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Investigação multidisciplinar analisa "Identidades religiosas em Portugal"

O estudo "Identidades religiosas em Portugal. Ensaio interdisciplinar", de Alfredo Teixeira (org.), vai ser apresentado esta quinta-feira, 20 de dezembro, em Lisboa, pelo diretor do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (UCP), António Matos Ferreira.

O lançamento do volume editado pelas Paulinas e que conta com contributos de Luís Aguiar Santo, Rita Mendonça Leite e Teresa Líbano Monteiro, realiza-se às 18h30 no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa (Rua da Palma, 256).

A sessão resulta da parceria entre a autarquia e o Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP, dirigido até ao final do ano letivo de 2011/12 por Alfredo Teixeira e agora presidido pelo padre José Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Adiantamos excertos da introdução e do epílogo do volume.

«As ciências sociais da religião mostraram, ao longo das últimas duas décadas, que a religião continua na agenda social, não deixando de estar presente na construção do espaço público, segundo modalidades diversas, no contexto das múltiplas modernidades. Esta nova atenção pública facilitou a proliferação dos discursos acerca do “regresso” da religião, como antes se propagaram os vaticínios acerca da sua obsolescência. (…)

Dir-se-ia que o êxtase perante as duas narrativas da modernidade, a do “fim da religião” e a do seu “regresso”, distanciou o olhar do religioso “a fazer-se”. Talvez seja essa distância que explica o espanto dos que hoje acordam para a diversidade das recomposições da religiosidade contemporânea.» (...)

«Inserido num projeto mais vasto sobre a morfologia do campo religioso em Portugal, patrocinado pela Comissão da Liberdade Religiosa, o presente ensaio sobre as identidades religiosas em Portugal não pode deixar de ter em conta as transformações amplas no terreno das ciências sociais da religião. A diversificação do campo religioso em Portugal não pode ser compreendida sem a consideração da dinâmica social que a contextualiza. Essa aproximação exige uma leitura diacrónica – visando a compreensão das condições que permitiram o aprofundamento da diversidade religiosa numa sociedade historicamente marcada por uma identidade confessional maioritária – e uma leitura sincrónica atenta aos diversos indicadores sociais que permitam perceber como se articula essa diversificação do campo religioso com os outros domínios sociais.

Convocando competências diversas no domínio das ciências sociais, o trabalho dos investigadores centra-se, neste caso, na procura da informação disponível, por vezes de forma muito dispersa, para a colocar em perspetiva, identificando quer as regiões de conhecimento que sofreram mais investimento, quer as zonas de silêncio que afetam qualquer retrato social do país. Observe-se que, com frequência, as tentativas de apresentação da sociedade portuguesa, nos seus diferentes aspetos, ignoram o que concerne às identidades religiosas (talvez porque a comunidade científica constituída em torno dessa problemática é pequena e pouco organizada ou talvez porque persista o pressuposto da irrelevância social da religião).

O ensaio desdobra-se em duas partes: «Contextos» e «Identidades».

Na primeira, acompanhamos a leitura historiográfica que Luís Aguiar Santos faz das condições jurídico-políticas da construção do campo religioso português. Depois, a socióloga Teresa Líbano Monteiro procura identificar os processos de mudança social mais determinantes no que concerne à recomposição das identidades religiosas, em Portugal.

A segunda parte propõe um itinerário de aproximação à diversidade das identidades religiosas em Portugal, a partir da investigação disponível, elegendo um ponto de vista – privilegiando assim a abordagem a partir de um determinado dinamismo social.

No caso do judaísmo contemporâneo, privilegiou-se uma aproximação aos itinerários de recomposição, posteriores ao longo período de assimilacionismo, alimentados por fluxos migratórios ligados a práticas comerciais.

O catolicismo, «entre o território e a rede», é abordado a partir das amplas remodelações quanto à sociabilidade crente, privilegiando a caracterização das formas de territorialização das pertenças e a apresentação dos traços que descrevem as novas formas de identificação católica no contexto dos «movimentos eclesiais e novas comunidades».

O protestantismo é apresentado a partir das suas polaridades. Tratando-se de um tipo de comunalização crente predominantemente congregacional e local, este campo religioso apresenta uma enorme diversidade, sem deixar de desenvolver formas de cooperação quanto à sua presença na cena pública.

A presença islâmica em Portugal sofre uma dupla aproximação: a sua caracterização como uma «nova presença», no quadro das mobilidades coloniais e pós-coloniais, mas também como inscrição numa sociedade cuja memória é habitada por um substrato cultural árabo-islâmico.

As comunidades religiosas, que partilham entre si a ênfase dada às tradições milenaristas e apocalípticas cristãs, são aqui apresentadas a partir dos traços de vincada resistência a padrões de comportamento prevalentes no meio social envolvente, com uma particular atenção aos seus modelos familiares.

Um conjunto amplo de identidades, muito diversas, foi reunido sob o título: minorias religiosas e fluxos migratórios. É certo que a diversificação religiosa de um espaço social aconteceu sempre sob a pressão de fluxos migratórios. Mas boa parte dos novos «moradores» – entre eles, muçulmanos, hindus, chineses e cristãos de rito oriental – reconfiguram a sua identidade num contexto novo de políticas de integração e de debates sobre a situação (inter)multicultural das sociedades.

A vulgata da secularização privilegiou um olhar sobre a religião sob o signo da adaptabilidade. Muitas das propostas interpretativas viam o indivíduo crente num itinerário de adaptação a um meio social secularizado culturalmente e laicizado politicamente. Com frequência, esta direção argumentativa tornava implícito o pressuposto de uma superioridade do não crente sobre o crente, já que o primeiro se encontrava no vértice do movimento da transformação histórica e o segundo se descrevia no quadro de uma luta inglória pela sobre vivência da religião. Ora, no quadro da racionalidade comunicativa, pensada por Habermas, um e outro, o crente e o não crente, descobrem a necessidade de compreender as suas diferenças, e ambos participam, a partir dessas diferenças, na construção da cena pública. (…) Habermas vai mais longe, vendo nas tradições religiosas uma fonte possível de sabedoria, válida para a construção de consensos, que vão para além do campo religioso, acerca da vida em comum, acerca do que percebemos como mais ameaçante ou do que não encontra voz noutros modos de agir sobre o mundo.

Neste sentido, a implementação dos estudos sobre as identidades religiosas na sociedade portuguesa poderá contribuir, por um lado, para cultivar, no espaço público, uma racionalidade aberta à crítica das práticas sociais com origem nas tradições e comunidades religiosas, por outro, poderá estimular as comunidades de pertença religiosa na procura de tradução da sua singularidade numa cidadania partilhada, assumindo o risco de uma palavra pública.»

 

In Identidades religiosas em Portugal - Ensaio interdisiplinar, ed. Paulinas
19.12.12

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Capa

Identidades religiosas
em Portugal
Ensaio interdisciplinar

Autores
Alfredo Teixeira (org.),
Luís Aguiar Santo,
Rita Mendonça Leite
Teresa Líbano Monteiro

Editora
Paulinas

Ano
2012

Páginas
376

Preço
14,80 €

ISBN
978-989-673-281-3

 

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