"No princípio... A Palavra fez-se carne": é este o tema da segunda presença consecutiva da Santa Sé na Bienal de Arte de Veneza, que decorre na cidade italiana entre 9 de maio e 22 de novembro.

Na 56.ª edição de um dos mais prestigiados eventos culturais a nível mundial, a presença do Vaticano, em continuidade com a participação inaugural, retoma a questão dos primórdios do universo e da humanidade, mantendo a inspiração bíblica.

Enquanto que em 2013 o pavilhão da Santa Sé desenvolveu o tema "Criação, De-criação, Re-criação", a partir das páginas iniciais do Génesis, o primeiro livro da Bíblia, em 2015 o centro da exposição coordenada pelo Pontifício Conselho da Cultura é o prólogo do Evangelho segundo S. João.

A mostra realça «dois polos essenciais», refere o texto introdutório publicado na página do organismo dirigido pelo cardeal italiano Gianfranco Ravasi, especialista em Sagrada Escritura.

A exposição salienta a Palavra transcendente que está no princípio, de acordo com o texto joanino, «e que revela a natureza dialógica e comunicativa do Deus de Jesus Cristo», bem como «a Palavra que se faz "carne", corpo, para levar a presença de Deus à carne humana, à humanidade, sobretudo onde esta está ferida e sofre».

«As dimensões "vertical-transcendente" e a "horizontal-imanente" constituem, também com o seu "entrecruzar-se", a pista fundamental de pesquisa» para a presença do Vaticano na Bienal, que este ano tem como tema "Todos os futuros do mundo".

O Pontifício Conselho da Cultura adianta que «como imagem eloquente do fazer-se "carne" de Deus em Jesus Cristo para socorrer o homem ferido e marcado pela morte e pela fragilidade será proposta aos artistas a parábola de Lucas do "Bom Samaritano" (Lc 10, 25-37), figura do próprio Jesus, que manifesta a compaixão e a misericórdia de Deus em relação à humanidade».

«À parábola evangélica juntar-se-ão, como textos inspiradores para os artistas, trechos extraídos das intervenções sobre o tema do papa Francisco» particularmente sugestivos, explica a nota de apresentação.

A dupla dimensão do início do Evangelho de João, transcendente e imanente, «constitui a inspiração de fundo dos espaços em que será subdividido o pavilhão», no qual se encontram as criações de três artistas.

A seleção das obras obedece a quatro critérios: a «consonância» do percurso artístico com o tema escolhido, «a variedade das técnicas artísticas, a internacionalização e a diversidade de proveniência geográfica/cultural», assinala o Pontifício Conselho da Cultura.

O pavilhão da Santa Sé vai ser apresentado a 9 de abril, em conferência de imprensa que decorrerá no Vaticano, com a presença de Gianfranco Ravasi, da responsável da coleção de arte contemporânea dos Museus do Vaticano e curadora da exposição de Veneza, Micol Forti, bem como do presidente da Bienal, Paolo Baratta.

A representação oficial de Portugal na exposição foi confiada ao projeto "I Will Be Your Mirror / poems and problems", de João Louro, com curadoria de María de Corral.