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Diocese de Santarém

A propósito do ícone de São Paulo: Arte Sacra e visibilidade da Palavra

Quando encontro disponibilidade, procuro acompanhar a peregrinação do Ícone de São Paulo pelas paróquias. Quase sempre em noites frias e, frequentemente, chuvosas. Apesar disso, os crentes não têm mostrado receio e participam tanto na recepção como nas celebrações do Apóstolo São Paulo. Ouvi muitos párocos comentar que os fiéis compareceram em maior número do que esperavam. Embora não seja tão popular como Nossa Senhora ou mesmo como São Pedro, a verdade é que se nota interesse e veneração por São Paulo.

Parece-me verdadeira a confissão que tenho ouvido neste Ano Paulino: Os católicos ouvem com frequência leituras das Cartas de São Paulo mas poucos têm dado atenção e aprofundado a sua mensagem. Por vezes, a falha começa na forma como muitos leitores fazem a leitura: Parece que nem os próprios leitores entendem o texto. Tenho esperança que as iniciativas do Ano Paulino hão-de contribuir para um maior interesse e atenção às Cartas tão ricas e actuais deste grande Apóstolo.

Tenho sentido, por outro lado, que a presença visível do Ícone ajuda a dar atenção à mensagem. A peregrinação da imagem dá um rosto à palavra de Paulo, confere apoio visível ao seu pensamento. O facto de ser uma imagem pintada em jeito de Ícone, mesmo não satisfazendo as regras tradicionais deste estilo de arte religiosa, permite fazer uma catequese sobre a vida e missão de Paulo. Como já tinha observado pessoalmente em países eslavos, os Ícones são como uma Bíblia em imagens, são um catecismo acessível e popular sobre os mistérios invisíveis da fé cristã.

Esta relação entre a imagem visível, criada através da arte, e a Palavra de Deus foi realçada no último Sínodo sobre a “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Na Mensagem ao Povo de Deus, publicada no último número da Revista “Lumen”, afirma-se (nºs 4,5 e 6) que a Palavra de Deus adquiriu um rosto em Jesus Cristo, tornou-se visível na pessoa histórica do Filho de Deus. Assim como a Palavra de Deus se fez livro, através da redacção da Bíblia, de forma paralela se fez carne na Encarnação do Verbo de Deus. A Encarnação de Jesus é, de facto, o argumento invocado por São João Damasceno, face à controvérsia iconoclasta, no II Concílio de Niceia (787), para fundamentar a veneração cristã das imagens religiosas. Se Deus se tornou visível na realidade humana, a representação visível da Virgem Maria e dos Santos entra na mesma pedagogia de nos orientar para o encontro espiritual com o mistério.

A comunicação da fé precisa de imagens, lembra também a referida Mensagem do Sínodo, mostrando o exemplo do próprio Jesus: “Num tempo dominado pela imagem (…) é ainda hoje significativo e sugestivo o modelo privilegiado por Cristo. Ele recorria ao símbolo, à narrativa, ao exemplo, à experiência quotidiana, à parábola (…). No anúncio do Reino de Deus, Jesus jamais passava por sobre as cabeças dos seus interlocutores com uma linguagem vaga, abstracta e etérea, mas conquistava-os, partindo justamente da terra onde assentavam os pés, para conduzi-los do quotidiano para a revelação do Reino dos Céus” (n.º 11).

Os símbolos e imagens bíblicas têm sido, lembra igualmente a Mensagem Sinodal, uma fonte perene da cultura e da arte cristã, “Um Atlas Iconográfico”, onde muitos artistas mergulharam os seus pincéis, músicos receberam inspiração, poetas e pensadores encontraram referências de grande beleza. A Bíblia ensina-nos, de facto, o caminho da beleza para chegar a Deus (cf. n.º 15). Assim é salutar desenvolver a relação entre a Bíblia e a arte: Se esta, por um lado, apoia e enriquece a expressão da Palavra de Deus, por outro, a Bíblia oferece aos artistas uma inspiração fecunda de beleza perene.

D. Manuel Pelino
Bispo de Santarém

in Diocese de Santarém

02.02.2009

 

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