Ao observar as tendências da cultura ocidental de hoje, podemos observar uma intensa motivação para a permanência e a identidade pessoal. Dado que muitas coisas são transitórias, temporárias ou instáveis no nosso mundo, as pessoas estão ativamente à procura de formas de expressar as coisas do coração que esperam serem livres de mudanças, e não apenas condicionais.
Este ímpeto pode ser constatado de várias maneiras, mas é claramente reconhecido no frenesi da tatuagem que percorre toda a nossa sociedade. Ricos e pobres, homens e mulheres, liberais e conservadores, parece que as tatuagens estão em todo o lado, em toda a gente e em todo o corpo. Desde estrelas do rock a empregados de restaurantes, empresários, gerentes de lojas, políticos, educadores, médicos e enfermeiros, e até mesmo em alguns jovens clérigos, o que antes era expressão pública de unidades militares tornou-se um símbolo comum na cultura ocidental atual.
O incrível e transcendente é que cada tatuagem tem uma história. Pergunte a alguém por que é que tem determinada tatuagem e prepare-se para uma narrativa sincera que geralmente termina com o desejo de manter uma história, lição ou pessoa amada como parte dele e da sua vida. Em essência, prepare-se para uma expressão velada para a permanência, um grito implícito do coração: «Eu não quero que este acontecimento ou pessoa se afaste»; ou um apelo à identidade pessoal, uma declaração de género: «Isto é quem eu sou e como quero que me conheça».
Nesta realidade cultural, o Batismo de Jesus tem uma mensagem fluente para nós. Oferece estímulo e consolo para aqueles que desejam continuidade e perpetuidade.
Como o papa Francisco observou, o acontecimento sagrado marca quando Jesus mostrou a disponibilidade «para mergulhar no rio da humanidade, assumir as falhas e fraquezas dos homens, compartilhar com eles o desejo de liberdade e superar tudo o que nos distancia de Deus e torna estranhos aos nossos irmãos».
O acontecimento, portanto, é um chamamento a encontrar o Senhor eterno e viver as graças do nosso Batismo. Essas graças incluem o que a teologia designa como carácter, «um sinal indelével impresso na alma».
Esta expressão pode parecer impressionante para os teólogos litúrgicos, mas o que é que quer dizer? Sinal indelével quê?
Em vez de depender unicamente das definições tradicionais, que tal tomarmos as verdades do nosso Batismo e as aplicarmos àquele fenómeno cultural? Em vez de denominar o carácter do nosso Batismo de sinal indelével, vamos reformular as coisas e chamá-lo de "tatuagem da alma".
Ao apresentar a verdade sacramental desta maneira, as pessoas poderão começar a compreender que há mais coisas oferecidas pelo Batismo e pela vida de fé do que o que podem pensar. Imagina uma tatuagem que não se desvanece ou envelhece? Que não se decompõe com a morte?
O Batismo oferece-nos essa tatuagem. Marca-nos como alguém que possui uma união eterna com Deus. Também estabelece um relacionamento eterno entre nós e outros que receberam, ou estão à procura, dessa mesma tatuagem espiritual. A teologia chama-lhe comunhão dos santos.
Esta comunhão é de longe muito mais permanente e identificativa do que qualquer coisa que este mundo transitório pode oferecer. Esta é uma ocasião em que a perícia de um tatuador humano, por mais conceituado que seja, dão lugar à beleza do Artista divino das nossas almas, que é o Criador dos Céus e da Terra.
Evocar o nosso Batismo relembra estas verdades e renova a obra do Deus entre nós. As tatuagens do corpo têm o seu lugar e podem ser uma expressão acarinhada dos tesouros dos nossos corações, mas, apesar de qualquer esforço, passarão com o tempo.
E está tudo bem com isso porque nos é oferecido mais. A marca do nosso Batismo, a nossa tatuagem espiritual, permanecerá pela eternidade e, quando vivida e inflamada, une-nos a Deus e aos outros. Rejuvenesce-nos e dá-nos paz.