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Evocação

S. Teotónio ontem e hoje

A Igreja Católica assinala a 18 de fevereiro a morte de S. Teotónio (1162), considerado o primeiro santo português, nascido provavelmente em Ganfei, Valença do Minho, na diocese de Viana do Castelo, cerca do ano 1082.

Quando D. Crescónio, seu tio, foi nomeado bispo de Coimbra, levou-o consigo para esta cidade e confiou ao arcediago D. Telo a sua formação nas disciplinas eclesiásticas. Depois de ordenado sacerdote, foi nomeado prior da igreja da Sé de Viseu.

Fez duas peregrinações à Terra Santa. No regresso da segunda, insistentemente convidado por D. Telo e outros dez homens de grande virtude, fundou com eles o mosteiro da Santa Cruz em Coimbra, de que foi primeiro prior, membro eminente e muito admirado, nomeadamente por S. Bernardo de Claraval. Renunciou ao cargo nos últimos anos de vida para se dedicar à vida contemplativa.

Teotónio assumiu especial protagonismo nos alvores da nacionalidade, como conselheiro de D. Afonso Henriques, que não se coibiu de admoestar, nomeadamente quando os moçárabes (cristãos que viviam sob o domínio árabe) da região de Lisboa foram reduzidos à escravidão pelo primeiro rei português.

O padre minhoto interpelou duramente D. Afonso Henriques e os seus homens por terem arrastado consigo para Coimbra, como cativos e escravos, mais de um milhar de moçárabes. O prior obrigou o rei a conceder-lhes a liberdade e ofereceu-lhes pousada nas dependências do mosteiro.

Teotónio viria a participar no processo político-religioso que levaria ao reconhecimento da independência do reino de Portugal pelo Papa Alexandre III, em 1179.

A iconografia atribui-lhe a mitra e o báculo, não pelo episcopado, que recusou apesar de insistentemente convidado para bispo de Viseu, mas pela missão de abade.

 

Foi tão profunda a sua humildade, que parecia querer passar pelo mais esquecido de todos e o último dos servos de Deus

«Desde que foi ordenado sacerdote, Teotónio deu mostras evidentes de grande progresso no caminho da perfeição e santidade. A sua vida era para todo o povo de Deus um admirável exemplo de virtude.

Desempenhava com exímia perfeição as obrigações da sua ordem [sacerdotal]: instruía na fé as gentes rudes e incorporava-as na Igreja pelo batismo; chamava os pecadores à penitência e, curando-os com a medicina das suas orações e palavras de encorajamento, absolvia-os e reconciliava-os com a Igreja; como bom mediador entre Deus e os homens, a todos ensinava os preceitos divinos e pregava a verdade, apresentava ao Senhor as preces dos fiéis e intercedia diante de Deus pelos pecados do povo, oferecia no altar o sacrifício de expiação, recitava as orações e abençoava os dons de Deus.

Na igreja comportava-se sempre com santa reverência e temor de Deus, e cumpria as funções sagradas com toda a perfeição.

Desprezava a sumptuosidade e as enganadoras seduções do mundo; não se envaidecia com os louvores, nem se exaltava com a riqueza, nem se amargurava com a pobreza.

Há quem o louve pela sua renúncia total às curiosidades, divertimentos, ostentações e coisas semelhantes; eu, porém, considero não menos digna de louvor a sua perfeição na virtude da castidade, comprovada pela circunspeção e prudência em todas as suas ações.

Com a ajuda do Senhor, passarei agora a contar como Teotónio veio a tomar o hábito de Cristo e como viveu na Religião sob a regra de Santo Agostinho. Desde a sua entrada na Religião, ele sobressaía notavelmente entre os demais pela santidade de costumes, extraordinária abstinência e assídua oração. Continuamente dirigia a Deus as suas preces; e, quando deixava de rezar, lançava mão da leitura sagrada, aplicando-se principalmente à Salmodia. Com efeito, além das Horas Canónicas e todo o Ofício Divino, em que se empenhava fielmente com santa reverência e temor de Deus, rezava cada dia todo o Saltério.

O tempo que lhe restava era para se ocupar em exercícios de boas obras ou em diversos serviços do mosteiro.

Longe de transigir com qualquer atrativo de vícios ou vaidades mundanas, era sua constante predileção o recolhimento, a mansidão, o silêncio e a paz. Finalmente – coisa rara no nosso tempo – foi tão profunda a sua humildade, que parecia querer passar pelo mais esquecido de todos e o último dos servos de Deus.»

Da Vida de São Teotónio, escrita por um autor contemporâneo, seu discípulo

 

Que ele nos ajude a libertar-nos do individualismo contrário à comunhão fraterna própria dos cristãos

«S. Teotónio não foi apenas o primeiro santo português a ser canonizado depois da fundação da nossa Pátria. Ele foi também um dos conselheiros mais preciosos do nosso rei fundador, na conquista do território e na organização da sua população como nação.

Contribuiu sobretudo, designadamente com a fundação e direção do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, para aquela dimensão espiritual e cristã que se manifestou determinante para a formação de uma consistente consciência nacional.

Que ele nos ajude a libertar-nos do individualismo contrário à comunhão fraterna própria dos cristãos e a despertarmos para o mesmo sentido de cidadania de que ele foi exemplo e hoje é imprescindível para ultrapassarmos os tempos um tanto conturbados e carenciados de esperança por que estamos a passar.

E que ele nos ajude a concretizar a nossa comunhão e solidariedade cristã como ele procurou fazer, sobretudo enquanto responsável máximo pela comunidade de Santa Cruz de Coimbra: abrindo o coração e estendendo as mãos aos mais carenciados de bens materiais e espirituais.»

D. Anacleto Oliveira, bispo de Viana do Castelo
Nota Pastoral sobre a celebração dos 850 anos da morte de S. Teotónio, 22.1.2012

Foto Valença

 

Vivência da pobreza e prática do amor preferencial pelos pobres

«(...) S. Teotónio é exemplo inspirador em vários aspetos, tais como:

- Humildade. É proverbial a forma como o Prior da Sé de Viseu rejeitou títulos, honrarias e distinções. Constitui verdadeira referência para quem – como nós, cristãos – somos chamados à corresponsabilidade numa Igreja que deve privilegiar a comunhão e, portanto, os outros, numa fraternidade cristã e evangélica. Numa época em que não estava bem desenvolvida a conceção da autoridade como serviço, ele prefere servir…

- Amor à oração. Em S. Teotónio era muito forte o ideal da vida contemplativa. Inseriam-se aqui as peregrinações à Terra Santa e a procura do silêncio, que o levou à fundação e à orientação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

- Vivência da pobreza e prática do amor preferencial pelos pobres. Participava em gestos de solidariedade todas as Sextas-feiras, distribuindo esmolas aos pobres junto da Igreja de S. Miguel, depois de ali celebrar e rezar pelos defuntos.

S. Teotónio trabalhou e viveu como modelo de santidade, zelando a ortodoxia da fé, mas sempre acolhedor e eficaz na ajuda a quantos a ele recorriam.»

Mensagem do bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, à diocese, à cidade de Viseu e seu hospital
14.2.2012

ImagemS. Teotónio celebrando diante de D. Afonso Henriques (Simão Álvares?, séc. XVIII, Museu de Alberto Sampaio)

 

© SNPC | 17.02.12 | Atualizado em 17.02.13

Imagem
S. Teotónio
Pedro Alexandrino de Carvalho
Séc. XVIII
Museu Nacional de Machado de Castro




























São Teotónio



































São Teotónio

 

 

 

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