Ilha de S. Miguel, baluarte da indústria do chá na Europa | Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

Açores

Ilha de S. Miguel, baluarte da indústria do chá na Europa

A exposição “Chá em S. Miguel - Cultura e Vivências”, que termina este domingo no Núcleo de Santa Bárbara do Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, pretendeu realçar o papel daquela indústria no desenvolvimento dos Açores.

«A ilha de S. Miguel, pelas suas peculiares características climatéricas e edáficas, é o mais antigo lugar da Europa onde se produz o chá», sublinha o padre Duarte Melo, diretor do Museu Carlos Machado, no texto de abertura do catálogo.

A história da cultura do chá em S. Miguel, nos Açores, remonta ao século XIX, com a importação da planta, no primeiro quartel de 1800. O passo seguinte foi o arranque da indústria de transformação da folha a partir de 1878, ano em que a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense levou à ilha dois chineses de origem macaense para ensinar os rudimentos daquela arte.

«No final do século os chazeiros marcavam já de forma indelével trechos da paisagem micaelense, nomeadamente na costa norte de ilha, havendo mais de duas dezenas de produtores, entre plantadores e fabricantes», apontam os comissários da exposição, Sílvia Sousa e Pedro Melo.

O século XX, acrescenta o texto, «foi um período conturbado para o chá micaelense». «A primeira metade foi caracterizada pelo aparecimento de novas fábricas e pela modernização das já existentes, que viram a excelência do seu trabalho reconhecida através de várias medalhas ganhas em exposições nacionais e internacionais.»

«O protecionismo oferecido pelo Estado ao chá oriundo da África portuguesa, ao mesmo tempo que sobrecarregava de taxas o micaelense, entre outros fatores, levou a partir da década de 50 ao encerramento sucessivo das várias fábricas da ilha, acabando por só sobreviver o chá Gorreana.» No final do século XX assistiu-se ao relançamento do chá Porto Formoso.

Imagem Domingos Rebelo (1934)

Margarida Machado, professora da Universidade dos Açores, explica que a planta do chá, designada por thea Sinensis, «é originária da Ásia e a sua produção e consumo iniciou-se na China».

A primeira referência documentada desta planta no Ocidente «data de finais do século XVI e a sua bebida só a partir do século XVII começará a difundir-se, primeiro usada como remédio e só depois como uma bebida comum».

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Foram os portugueses que primeiro tomaram conhecimento desta planta, refere a investigadora. «Só no século XVII aparece a descrição botânica da planta em tratados europeus: um escrito por um suíço, Gaspar Bauhin (1550-1624), através de relatos feitos por holandeses, e outro por um jesuíta português, João Rodrigues (1562-1633).»

S. Miguel é atualmente «a única região europeia a produzir chá», destinado principalmente para consumo local, embora também haja exportações para os EUA, Alemanha, Canadá, Áustria e Suíça, assinala a docente.

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A engenheira agrónoma Maria Clara Rego indica no catálogo da mostra que o chazeiro vegeta melhor em regiões com pluviosidade elevada, bem distribuída ao longo do ano, com temperatura média de 18 a 20 graus centígrados e baixas amplitudes térmicas diárias.

Apesar do chá ter «uma forte presença no quotidiano da sociedade micaelense», a exposição foi a primeira realizada sobre o tema na região, assinala a Direção da Confraria do Chá do Porto Formoso, parceira na organização da mostra.

No último dia da exposição é oferecida uma prova de diversos chás produzidos em S. Miguel. A lotação é limitada e a presença deve ser marcada através do telefone 296 202 930.

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Foto Lau-a-Teng (intérprete), Lau-a-Pau (mestre)

Imagem Contrato entre o Conselheiro Carlos Eugénio Correia da Silva, representante do presidente da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, e o chinês Lau-a-Teng, para serviço e preparação da cultura do chá em S. Miguel