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Universidade Católica publica novo volume dos "Cadernos de Teoria das Artes", com inédito de Manoel de Oliveira

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Universidade Católica publica novo volume dos "Cadernos de Teoria das Artes", com inédito de Manoel de Oliveira

O Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes (CITAR), da Universidade Católica Portuguesa (Porto) publicou recentemente na internet o quarto volume dos "Cadernos de Teoria das Artes", que inclui um texto inédito de Manoel de Oliveira, além de ensaios sobre múltiplas expressões artísticas.

O volume, com acesso gratuito pela internet, agrega estudos sobre parte das atividades do centro, «realizadas na área de teoria das artes, bem como alguns dos textos apresentados no "Fórum (In)Definições, conjunto de sessões de caráter interdisciplinar que alicerçou investigações subsequentes», escreve Yolanda Espiña, professora Associada de Estética e Teoria das Artes da Escola das Artes da Universidade Católica.

O breve texto, inédito e póstumo, de Manoel de Oliveira consiste numa transcrição da sua intervenção oral naquele Fórum, em 2004, e que neste volume se intitula “(A Propósito do Argumento no Cinema)”, refere a nota enviada ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura pela docente, coordenadora desta publicação, juntamente com Pedro Monteiro.

Dedicado ao tema "(In)Definições", este "Caderno de Teoria das Artes" abre com dois textos sobre música sacra, tema que apresenta «um problema de essência e de natureza», sublinham os coordenadores no texto de apresentação.

«Grande variedade de contextos culturais, linguísticos e sociais produziu e amadureceu diferentes propostas terminológicas, quer na base da função (música litúrgica ou música religiosa) quer na base do contexto ("Kirchenmusik" ou "Church music")», referem.

O artigo de José Paulo Antunes, "A música sacra: contributos para uma definição", analisa os desafios colocados à disciplina a partir de «uma confluência de três realidades: a linguagem musical, que enquanto expressão artística ultrapassa as fronteiras da ação litúrgica cristã; a própria ação celebrativa cristã, contexto vital do acontecer litúrgico; e o ser humano, enquanto sujeito e protagonista da celebração da sua fé».

Por seu lado, o ensaio "Lo sagrado y la música contemporánea", de Yolanda Espiña, «tenta explorar o horizonte em que o sagrado e a música se encontram e relacionam, sob a base de um critério explícito: o critério de referencialidade, a partir do qual se ratifica a abertura da música (também) contemporânea à possibilidade de expressão genuína dessa relação com o sagrado».

Mudando de campo artístico, Ana Calvo Manuel, coloca procura responder às interrogações colocadas pelo tema do seu texto, "Conservação vs restauro": «Como encontrar um critério que assuma a responsabilidade de preservar a configuração formal da obra de arte, sem alterar o seu significado artístico? É suficiente o tradicional conceito de Restauro (a intervenção fáctica, quer curativa quer reintegrativa, no material) para se responsabilizar por esta tarefa?». E no que respeita à conservação, «poderá ela levar a uma mudança fundamental na orientação da abordagem dos tratamentos?».

Com o estudo "A interatividade como construção do outro", Hélder Dias «mostra, especialmente no âmbito das artes digitais, o caminho que vai de um conceito de interatividade que implica apenas uma decisão entre caminhos possíveis a uma abordagem que tem a sua base na construção a cada momento de novos possíveis, transformando representações em simulações meta-compostas».

No artigo seguinte, António Salgado ("A po(i)ética musical") «reflete sobre a música e a performance musical no seu caráter intencional e expressivo, tornado natural por um ato continuado de produzir sapiente, inserindo-o assim num corpo de saber, precisamente, po(i)ético».

"Sobre a autoria, a autoridade e o autoritarismo" é o tema escolhido por Manuel Forcadela, que se centra na «construção autoral», que ao constituir «um outro modo de poética, insere o seu "logos" na dimensão da crença, uma dimensão na qual, na continuada avaliação dos princípios de uma “fé elaborada”, o autor garante a sua presença no caráter ficcional e mítico que se assegura no relato historiográfico, para previver como tal relato».

A «diversidade da noção de "argumento"» agrupa os dois últimos textos. «Arnaldo Saraiva, realiza uma viagem semântica e literária pelo mundo das “espécies textuais”, fazendo uma paragem no território de novos profissionais da escrita, calibrando nomeações autorais e lançando um apelo para a sua correta definição».

Por fim, Manoel de Oliveira (1908-2015) oferece «uma lição magistral sobre os princípios de uma arte que, como ele próprio afirma neste contributo, pode ser (in)definida como um monumento com quatro colunas – imagem, palavra, som e música – que encontram a sua vocação na unidade».

«Há diretores que recorrem a pintores. Eu próprio também o faço, à minha maneira, desenhando o plano, utilizando uma perspetiva ou outros artifícios que ajudam a concretizar uma ideia que, de início, é abstrata», afirmou o realizador a quem a Igreja católica em Portugal atribuiu o prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes.

Para o cineasta, «[a] ideia é fundamental»: «Uma ideia e a formação dessa ideia para um argumento ou um filme são fundamentais, tal como para um arquiteto; e aqui há uma certa relação entre cinema e arquitetura — o seu programa. Ele pode fazer uma universidade, [um projeto] para uma igreja, hospital, uma escola, uma casa particular ou um hotel. Enfim, isto é um programa. O cinema não tem programa, mas tem uma coisa que, para mim, é importantíssima — isto é, o contexto. Uma história coloca-se num contexto, e o que é preciso respeitar numa história não é propriamente essa história, mas esse contexto em que ela se insere. Pode fazer-se tudo o que se quiser, desde que não se saia para fora do contexto em que se está. Não se pode fazer nada fora desse contexto. Isso é que é perturbante».

«É meu hábito respeitar muito o que é histórico e o que é memória. A memória é fundamental e a história é uma maneira de fixar uma memória. Sem ela nós não existimos ou [então] existimos em face de tudo», assinalou Oliveira.

O realizador contou que na construção de um filme se deparava com dois momentos de inquietação e dificuldade: a escolha dos atores - «se erro na escolha do ator, nunca mais acerto no filme» - e na colocação da máquina de filmar: «É uma coisa intuitiva, não há volta a dar».

«Sou muito dependente dos participantes da produção: o assistente, o diretor de produção, os eletricistas, enfim, todos os elementos. Para mim, gosto muito deles porque são pessoas que aderem ao trabalho do filme, dão sugestões, propõem-se de imediato a fazer. É uma coisa comovente, mesmo. Por isso até, não gosto muito de mudar de equipas nem de tudo o mais. Mas, é claro, há situações em que não pode ser», referiu.

«Faço, às vezes, uma definição do cinema como um monumento grego em que tenho quatro colunas. A primeira coluna seria a imagem, a segunda seria a palavra, a terceira seria o som e a quarta seria a música. Estas quatro colunas, que são autónomas e independentes, estão ligadas por uma coisa, uma cúpula que se lhes sobrepõe, segura, e lhes dá sentido e unidade. Assim, no cinema, todos os valores se juntam e são capazes de funcionar bem», acrescentou Manoel de Oliveira.

Comentando o filme "Branca de Neve", de César Monteiro, película concebida «corajosamente» sob o hino «é a palavra que nos dá as imagens», Manoel de Oliveira terminou com estas palavras a sua intervenção: «Temos também muito aquela ideia de que o branco da neve dá uma ideia de pureza que os homens não têm, mas que a Morte lhes dá. Ele morre na neve. É muito bonito…».

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 15.02.2016 15.04.2023

 

 

 
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«Há diretores que recorrem a pintores. Eu próprio também o faço, à minha maneira, desenhando o plano, utilizando uma perspetiva ou outros artifícios que ajudam a concretizar uma ideia que, de início, é abstrata»
«É meu hábito respeitar muito o que é histórico e o que é memória. A memória é fundamental e a história é uma maneira de fixar uma memória. Sem ela nós não existimos ou [então] existimos em face de tudo»
«Faço, às vezes, uma definição do cinema como um monumento grego em que tenho quatro colunas. A primeira coluna seria a imagem, a segunda seria a palavra, a terceira seria o som e a quarta seria a música. Estas quatro colunas, que são autónomas e independentes, estão ligadas por uma coisa, uma cúpula que se lhes sobrepõe, segura, e lhes dá sentido e unidade»
Comentando o filme "Branca de Neve", de César Monteiro, película concebida «corajosamente» sob o hino «é a palavra que nos dá as imagens», Manoel de Oliveira terminou com estas palavras a sua intervenção: «Temos também muito aquela ideia de que o branco da neve dá uma ideia de pureza que os homens não têm, mas que a Morte lhes dá. Ele morre na neve. É muito bonito…»
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