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Charles Dickens em Portugal

Num lugar e num tempo em que a escassez dos incentivos à leitura parece desmentir a apregoada intenção de promover as qualificações da população em todas as faixas etárias, a comemoração de efemérides culturais pode oferecer o ensejo de colaboração entre as instituições que, de modos diferenciados mas convergentes, contam, entre os seus objetivos programáticos, a missão de conservar, investigar e difundir o património simbólico da cultura literária (inter)nacional.

Assim, na sequência de iniciativas anteriores, tendentes a estudar a receção entre nós da obra dos autores anglófonos Mark Twain e Edgar Allen Poe, o Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa apresentou à Biblioteca Nacional de Portugal um projeto de trabalho que visava comemorar o segundo centenário do nascimento do ficcionista oitocentista inglês Charles Dickens (1812-1870), através da montagem de uma exposição de documentos biblio-iconográficos, relacionados com o seu acolhimento no contexto editorial português desde 1839 até aos nossos dias. (...)

A consulta dos materiais agora disponibilizados [neste catálogo] irá proporcionar ao leitor informações solidamente documentadas sobre a receção das narrativas de Charles Dickens no nosso país e, em termos genéricos, permitirá abordar um conjunto de questões complexas, suscitadas pelos fenómenos de transferência cultural ocorridos no espaço europeu. A título meramente exemplificativo, limitamo-nos a apontar três pistas sobremaneira promissoras.

Em primeiro lugar, o estudo da migração de textos literários revela que, entre a data de publicação do original e a das traduções, medeiam intervalos de tempo mais ou menos dilatados, consoante a distância que separa a cultura inglesa dos mercados editoriais situados na periferia europeia. Por conseguinte, o estudo da receção literária de Dickens terá que tomar em conta, por um lado, a história da produção, da distribuição e do consumo do livro e, por outro lado, numa perspetiva sociológica, as condições e os hábitos de leitura das comunidades recetoras.

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Em segundo lugar, importa observar as metamorfoses sofridas pelo texto de partida, durante todo o seu lento processo de aculturação. Regra geral, esta começa sob a forma de folhetim em periódico e, à medida que se consolida o interesse do público, os passos seguintes são a publicação em volume, a inserção deste numa coleção de obras selecionadas e, em fase posterior, numa série própria totalmente dedicada ao autor. Por outras palavras, quer por via da tradução direta, quer através da intermediação de um idioma terceiro (quase sempre o francês), em texto integral ou truncado, condensado, adaptado ou resumido, a obra de Dickens encaminha-se das margens para o centro do subsistema da literatura traduzida em Portugal e atinge nele o lugar canónico que o espaço internacional também lhe atribui.

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Em terceiro e último lugar, fica evidenciado que a análise dos fenómenos de receção por tradução não pode restringir-se ao estudo da literatura institucionalmente legitimada. O horizonte da pesquisa terá de ser mais alargado, de modo a abranger também a tradução para múltiplos sistemas semióticos, entre os quais assumem particular relevância as transposições teatrais, cinematográficas e televisivas, destinadas ao consumo de massas, bem como outras formas de adaptação áudio-visual, ou em banda desenhada, dada à estampa em volumes ou em periódicos de feição infanto-juvenil. Tal irradiação das personagens, das situações, da verosimilhança descritiva e da qualidade modelar da arte narrativa de Dickens comprova que a sua obra encerra valores suscetíveis de captar as atenções de um público muito heterogéneo, quanto à faixa etária, ao nível cultural médio, à experiência prévia de sensibilidade estética e aos padrões do gosto que, em boa parte, decorrem de circunstâncias variáveis de tempo e de lugar.

ImagemCharles Dickens retratado em "Dickens' Dream", Robert William Buss, 1875 (det.)

Em suma, estas considerações sintéticas iniciais servem para justificar a nossa esperança de que o presente Catalogo possa contribuir para tornar mais viva e atuante entre nós a obra de Charles Dickens que reúne todas as condições para ser considerado um autêntico clássico da ficção inglesa e da cultura literária contemporânea.

 

Em 2012 assinalam-se os 200 anos de nascimento do escritor inglês Charles Dickens.

 

João Almeida Flor
Professor catedrático emérito da Universidade de Lisboa
In Charles Dickens em Portugal, ed. Biblioteca Nacional de Portugal
23.05.12

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Charles Dickens em Portugal

Autor
AA.VV.

Editora
Biblioteca Nacional
de Portugal

Ano
2012

Páginas
134

Preço
5,00 €

ISBN
978-972-565-4750

 

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