Alberto Carneiro vence o maior prémio de artes plásticas em Portugal
Alberto Carneiro, artista escolhido para conceber a escultura que a partir da edição de 2007 será concedida aos distinguidos com o Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes, recebeu o maior galardão existente em Portugal na área das artes plásticas.
O Prémio de Artes Casino da Póvoa 2007, entregue a 14 de Dezembro pela Ministra da Cultura, engloba a aquisição de uma obra do artista premiado, a publicação de uma Monografia e a apresentação de uma exposição antológica do autor, no valor total de 30 mil euros.
Não é a primeira vez que Alberto Carneiro recebe um prémio; por exemplo, já em 1968 foi-lhe atribuído o Prémio Nacional de Escultura; talvez por isso é que considera que a distinção não funciona como um estímulo, mas sim como um reconhecimento. Confidenciou que trabalha diariamente no ateliê e não necessita de distinções para o fazer com vontade e com força; no entanto, não esconde o facto de "ter ficado bastante satisfeito com este prémio e interpreto-o como veículo de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido".
Quase em simultâneo foi apresentado o livro "Alberto Carneiro lição de coisas", da autoria de Bernardo Pinto de Almeida, crítico e professor na Faculdade de Belas-Artes do Porto, que narra o percurso do artista e evidencia todo o trabalho desenvolvido daquele que é considerado um dos maiores escultores contemporâneos.
Bernardo Pinto da Almeida confidenciou mesmo que, em sua opinião, Alberto Carneiro integra a lista dos 10 nomes mais importantes das artes plásticas portuguesas, encabeçada por Amado de Souza-Cardoso e António Carneiro.
Revelando que acompanha o trabalho de Carneiro há mais de 20 anos, Pinto de Almeida assume que tem mantido com este "diálogos de cumplicidade", o que, naturalmente, contribuiu para a escrita deste trabalho, que pretende ser "um reflexo de olhares profundos sobre a sua obra".
O autor sublinhou ainda ao JN que na presente edição procurou esquematizar no plano da reflexão estética uma série de importantes questões que a obra do escultor originou. Bernardo Pinto de Almeida acrescentou que este trabalho não é fruto pura e simplesmente de uma escrita sobre a obra, mas corresponde, isso sim, a uma escrita com uma obra.
"O trabalho de Alberto Carneiro não cessa de nos surpreender", assim disse João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, a quem coube a apresentação do livro sobre o escultor premiado. Para João Fernandes, o livro que acaba de ser lançado é um trabalho que fazia falta, pois contribuirá para uma revisitação aos projectos e à obra de Alberto Carneiro, que ainda possuiu muitas peças menos conhecidos do grande público.
O trabalho agora editado ajudará - ainda na opinião do director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves - a mostrar o modo como Alberto Carneiro abriu portas não só para a arte, mas também através de discursos relevantes que questionam a relação da arte com a natureza e simultaneamente interrogam a relação do homem com o mundo. Nas palavras de João Fernandes, a descoberta da natureza transformou-se para Carneiro num confronto e principalmente num processo de trabalho corajoso que resulta, muitas vezes, em metamorfose. Realçou mesmo o facto de o escultor transfigurar para o espaço dos museus um campo de trigo, uma árvore ou outros cenários rurais que como se sabe estão ligados intimamente ao escultor.
"Nenhum prémio - sublinha João Fernandes - é de mais para reconhecer as portas que o seu trabalho abriu no confronto com o Mundo".
Alberto Carneiro nasceu no Coronado, estudou Escultura na Escola de Belas-Artes do Porto e na Saint Martin's School of Art de Londres.
Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian no Porto e em Londres. Foi professor no Círculo de Artes Plásticas da Universidade de Coimbra, na Escola de Belas-Artes do Porto e na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
A obra e o pensamento do artista podem ser conhecidos através dos livros "Das Notas para um Diário e Outros Textos - antologia" (2007) e "Alberto Carneiro" (2003), ambos da Assírio & Alvim.
Veja imagens dos trabalhos de Alberto Carneiro.
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Jornal de Notícias / SNPC
Publicado em 18.12.2007
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