Teatro
Olhar a morte de frente
A morte foi preocupação central dos mais recentes espetáculos do Teatro da Cornucópia. Primeiro com o “Auto da Alma” (Miserere”, abril/maio de 2010), agora com “Dança da Morte”.
Trata-se de uma coprodução entre a Cornucópia e a companhia espanhola “Nao de Amores”, dirigida por Ana Zamora, responsável ainda pela dramaturgia e encenação do espetáculo, já apresentado no Festival de Almada, e que regressa a Lisboa como etapa de um longo ciclo de apresentações em Espanha, a terminar em 2011.
O espetáculo parte, essencialmente, do texto “Dança de la Muerte” (edição de Sevilha 1520, e do manuscrito de El Escurial) e dos “Autos das Barcas”, de Gil Vicente, com inclusão de outros textos.
A componente musical é de importância igual à dimensão estritamente verbal e textual, e o trabalho de pesquisa e dramaturgia musical, a cargo de Alicia Lázaro, pretendeu, investigando um património que remonta ao “Llibre Vermell de Montserrat” (século XIV), criar um conjunto que desse sentido ao nome e ao género “Dança da Morte”, composto por números musicais dramaturgicamente relevantes.
O modelo desta dança é o da “Dança Macabra”, género que parece vir do século XIV, como resposta estética – literária, musical e coreográfica, de raiz popular – a uma presença avassaladora da morte originada pela peste.
Todos os humanos, independentemente da sua condição social, estão sujeitos à vontade e capricho da morte, figura que a “Dança Macabra” pretende ajudar a olhar de frente.
O espetáculo, bilingue, é primorosamente interpretado pelos atores Luís Miguel Cintra, Sofia Marques e Elena Rayos e pelos músicos Eva Jornet, Juan Ramón Lara e Isabel Zamora. A coreografia é de Javier Garcia Ávila.
João Carneiro
In Expresso, 2.10.2010
07.10.10