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Teatro

Dança da Morte

“Dança da Morte” é um espetáculo bilingue que resulta da parceria entre o Teatro da Cornucópia e a companhia espanhola Nao d’Amores.

Nesta encenação, atores (destacando-se Luís Miguel Cintra), títeres e músicos confrontam o apagamento contemporâneo da morte com esta sua dramatização arcaica, tão satírica quanto esperançosa.

As Danças da Morte são um tema de enorme extensão, e que atravessa vários territórios literários, participando em inúmeras manifestações artísticas que integram o teatro, a música, a dança, o folclore e outros fenómenos artísticos e sociais. Apesar de ainda hoje haver poucas certezas quanto à sua origem e desenvolvimento, pode dizer-se que chegou a invadir todo o fim da Idade Média na Europa, e foi um exemplo de transmissão cultural sem precedentes, saltando de país em país, estabelecendo relações e influências entre artistas, poetas e criadores.

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As duas companhias teatrais partem de textos espanhóis e portugueses dos séculos XV e XVI. Trata-se de uma montagem que integra o trabalho de ator, o teatro de marionetas e a interpretação musical ao vivo com réplicas de instrumentos da época, para recriar um género dramático que foi motivo favorito de uma sociedade que chegava ao fim da sua existência e que nele plasmou a sua mensagem de sátira e de esperança.

 

Referências históricas

A Dança da Morte é uma sequência de texto e imagens presidida pela Morte - geralmente representada por um esqueleto, um cadáver ou um corpo vivo em decomposição – e que, numa atitude de dança, dialoga e arrasta um conjunto de personagens representativos das classes sociais.

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O tema da morte, inevitável, que a todos atinge, independentemente da sua condição social, poder, força, conhecimento, sexo, idade ou méritos, é uma ideia amplamente expressa a partir do século XII. No entanto, a Dança Macabra como género literário, coreográfico e dramático, nasce provavelmente em resposta à epidemia que assolou a Europa desde 1347: a peste pneumónica ou bubónica que todos levava, fosse qual fosse o seu estatuto, condição ou idade. Estende-se por toda a Europa, principalmente nas terras com porto, sendo os mares e os rios a via de contágio, morrendo um terço da população em dois anos.

A partir de 1380 a iconografia atinge uma dimensão até então nunca alcançada e a arte da morte transforma-se profundamente: aparecem a desolação, os vermes, a nudez do cadáver, o aspeto torturado, o apodrecimento da carne, numa complacência mórbida desconhecida à tradição cristã.

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Durante toda a Idade Média a luta da Igreja contra a superstição é constante, sendo o culto em torno dos mortos um dos mais enraizados.

Ao longo do século XV e parte do século seguinte, as composições macabras foram eco de uma sensibilidade sem preconceitos, franca e autêntica, que seria enterrada pela Contra-Reforma com o desaparecimento e a transformação desta modalidade plástico-coreografica. Voltam-se as costas à grande experiência espiritual que havia dado origem à Dança Macabra e às suas diversas incarnações iconográficas e formas modernas de piedade e devoção; embora fortemente ancoradas no sentido da morte, desterraram a ironia e humor, que tiveram de se submeter interpretação ditada pelo clero. Assim, fora do âmbito popular, a produção de danças macabras praticamente acabou.

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A música

A obra musical mais antiga que a Companhia conserva sobre o tema da morte - Ad mortem Festinamus ­ está contida no Llibre Vermellde Montserrat, uma coleção de dez danças que os monges do mosteiro utilizavam seguramente para uso dos peregrinos.

No final do século XV, esta melodia foi copiada num fresco do Mosteiro de São Francisco em Morella, aparecendo também em dois manuscritos alemães do início do século XV constituindo uma primeira versão oficial europeia do que virá a ser nos séculos seguintes a popular Dança da Morte.

A produção do espetáculo trabalhou músicas que vão desde o Llibre Vermell à Veneza do século XVII, com os matachines convertidos em personagens da Commedia dell'Arte, uma tradição que se estende à cena barroca espanhola. Foram ouvidas canções populares, ritmos de danças que ainda existem, danças de crianças mortas, e estudadas relações entre matachines, morescas e danças de bobos.

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As dançarinas e o salmista da entrada iniciam a cerimónia entoando a Antífona e Salmo 114, com que começam as Vésperas do Ofício de Defuntos: “Placebo Domino in regione vivorum”. As carpideiras, contratadas para chorar os mortos, eram precisamente chamadas Placebos (e este termo passou mais tarde à terminologia médica, para denominar o efeito de fingimento).

As nossas Placebos dançam sobre um ritmo similar à popular dança de espadas da Cantábria e norte da península. O fio condutor dos personagens eclesiásticos provém do cantochão do Ofício e da “Missa pro Defunctis”, a qual se juntaram citações polifónicas de Antoine Brumel (o primeiro “Dies Irae” em polifonia conservado e a “Communio”, da sua Missa de Requiem), Ockeghem (“Introito Missa pro Defunctis”), Josquin Desprez (“De profundis”), e Cristóbal de Morales (“Invitatório del Ofício de Maitines de Difuntos”).

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O português Pedro de Escobar e um anónimo do Cancioneiro de Elvas integram também esta citação hispano-portuguesa, em que a Danza de la Muerte se combina com textos das Barcas de Gil Vicente, que por sua vez proporciona dois vilancetes castelhanos citados diretamente na Barca da Glória.

A peça pode ser vista no Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, até 17 de outubro. O espetáculo começa às 21h30, exceto ao domingo, dia em que o início está marcado para as 17h00.

 

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Teatro da Cornucópia
04.10.10

Cartaz

 

 

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