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Evocação

Dia da Memória do Holocausto com filme de Daniel Blaufuks e poemas de Primo Levi e Paul Célan

A Assembleia da República promove esta sexta-feira, 27 de janeiro, a edição de 2012 do Dia da Memória do Holocausto, associando-se à comemoração internacional para lembrar e homenagear a memória das vítimas que pereceram.

O Salão Nobre de São Bento recebe na quinta-feira, às 18h30, uma leitura de poemas de Primo Levi e Paul Célan, além da projeção do documentário “Sob céus estranhos”, de Daniel Blaufuks.

«Durante a Segunda Guerra Mundial, Lisboa foi um corredor de passagem para os refugiados vindos dos territórios ocupados por Hitler e dirigindo-se à América. O filme relata duas histórias paralelas sobre exílio e integração.

Através de uma memória narrada e fotografias, é contada a saga de uma família judia alemã que decidiu ficar em Portugal. A história maior e mais sociológica, sobre os outros que usaram Lisboa como rota de fuga, é relatada igualmente através de filmes de época e as memórias escritas de alguns dos intelectuais mais importantes da época, incluindo Heinrich Mann e Alfred Döblin.

Este filme evoca um tempo desesperado e intensamente romântico, de exílio, de falta de esperança e, em última instância, de liberdade.»

Na sexta-feira, pelas 12h00, far-se-á um minuto de silêncio na Sala de Sessões do Parlamento.

 

Se isto é um Homem

Vós que viveis tranquilos
nas vossas casas aquecidas,
vós que encontrais regressando à noite
comida quente e rostos amigos,
considerai se isto é um homem:
quem trabalha na lama,
quem não conhece a paz,
quem luta por meio pão,
quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher:
sem cabelo e sem nome,
sem mais força para recordar,
vazios os olhos e frio o regaço,
como uma rã no inverno.
Meditai que isto aconteceu.
Recomendo-vos estas palavras,
esculpi-as no vosso coração,
estando em casa, andando pela rua,
ao deitar-vos e ao levantar-vos.
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou que desmorone a vossa casa,
que a doença vos entrave,
que os vossos filhos vos virem a cara.

Primo Levi (1946); tradução: Simonetta Cabrita Neto

 

Fuga da Morte

Leite negro da madrugada nós bebemo-lo ao anoitecer
Nós bebemo-lo ao meio-dia e de manhã nós bebemo-lo à noite
Bebemos e bebemos
Nós cavamos uma sepultura nos ares aí tem-se mais espaço
Um homem mora na casa ele brinca com as serpentes ele escreve
Ele escreve quando escurece na Alemanha o teu cabelo dourado Margarida
Ele escreve e sai de casa e as estrelas relampejam ele assobia aos seus mastins
[para que se aproximem
Ele assobia aos seus judeus para que se mostrem cavai uma sepultura na terra
Ele comanda-nos tocai agora para a dança
Leite negro da madrugada nós bebemos-te à noite
Nós bebemos-te de manhã e ao meio-dia nós bebemos-te ao anoitecer
Nós bebemos e bebemos
Um homem vive na casa ele brinca com as serpentes ele escreve
Ele escreve quando escurece na Alemanha o teu cabelo dourado Margarida
O teu cabelo em cinza Sulamita nós cavamos uma sepultura nos ares aí tem-se mais espaço
Ele grita escavai cada vez mais fundo no solo vós esses vós outros e tocai
Ele tira o ferro do cinto e brande-o os seus olhos são azuis
Espetai cada vez mais fundo as enxadas vós esses vós outros continuai a tocar para a dança
Leite negro da madrugada nós bebemos-te à noite
Nós bebemos-te ao meio-dia e de manhã nós bebemos-te ao anoitecer
Nós bebemos e bebemos
Um homem vive na casa o teu cabelo dourado Margarida
O teu cabelo em cinza Sulamita ele brinca com as serpentes
Ele grita tocai docemente a morte a morte é um mestre da Alemanha
Ele grita tocai os violinos sombriamente então subireis como fumo aos ares
Então tereis uma sepultura nas nuvens aí tem-se mais espaço
Leite negro da madrugada nós bebemos-te à noite
Nós bebemos-te ao meio-dia a morte é um mestre da Alemanha
Nós bebemos-te ao anoitecer e de manhã nós bebemos e bebemos
A morte é um mestre da Alemanha o seu olho é azul
Ela acerta-te com balas de chumbo ela não falha
Um homem vive na casa o teu cabelo dourado Margarida
Ele açula os seus mastins contra nós ele oferece-nos uma cova no ar
Ele brinca com as serpentes e sonha a morte é um mestre da Alemanha
O teu cabelo dourado Margarida
O teu cabelo em cinza Sulamita

Paul Célan (1948); tradução: Luís Costa

 

 

 

© SNPC | 23.01.12

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