Cinema
O miúdo da bicicleta
Graças à profícua distribuição em Portugal da obra de Jean-Piérre e Luc Dardenne, é hoje conhecida a sua preocupação com as temáticas sociais. Dentro destas, são valores como a justiça, o perdão e a reconciliação os que vemos muitas vezes destacados nos seus filmes.
De fato, desde o documentário “O canto do Rouxinol”, gizado em torno da resistência ao nazismo na Bélgica, a vários filmes de ficção focando a suscetibilidade dos universos infantil e adolescente, o pensamento e o olhar dos irmãos belgas tem recaído maioritariamente sobre os mais frágeis e desafortunados. Explorando caminhos orientados para a esperança, neles se ultrapassam obstáculos, situações limite aparentemente intransponíveis.
“O Miúdo da Bicicleta” segue essa linha.
Orfão de mãe, Cyril não aceita a rejeição do pai com quem vivia até há pouco tempo. Na primeira oportunidade escapa da casa de acolhimento e vai direito ao prédio onde moravam para procurar o pai e a sua bicicleta.
Sabe então que o pai se mudou sem o avisar e vendeu a muito querida bicicleta. Incapaz de suportar a ideia de abandono, Cyril não desiste da busca.
É então que conhece Samantha, uma mulher modesta que o acolhe e ajuda. Os laços entre ambos estreitam-se mas Cyril é ainda um miúdo demasiado frágil e magoado para perceber que é de força interior e não física que precisa e que aquela depende mais dum amor maternal do que de qualquer ato de presumível coragem e masculinidade.
Sob uma composição cinematográfica sensível que dá prioridade à simplicidade e naturalidade técnica, artística e narrativa, Dardenne e Dardenne tocam-nos fundo com esta história de dor, amor, perdão e reconciliação.
Um verdadeiro caminho de advento percorrido pelo pequeno Cyril e por todos nós que evocamos o poder redentor do amor e reconhecemos a agressividade como resultado da ausência de afeto, proporcional ao grau de insegurança e vulnerabilidade em que se vive.
Grande Prémio do Júri de Cannes e Melhor Argumento pelos Prémios de Cinema Europeu, o filme estreia a 23 de dezembro.
Margarida Ataíde
Grupo de Cinema do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
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20.12.11