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Música

"Vento": Missa de Pentecostes de João Madureira vai ser apresentada a 25 de novembro

O CD “Vento”, interpretado pelos “Sete Lágrimas”, que corresponde a uma Missa de Pentecostes encomendada pela Capela do Rato, em Lisboa, vai ser apresentado a 25 de novembro.

A sessão conta com a presença de D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e vogal da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, Manuel Pedro Ferreira (musicólogo), Cristiana Vasconcelos Rodrigues (professora da Universidade Aberta), Filipe Faria e Sérgio Peixoto (Sete Lágrimas) e João Madureira, compositor da missa.

As 10 músicas do disco, executadas pela primeira vez a 23 de maio de 2010 na Capela do Rato – que vai receber a sessão de lançamento – foram compostas a partir de textos litúrgicos e poemas de Teixeira de Pascoaes, Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário Cesariny, Maria Gabriela Llansol e José Augusto Mourão.

O livro que acompanha o CD inclui textos de José Tolentino Mendonça, Alberto Vaz da Silva, Cristiana Vasconcelos Rodrigues, Joana Carneiro e João Madureira

 

Sobre as imagens do Pentecostes
José Tolentino Mendonça

A imagem mais frequente nos textos do Novo Testamento, para descrever a manifestação do Espírito, é a efusão. É interessante enumerar alguns dos sintagmas verbais que descrevem plasticamente essa acção: "o Espírito é enviado" (Jo 14,26; 15,26), "o Espírito derrama-se" (Act 2,17.18.33), "o Espírito Santo cai sobre" (Act 10,44; 11,15), "fica-se cheio do Espírito Santo" (Lc 1,15.41.67; Act 2,4; 4,8.31; 9,17; 13,9).

É uma imagética forte que apela à interiorização de uma presença, à maneira de um dinamismo fusional. Os contornos da singularidade são como que ultrapassados, instaurando-se uma coincidência entre o sujeito que crê e aquilo que o sujeito crê.

Mas há uma outra imagem, que irrompe numa passagem do Evangelho de São João: «O espírito sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai» (Jo 3,8). Contrariamente à experiência fusional, tão impressiva na imagem da efusão, somos agora como que impelidos, pelo imprevisível que caracteriza o Espírito, a uma experiência de diferenciação. O Espírito está aqui, e ali, mas está sempre além. Ele não se instala. Não se derrama. Não é uma posse. Se o recebemos, é ainda para que a indagação e a busca continuem. A experiência de diferenciação é uma iniciação à liberdade, que Deus não atropela, mas potencia. O Espírito é discreto, pois não se sobrepõe à dramática da nossa invenção permanente, nem suspende a indagação, os dilemas e os encontros da nossa consciência, mas dialoga com eles, iluminando-os e ampliando-os incessantemente.

Na criação de João Madureira para o Domingo de Pentecostes, estas duas imagens são claramente trabalhadas. Daí a combinação intensíssima de intimidade e exterioridade, de consonância e diversificação, de plenitude e de desejo que o texto musical exala.

 

A escrita do Pentecostes
Alberto Vaz da Silva

Tudo está nos "Actos dos Apóstolos" que é preciso rever incessantemente e espero reviver um dia. "Fizeste-me conhecer os caminhos da vida / encher-me-ás de alegria na tua presença", confia-nos o rei David. Venha a nós o Vosso Reino. Venha a nós o Vosso Tempo.

No princípio eram as imagens, os gestos, a linguagem, as vozes e os sons. Maria Madalena, a outra Maria, João e Pedro chegam ao sepulcro ao branquear da aurora. O sudário está dobrado aparte, os panejamentos jazem pelo chão. Os Anjos refulgentes consolam, o jardineiro diz Maria. No areópago de Atenas a voz potente de Paulo (os belos Caravaggio de Sta. Maria dei Popolo e da colecção Odescalchi ressumam ainda a verdade do momento da sua conversão) invoca não o deus desconhecido mas O que a todos dá "a vida, o sopro e todas as coisas", para que o homem nas trevas procure a divindade "que lhe dá a vida, o movimento e o ser".

Estêvão lapidado transforma-se num Anjo à luz da pérola no seu coração. Só depois foi a palavra escrita destinada a saturar o universo de afirmações portentosas. Por isso não suprime as imagens, nem os gestos, nem os sons que se mantêm vivos e pesam tanto, não se converte em símbolo abstracto, difunde-se em acção sagrada, geometrias inconscientes entre Deus e os homens.

É a escrita do desejo recíproco, Jesus presente e ausente para que a metamorfose se dê e a humanidade saia estruturada, confiante, revivescida, libertada. É como um raio que reúne o percurso dos milénios e os transforma num momento único antes do novo caminho. O que convola a fronteira da vida terrena na beleza irradiante do Cosmos.

 

Sobre os textos cantados
Cristiana Vasconcelos Rodrigues

A ideia de uma comunidade que se alarga infinitamente em volta de um só Espírito, do entendimento absoluto e transversal a toda a maravilhosa diversidade do mundo, teve eco na missa celebrada na Capela do Rato em 23 de maio de 2010, que congregou várias vozes poéticas na música cantada.

Os cinco textos poéticos congregados nesta missa, que ganham em sentido e em gesto de oração quando cantados a par do Kyrie, do Gloria, do Alleluia, do Sanctus e do Agnus Dei, não perdem por isso a diversidade do mundo que trazem consigo, pelas paisagens que descrevem, pelos afectos que exprimem, pelo infinito que projectam, e sobretudo pela medida do humano que experimentam, conferindo, reciprocamente, à festa do Pentecostes uma riqueza acrescida, sediada no mais caro dom humano que é a fala.

Antes de mais, a paisagem e os seus lugares: o céu, o mar, a noite, a luz e o amanhecer, o jardim, o vento, a estrada; a face visível do mundo. Depois, a medida do infinito, feito de "torvelinho cósmico e profundo" (Pascoaes), de "luz cinzenta que borda o mar" (Mourão), de "fulgor" (Llansol), de "límpido esplendor" (Sophia), de "começo" (Cesariny, cit. adaptada). Um infinito feito da imanência que atravessa todos estes textos. Finalmente, na sua diversidade temática e gestual, estes cinco textos trazem consigo a voz que tanto são quanto buscam, a voz que caminha, incansável, na sua vocação de encontro e comunhão.

 

Nada mais que as mãos
Joana Carneiro

Algumas das mais belas peças da nossa história da música sacra nasceram de encomendas de capelas, de principados, para marcar dias e festejos específicos.

Em Maio deste ano, a história repetiu-se pela mão e alma do PadreTolentino, na capela do Rato; subsequentemente pela mão e alma de João Madureira, compositor que conhecia de outros contextos; mão e alma dos brilhantes músicos que animaram a sua música; nada mais que as mãos - como Alice Vieira nos lembra - que nos dão a conhecer o amor dos homens.

Tanto poderia dizer sobre a profunda dimensão musical e a forma brilhante e inspirada como João Madureira pintou e significou cada palavra... a missa que João escreveu é simplesmente sublime, comovedora, uma verdadeira oração que alegrou e sobressaltou o nosso espírito, que para sorte nossa, é agora perpetuada e revisitada neste disco.

Tenho a sorte de poder dizer que a minha vida espiritual tem sido uma sucessão de momentos especiais e inesquecíveis. A festa de Pentecostes este ano foi certamente um destes momentos.

Muito obrigada querido João, muito, obrigada querido Padre Tolentino.

 

Sobre a missa de Pentecostes
João Madureira

Revisitar o património musical religioso, confrontando-o com outros lugares culturais e vivenciais... Nesse momento de festa da linguagem que é a missa de Pentecostes, convivem, várias e plurais, músicas diversas: integra-se a tradição gregoriana do ordinário da missa num espaço mais vasto, em que testemunhos de diferentes escritores se abraçam. Testemunhos de vários homens e épocas, visitando este tempo que é o nosso, num novo encontro com os maravilhosos Sete Lágrimas.

Dedico este meu trabalho a José Tolentino de Mendonça e ao seu enorme desassombro.

 

Missa de Pentecostes

1. Antiphona Ad Introitum
“O vento do espírito” (Teixeira de Pascoaes, 1877-1952) (2’28)

2. Actus Paenitentialis
(2’50)

3. Gloria
(3’05)

4. Sequentia
"Veni Sancte Spiritus" (José Augusto Mourão, n. 1947) (2’25)

5. Alleluia
(2’13)

Capa

6. Antiphona Ad Offertorium
"______pega nos fios..." (Maria Gabriela Llansol, 1931-2008) (2’04)

7. Sanctus
(0’52)

8. Agnus Dei
(2’35)

9. Postcommunio
"As fontes" (Sophia de Mello Breyner Andresen, 1919-2004) (4’00)

10. Dimissio
“Ama como a estrada começa” (Mário Cesariny, 1923-2006) (3’33)

 

 

"As fontes" (Sophia de Mello Breyner Andresen / João Madureira)

This text will be replaced
 

 

Sete Lágrimas

Os “Sete Lágrimas” têm direção artística dos tenores Filipe Faria e Sérgio Peixoto. Sofia Diniz (viola da gamba) e Hugo Sanches (tiorba) completam o agrupamento.

 

In Vento, Sete Lágrimas
© SNPC | Atualizado em 23.11.10

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