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Estados Unidos da América

A fé, os valores e os objectivos sociais de Barack Obama

A quatro dias da tomada de posse do novo presidente dos Estados Unidos da América, publicamos excertos da entrevista que Barack Obama concedeu, ainda como candidato, ao «Catholic Digest». A tradução francesa, a partir da qual baseámos este artigo, foi feita pelo «Pèlerin».

 

Que papel deve desempenhar na política a fé de um candidato à eleição presidencial, se é que ela deve ter alguma importância?

Não acho que se possa separar a vida espiritual do resto da vida da pessoa. A minha fé cristã tem influência sobre tudo o que faço. Ela ajudou-me a formar os meus valores e as minhas ideias, e não penso que o presidente se deva abster de aplicar no seu trabalho os princípios que são importantes para ele ou para ela. É escusado dizer que a minha vida de oração é muito importante para mim. Ela torna-me mais forte e guia-me ao longo do dia.

O que um presidente não pode fazer numa democracia parlamentar é impor as suas crenças religiosas à custa de outras. Somos um país onde coabitam diferentes religiões e diferentes pontos de vista, e quando se está na esfera pública é importante saber exprimir a sua fé numa língua que seja universal.

 

Qual foi, mais precisamente, o impacto da fé no seu trabalho no Senado?

Como referi, a oração é importante para mim. Muitas vezes ela leva a concentrar-me nos meus valores e nas coisas pelas quais desejo bater-me, mesmo nos momentos difíceis. Penso que quando se está na vida pública há necessidade de uma ética que procure o equilíbrio entre exigências e interesses diferentes.

 

Pode dar-nos um exemplo de uma decisão em que a fé teve um peso importante?

Posso dar-lhe o exemplo de um princípio que conta muito para mim: a empatia, que se exprime no mandamento «Amarás o teu próximo como a ti mesmo» e em numerosos preceitos da Bíblia. Quando perspectivo um problema complexo, uma das primeiras perguntas que me coloco é: «a que é que o mundo se assemelha quando é visto por outra pessoa?» Como será estar na pele de um operário que passa por tremendas dificuldades para sobreviver ou de uma pessoa idosa que não consegue aceder aos medicamentos de que necessita? Fazer isto orienta-nos e leva-nos à humildade. Faz ter a consciência de que não se têm as respostas todas. E que importa sair das suas perspectivas e dos seus interesses imediatos para tomar decisões que sejam boas para muitos e não apenas para alguns.

(...)

Como é que sua experiência pessoal, ou a dos seus próximos, influenciou a sua visão política no que se refere à saúde, à pobreza ou à imigração?

Eu hoje estou onde estou porque o sonho americano se realizou na minha família, porque o meu avô teve a oportunidade de ir à escola graças à ajuda dos antigos combatentes, e de comprar uma casa graças à Autoridade Federal da Habitação.

A minha mãe morreu com um cancro nos ovários quando tinha 53 anos. E sabe como é que ela passava o tempo durante os últimos dias de vida? Ela não pensava na maneira de aceitar a sua própria morte. Ela passava o tempo a pensar se a sua companhia de seguros iria pagar as despesas médicas, dado que adoeceu na altura em que começava um novo trabalho, e eles começaram a dizer que provavelmente essa enfermidade tinha sido contraída anteriormente.Por isso eu sei o que é ver sofrer alguém que se ama por causa de um sistema de saúde deficiente. É injusto. Não corresponde ao que somos. Iremos encontrar uma solução para este problema quando eu for presidente.

No que respeita à imigração, a América não tem nada a temer daqueles que chegam pela primeira vez. Eles vêm para aqui pela mesma razão que o meu pai veio do Quénia, há muito tempo, na esperança que aqui, nos Estados Unidos, poderia ter sucesso, se tentasse. Por último, a melhoria do destino das famílias desfavorecidas faz parte do meu compromisso desde que estou no serviço público. Instalei-me no bairro South Side, em Chicago, apenas dois anos após ter saído da universidade. Fui recrutado por um grupo de igrejas que tentavam fazer face ao encerramento das fábricas, que devastou os bairros da zona. Estou determinado a salvaguardar o sonho americano para as gerações futuras.

 

Qual é, na sua opinião, o principal desafio que as famílias americanas devem enfrentar?

De entre todas as pedras sobre as quais construímos as nossas vidas, além de Deus, a família é a mais importante. Mas alguma coisa está a enfraquecer este alicerce: se formos honestos devemos admitir que há demasiados pais que faltam em demasiadas vidas. Os pais devem estar presentes tanto física como emocionalmente e devem ser responsáveis pelos valores transmitidos aos seus filhos. (...) Devemos promover as políticas que reforcem as famílias.

 

Quais são as razões essenciais para que os católicos americanos votem em si?

Eu comecei o meu trabalho na área social colaborando principalmente com paróquias católicas dos bairros do sul de Chicago, que se esforçavam por encontrar respostas para o encerramento das metalurgias, (...) pelo que desde cedo fui alimentado pelos valores da justiça social, que são muito fortes na Igreja. Esforcei-me por colocar em prática no meu trabalho os princípios da compaixão e da atenção aos mais vulneráveis, que estão no coração do ensinamento da Igreja Católica.

Apresentei, como eleito no Senado do Estado do Illinois, a «Emenda Bernardin», em referência ao Cardeal Bernardin, uma grande figura de Chicago com a qual tive o privilégio de colaborar, que determinava que os cuidados de saúde são um direito. No Senado trabalhei em assuntos como a reforma da política de imigração, que juntava o princípio do Estado de direito com a noção de fraternidade dos filhos de Deus, que são chamados a abrir o seu coração aos mais desfavorecidos.

 
Os Estados Unidos são um país onde os interesses particulares são poderosos. Mas também há um forte empenho católico em favor da justiça social, que a Constituição americana defende para o bem comum. Como é que o seu governo procurará assegurar a promoção do bem comum?

A melhor educação que recebi veio do trabalho com as pessoas comuns. Quando trabalhei como animador de comunidades, com paróquias e outras instituições religiosas, no bairro de South Side, mudámo-lo rua a rua criando programas de formação profissional e actividades para depois das aulas. Fui testemunha da contribuição extraordinária das organizações religiosas no que diz respeito à ajuda às pessoas.

É por isso que, quando for presidente, convocarei uma série de parceiros para se juntarem neste trabalho de ajuda à construção do bem comum. (...) Os problemas que enfrentamos são demasiadamente vastos para uma só entidade. Precisamos de todas as mãos disponíveis.

in Pèlerin

© SNPC (trad.) | 16.01.2009

 

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Barack Obama
Foto: Mike Segar



































































































































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