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Música

Missa Grande, de Marcos Portugal

Em termos absolutos, Marcos Portugal foi o mais famoso compositor luso-brasileiro de todos os tempos. Na Europa a sua notoriedade deveu-se essencialmente ao género dramático e, particularmente, às opere buffe. No entanto, em Portugal e no Brasil, a sua música religiosa, de que se conhecem mais de 130 obras, exerceu uma influência (ainda por avaliar cabalmente) que perdurou mais de 100 anos.

Apesar destes factos, o desconhecimento da música deste autor é quase total e está expresso na gritante ausência de edições e na raridade das gravações de obras integrais.

Marcos António Portugal nasceu a 24 de Março de 1762 na freguesia de Santa Isabel em Lisboa, sendo bisneto de Joaquim Mendes Ferreira, músico no lugar do Freixial, e filho de Manuel António da Assumpção ou Ascensão, músico da Santa Igreja Patriarcal. Em 1771 ingressa no Seminário da Patriarcal, escola fundada por D. João V em 1713, e de onde saíram quase todos os melhores músicos portugueses do século XVIII e do primeiro terço do século XIX.

Em 1780, o jovem de 18 anos começou a compor música litúrgica para as funções da Santa Igreja Patriarcal, sendo depois contratado pela mesma instituição como compositor e organista, situação aliás prevista pelos estatutos do Seminário. Até assinar o livro de entradas da Irmandade de Santa Cecilia a 23 de Julho de 1783, acto a que eram obrigados todos os músicos profissionais, Marcos António (assim assinava por esta altura), compôs para a Patriarcal vários salmos, duas antífonas, e pelo menos um Te Deum.

O crescente reconhecimento do seu talento acabou por se estender à Família Real, porque a 4 de Dezembro de 1782, no dia de Santa Bárbara, habitualmente festejado com grande cerimonial e devoção no Palácio de Queluz, foi aí executada uma missa com instrumental (com orquestra) encomendada pela Rainha. Esta ocasião terá sido fulcral, porque marca o nascimento de uma colaboração mais estreita de Marcos Portugal com a Família Real e particularmente com o Príncipe D. João (futuro D. João VI) que determinará o resto da vida do compositor, chegando a condicionar o seu percurso profissional e, inclusivamente, as suas opções estéticas.

Até 1792 a sua actividade centrou-se sobretudo na composição de música para as cerimónias religiosas da Igreja Patriarcal e para Queluz, com algum abrandamento a partir de 1785, quando o compositor se concentrou nos elogios, entremezes e farsas destinados ao Teatro do Salitre. Na segunda metade da década de 8o passou a assinar Marcos António da Fonseca Portugal (apelidos de sua mãe Joaquina Teresa Angélica também utilizados pelos seus irmãos), e a usar os títulos de "Mestre de Música do Teatro do Salitre", e "organista e compositor da Santa Igreja Patriarcal".

Partiu para Itália em Setembro de 1792 e voltou em 1800, com uma estada em Portugal de meados de 1794 a Julho de 1795. Nesse país estreou pelo menos 21 óperas, número verdadeiramente surpreendente se tivermos em conta que aí permaneceu somente durante seis anos e meio. Esta produção alucinante ilustra bem a inspiração e a extraordinária capacidade de trabalho de Marco Portogallo (nome por que ficou conhecido internacionalmente). Manoel d' Almeida Carvalhaes descreve minuciosamente o percurso operático do compositor na obra seminal Marcos Portugal na sua música dramática: entre 1793 e a segunda década do século XIX, houve cerca de 400 estreias e reposições (o que implica milhares de representações) em mais de 100 cidades, incluindo Lisboa, Viena, Paris, Londres, S. Petersburgo e Rio de Janeiro. Este sucesso sem precedentes deveu-se essencialmente ao género buffo.

Quando regressou a Lisboa, em 1800, a fama do "Grande Marcos" estava no auge, sendo-lhe oferecidos dois dos mais importantes cargos musicais do Reino: Mestre de Solfa no Seminário da Patriarcal (cessando as funções de organista na Patriarcal) e Maestro do Real Teatro de S. Carlos. Uns anos mais tarde viria também a ser Mestre de Música dos infantes Maria Isabel (nascida em 1797), Pedro (nascido em 1798), Maria Francisca (nascida em 1800) e Isabel Maria (nascida em 1801). Estas nomeações atestam a confiança e elevada admiração que o Príncipe Regente tinha por Marcos Portugal e pela sua obra.

Neste período concentrou-se na composição de óperas sérias para o S. Carlos (a maioria delas com os papeis principais destinados a Angélica Catalani), além de música religiosa para Queluz, residência habitual da Família Real, e para a Basílica do Convento de Mafra, para onde D .João se mudou depois da conspiração abortada do Outono de 1805, e onde ficou até à partida para o Brasil. O repertório de Mafra é muito particular dado ser destinado às vozes masculinas dos monges arrábidos e a 4, 5 ou 6 órgãos.

Marcos Portugal não acompanhou a Corte no dia 29 de Novembro de 1807, por ocasião da partida motivada pela eminente chegada a Lisboa das tropas de Junot; no entanto, correspondendo à chamada com carácter de urgência do Príncipe Regente ordenando-lhe que "o fosse servir naquela Corte", chegou ao Rio de Janeiro em Junho de 1811.

A música virtuosística e dramática de Marcos explorava e realçava as capacidades técnicas e interpretativas dos solistas e, em particular, dos castrati, escrevendo para as idiossincrasias individuais de cada cantor. É evidente que os talentos dos castrati italianos e a estética que representavam eram uma parte importante do espectáculo da exibição do Poder Real.

A situação da música na Capela Real alterou-se radicalmente com o regresso da Corte para Portugal e com a Independência do Brasil em 1822. Não só regressaram alguns dos músicos ao serviço do Rei de Portugal (mas não os castrados), como a falta de dinheiro originou crescentes cortes orçamentais que, para além da diminuição do número das cerimónias de gala, resultaram na degradação do nível musical das funções da Capela Imperial.

Marcos Portugal decidiu manter-se no Rio de Janeiro servindo o novo monarca e continuando a receber o seu salário integralmente. A partir de 1 de Janeiro de 1825 foi encarregue do ensino da música a Suas Altezas Imperiais, as filhas de D. Pedro, D. Maria da Glória e D. Januária Maria. Depois da longa lealdade de 40 anos a D. Maria I e a seu filho D. João VI, Marcos António Portugal viveu os últimos nove anos servindo o Imperador do Brasil, D. Pedro I, sem a glória anterior, é certo, mas aparentemente tão acarinhado pelo filho (seu aluno aplicado) como tinha sido pelo pai.

Adquiriu a nacionalidade brasileira e compôs um Hino da Independência do Brasil cantado nas comemorações do 7 de Setembro durante décadas.

Morreu de um terceiro ataque apopléctico a 17 de Fevereiro de 1830.

A Missa Grande (c. 1782-90) é uma das três obras religiosas de Marcos Portugal que atingiram uma disseminação geográfica notável, além de uma constância de utilização litúrgica que durou mais de um século.

A partir de meados do século XIX ficou conhecida como Missa Grande, provavelmente em virtude do grande Domine Deus para sexteto de solistas (2 sopranos, contralto, tenor e 2 baixos). A sua importância, influência e carácter paradigmático estão expressas na grande quantidade de versões existentes (15 foram encontradas até à data) realizadas por compositores portugueses e o inusitado número de cópias manuscritas que se encontram em arquivos públicos e privados em Portugal e no Brasil – 80 no total. As sucessivas adaptações são sintomáticas do carácter funcional da música sacra, e revelam algumas das práticas composicionais e interpretativas vigentes neste período.

A obra é anterior á partida para Itália e terá possivelmente resultado de uma encomenda real. É um belo exemplo de escrita concertata (com alternância e diálogo entre o coro e os solistas), e revela um compositor inventivo e de métier amadurecido. Entre as páginas de maior inspiração contam-se o sexteto Domine Deus, o dueto para dois sopranos Quontam tu solas, e o Crucifixus.

A versão proposta pelo Coro de Câmara de Lisboa, para solistas, coro misto e baixo continuo, é da autoria do próprio compositor e deverá datar de c. 1782-1792, sendo a versão original para orquestra. Trata-se da estreia discográfica da obra.

O Coro de Câmara de Lisboa foi formado em 1978 por Teresita Gutierrez Marques, então como Coro de Câmara de Conservatório Nacional de Lisboa. Constituído por vinte e quatro músicos, interpreta obras portuguesas e estrangeiras do período compreendido entre a Renascença e os nossos dias.

 

Domine Deus

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António Jorge Marques
In Missa Grande, de Marcos Portugal
16.06.10

Capa do CD

Missa Grande

Compositor
Marcos Portugal

Interpretação
Coro de Câmara de Lisboa
Teresita Gutierrez
Marques (dir.)

Editora
Numérica

Preço
10,91 €

Referência
NUM 1189
















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