Exposição
Ilda David' pinta um vulcão chamado Paulo de Tarso
lda David’ foi ao São Paulo de Teixeira de Pascoaes recolher uma imagem: quando Paulo de Tarso “chega a Atenas e a sombra dele se projecta sobre as estátuas brancas”. Foi esse “espírito ao contrário”, “um vulcão”, que fascinou a pintura.
Surgiu-lhe a imagem entre “as imagens muito sugestivas de Pascoaes” e o relato puro dos Actos dos Apóstolos e das Cartas de Paulo. E na busca das cores e das formas para as obras encomendadas para a exposição que decorre no Seminário Conciliar de Braga.
Em sete capelas laterais da igreja de São Paulo, nos claustros e num corredor do seminário ficarão colocadas, até 25 de Junho, duas dezenas de pinturas - algumas delas são como retábulos, um motivo central e glosas laterais.
“São Paulo contribuiu para a mudança do mundo antigo. Era um homem austero, que desprezava o fausto, e muitas vezes sozinho em confronto com as cidades clássicas que visitava.”
No atelier da Baixa de Lisboa, Ilda David' mostra uma das telas que ficarão no claustro e corredor do seminário: o palácio grego, Éfeso, a queima dos livros que os falsos exorcistas usavam para a magia. Símbolo da rendição aos argumentos de Paulo. Um episódio contado nos Actos dos Apóstolos.
Neste mesmo livro do Novo Testamento, narra-se que Paulo caiu “por terra” quando se dirigia a Damasco para perseguir cristãos. O próprio nunca o refere nas cartas. Antes conta que tivera uma visão ou fora “apanhado” por Jesus. Fugindo à tradição, Ilda David’ pintou a queda sem o cavalo. Um cenário vermelho, forte. Paulo destronado, destacado em amarelo.
O diálogo entre os cenários e os episódios destacados prossegue nas outras telas (uma dezena) nascidas de episódios dos Actos dos Apóstolos. Há ainda as cenas do naufrágio na viagem para Roma; o casal Áquila e Priscila, forte apoio da actividade missionária do apóstolo; a conversão do carcereiro de Paulo na prisão; e a lapidação de Estêvão – à qual o ainda Saulo de Tarso teria assistido, segundo os Actos. E há um veado, insinuado em tons carregados de vermelho, a beber água da fonte - figura retirada ao mundo antigo, tomada símbolo de Jesus, para os primeiros cristãos.
Outras sete telas, maiores, são "tentativas de construir imagens de Paulo", a partir das sete cartas que se sabe terem sido escritas por ele – sobre as restantes há dúvidas ou sabe-se que não foi ele que quem escreveu. Sete cartas, sete pinturas, sete nichos laterais da Igreja de São Paulo, no mesmo seminário.
Há quatro anos que Ilda David' anda às voltas com a Bíblia: primeiro, foram as mais de 600 pinturas que fez para a "Bíblia Ilustrada", com texto de Ferreira d’Almeida, fixado por Tolentino Mendonça. Agora, é São Paulo, que já no primeiro trabalho a fascinara. "Na altura da Bíblia comecei a fazer coisas maiores, que retomei agora. Interessava-me voltar a São Paulo e às Cartas.
Um dos aspectos que a marcou foi a presença de mulheres na liderança das comunidades paulinas. "Era uma novidade grande, haver mulheres que arriscaram desde o princípio". Outro, foi a genialidade da figura de Paulo: É impressionante a transformação de alguém que muda o sentido da sua vida e conserva a mesma persistência e obstinação. É uma das personagens mais fascinantes da Bíblia."
Veja pinturas de Ilda David' sobre São Paulo nos Actos dos Apóstolos
António Marujo
In Público, 21.01.2009
Atualizado em
24.01.12
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