Arquitetura
Fundação Calouste Gulbenkian disponibiliza espólio do Movimento de Renovação da Arte Religiosa
A Fundação Calouste Gulbenkian digitalizou e disponibiliza através da sua rede interna o espólio do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR).
Os 300 documentos incluem recortes de imprensa de 1944 a 1970 sobre o Movimento, documentos do Patriarcado de Lisboa e outras instituições (1956-2002), documentação sobre arte sacra (1951-1989), publicações e textos produzidos pelo MRAR.
História
Em maio de 1953 inaugurou-se na Galeria de S. Nicolau, em Lisboa, a Exposição de arquitetura religiosa contemporânea, organizada por um conjunto de jovens arquitetos e estudantes de arquitetura, ligado ao Movimento de Renovação da Arte Religiosa: Henrique Albino, Nuno Teotónio Pereira, João Braula Reis, João Correia Rebelo, António de Freitas Leal, José Maia Santos e João Medeiros e Almeida.
Num desdobrável, davam-se a conhecer aos visitantes os seus princípios motivadores: a exposição não se limitava a apresentar trabalhos, mas também a criticar o «panorama doloroso da nossa arquitetura, a inexistência no nosso meio de uma crítica competente» que tornavam urgente «uma ação de esclarecimento e uma revisão de conceitos», para que a arquitetura religiosa nacional pudesse «mostrar ao mundo de hoje a verdadeira face da Igreja de Cristo», abandonando modelos arquitetónicos que perpetuavam uma estética pretensamente tradicional e nacionalista, alheia aos princípios defendidos pelo Movimento Moderno.
Foram esta atitude crítica e esta vontade de renovação formal da produção arquitetónica e da arte sacra que, um ano antes, motivaram a fundação do Movimento de Renovação da Arte Religiosa por «uma comunidade católica de artistas e de outras pessoas interessadas, com o fim genérico de promover, em todos os domínios da arte religiosa, o encontro de uma verdadeira criação artística com as exigências do espírito cristão» ("Estatutos", Artº 1º).
Na génese imediata do MRAR esteve a reação contra o anunciado projeto do arquiteto Vasco Regaleira para a igreja de S. João de Brito, expressa através de um abaixo-assinado, onde se afirmava que esse projeto não se coadunava «nem com os tempos que correm nem com o ambiente geral do Bairro de Alvalade». Num contexto mais alargado, o MRAR foi, entre nós, a expressão de uma nova conceção teológica que começou a esboçar-se na Europa, sobretudo na Suíça e na Alemanha, nos anos seguintes ao final da I Guerra Mundial, que colocava a celebração da Missa no centro do culto cristão/católico, e que em termos da conceção arquitetónica colocava o altar como ponto central da organização espacial da planta das novas igrejas.
Desde 1952 e até sensivelmente ao final da década de 1960, quando começou a dissolver-se, o MRAR manteve uma ação dinâmica e interventiva, sobretudo formativa, editorial e expositiva, mais do que arquitetónica e artística, muito por causa dos constrangimentos políticos e económicos do país. Ao longo deste período, foram seus membros ativos arquitetos como Nuno Teotónio Pereira, António de Freitas Leal, Nuno Portas, João Correia Rebelo, Diogo Lino Pimentel, Formosinho Sanches e Luís Cunha, artistas plásticos como José Escada, Madalena Cabral, Eduardo Nery, Manuel Cargaleiro e Jorge Vieira, historiadores de arte e conservadores como Flórido de Vasconcelos e Maria José de Mendonça.
A Fundação Calouste Gulbenkian apoiou várias ações realizadas pelo MRAR, nomeadamente um “Curso de Arquitetura Sacra” (janeiro 1958) organizado no âmbito do concurso para a construção da igreja do Sagrado Coração de Jesus; a realização da “Exposição de Arte Sacra Moderna” (1956 e 1960); o concurso do anteprojeto para a construção da Sé de Bragança e a apresentação em Portugal (1964) da exposição itinerante “Novas Igrejas na Alemanha”. Esta ligação reatou-se em março de 2007, quando um dos seus fundadores, o arquiteto Nuno Teotónio Pereira fez a doação à Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian do seu espólio, a que se juntaram mais alguns documentos oferecidos pelos arquitetos António de Freitas Leal e Diogo Lino Pimentel.
O conjunto é constituído por 300 espécies documentais, distribuídas por 6 dossiês, fundamental para o estudo não só do MRAR, como da arquitetura moderna em Portugal. Um dos documentos que o integra é o folheto mostrado nesta página, elaborado pelo arquiteto açoriano João Correia Rebelo (1923-2006), uma espécie de manifesto onde pela fotografia e pela palavra se mostrava a todos – desde o “Senhor ministro”, ao simples cidadão – no contexto das conceções estéticas da década de 1950, exemplos do que ele considerava ser boa e má arquitetura.
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Lisboa
Texto histórico: Fundação Calouste Gulbenkian
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16.02.12
Nuno Teotónio Pereira
MRAR - Movimento de Renovação de Arte Religiosa
Propósitos da formação do Movimento de Renovação de Arte Religiosa