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Exposição

Pintura flamenga e holandesa

A Fundação Medeiros e Almeida tem na sua casa museu um excelente núcleo de pintura flamenga e holandesa que agora se apresenta isoladamente de forma a incidir sobre ela uma nova leitura. Procura-se nesta mostra colocar esta parcela do acervo da Fundação numa relação directa com os modelos, as origens, os motivos e os movimentos artísticos que estiveram na origem da produção de cada uma dessas obras de arte.

Para além de uma cuidada apresentação museográfica, onde os aspectos mais modernos da conservação, da iluminação e do restauro são tidos em conta, a exposição é acompanhada de uma catálogo profusamente ilustrado e acompanhado de textos científicos que contemplam as novidades respeitantes às investigações no campo da história da arte.

A pintura flamenga e holandesa caracteriza-se pela minúcia e detalhe de aspectos realistas tais que, muitas vezes, chegou a ser considerado o seu maior defeito.

Para o memorialista português Francisco de Holanda, esta pintura realça o detalhe, a reduzida escala das representações, tendente ao engano do olhar e por outro a pintura devocional, de um realismo tão cru que pode levar à comoção e ainda a especialização e capacidade de adaptação às necessidades da clientela sem causar embaraços de ordem nenhuma. Uma pintura respeitadora dos cânones sociais e religiosos.

Os vários géneros e hierarquia impostos pelo sistema académico estão também aqui delineados: a pintura de história, com as vidas de Santos e Profetas, o retrato realista, a paisagem detalhada, e finalmente as naturezas-mortas que se constituem como património ancestral desta região da Europa. Acima de tudo, o que ressalta é o respeito que os pintores flamengos sempre cultivaram pelos caprichos da sua clientela. A vontade de possuir, dentro dos limites de um microcosmo, todo o universo, consubstanciado nas câmaras de maravilhas, que as sociedades economicamente superabundantes do Mar do Norte no século XVII desejavam, pode assim facilmente ser transferido para dentro da pintura. Se por um lado estes caprichos sublinham a transitoriedade da vida e a sua precariedade, por outro a pintura tentava prender ou fixar esses momentos fugazes.

Na exposição poderemos apreciar temas religiosos, como uma Virgem do Leite do século XVI, o Cristo Coroado de Espinhos, uma composição de Mabuse do século XVI, e do XVII outra Virgem do Leite e santos da oficina de Rubens, um Bom Pastor e Um Cristo em casa do Fariseu de David Teniers II, passando pela pintura já de carácter leigo onde as questões fiduciárias estão evidenciadas no Cobrador de impostos ou Advogado de aldeia de Pieter Brueghel II, até ao retrato com dois bons exemplares de António Moro, um representando Margarida de Parma, a governadora dos Países Baixos, e outro que agora se identifica como sendo o de Pedro Mendéndez de Avilés. Destaca-se ainda, no conjunto de retratos, o de Catarina de Bragança pintado por Jacob Huysmans por volta de 1664. O Retrato de Rembrandt é um belo documento para o entendimento do modus operandis da oficina do grande mestre holandês.

A presente mostra, que fica exposta até 25 de Maio, constitui o pretexto ideal para entrar e descobrir os restantes tesouros desta notável casa-museu, que tem no seu espólio, colecções de relógios, porcelanas da China, pintura, mobiliário, ourivesaria/ joalharia, arte sacra, escultura e têxteis, num total de cerca de nove mil, estando cerca de duas mil patentes ao público em 26 salas.

Fundação Medeiros e Almeida | SNPC

12.01.2009

 

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A Virgem e o Menino
Oficina de Rubens


































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