.
Etty, no seu ‘Diário, 1941-1943’, descreve o seu eu encarcerado e a sua vontade, sempre difícil, de ser escritora. Dos espaços encarcerados que a rodeiam é possível ver o céu. E aqui descubro a ânsia de Mário de Sá-Carneiro, a divagação que procura.
No trabalho que desenvolvo há espaços fechados que são vistos por fora sendo escuros e vazios por dentro. E assim se estabelece o paralelo entre o eu que quer criar e não consegue e os espaços que apesar de terem ligações ao exterior são inacessíveis.
Os objetos criados vão-se tornando variações uns dos outros e tornam-se motivo de desenvolvimento contínuo. “Escavação” é essa procura de alguma coisa por dizer. É uma procura por um eu que não se encontra.
“Escavação”, de Ana Oliveira Martins (1980), estará até 28 de outubro no Centro Nacional de Cultura, Galeria Fernando Pessoa (Lg. do Picadeiro, 10, 1.º, ao Chiado, em Lisboa).
Ana Oliveira Martins
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20.10.10