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Exposição

Tarefas infinitas. Quando a arte e o livro se ilimitam

A Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, inaugurou esta sexta-feira a exposição “Tarefas Infinitas. Quando a arte e o livro se ilimitam”.

O curador, Paulo Pires do Vale, colaborador do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, apresenta uma exposição «remete para o diálogo infinito que a arte e o livro travam há séculos» a partir das coleções do Museu Gulbenkian e da Biblioteca de Arte.

«Ao longo do percurso expositivo, livros iluminados medievais surgem em diálogo com livros de artista contemporâneos, livros ilustrados do século XVII são exibidos junto a livros conceptuais do século XX e livros de horas confrontam-se com livros futuristas e livros de poesia visual», refere o texto de apresentação publicado no site da Fundação.

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Ao construir estas «pontes improváveis», o comissário quis que esta não fosse «uma exposição de livros de artista mas antes um lugar de “ensaio” no sentido filosófico», permitindo «articular e gerar sentidos entre os objetos expostos e os processos, físicos e mentais, que lhes deram existência objetual», escreve João Castel-Branco Pereira, diretor do Museu Gulbenkian.

FotoRobert Fludd (1574-1637)

«De modo teatral o comissário da exposição simula hesitações e dúvidas na abordagem dos livros de artista, aplicando a figura da retórica clássica que é a aporia. E com esta estratégia nos convida a confrontar a tarefa ilimitada que é a da transmissão e desenvolvimento do conhecimento de nós e do mundo, através dos livros ou da interrogação do seu valor de existência», acrescenta.

FotoDiogo Pimentão

São exibidas obras e livros de artistas como Amadeo de Souza-Cardoso, Ana Hatherly, Vieira da Silva, Lurdes Castro, Alberto Carneiro, Fernando Calhau, Ed Ruscha, Filippo Marinetti, Stéphane Mallarmé, Jean-Luc Godard, William Kentridge, Gordon Matta-Clark, Lawrence Weiner, Bas Jan Adar, Diogo Pimentão, José Escada, John Latham, Robert Filliou, Christian Boltanski e Olafur Eliasson, entre outros.

FotoApocalipse (Londres, c. 1265-1275)

O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura visitou a exposição, que fica patente até 21 de outubro, e apresenta os textos que podem ser lidos ao longo do percurso da mostra.

 

Com o infinito nas mãos

Abrir um livro é correr o risco de encontrar o infinito. Ter ao alcance da mão, nos limites da página, o sem-limites. E de que outro modo poderíamos nós encontrar o infinito senão no finito? Mensurável, palpável, visível. Nesse espaço aberto e branco da página, nas suas dobras, pode surgir o sem princípio, nem fim, nem centro: o Livro infinito. Liberdade que é também desorientação: perdem-se as certezas e as referências habituais; os caminhos e sentidos bifurcam-se; a noite cerca-nos. Uma espécie de cegueira: o livro abre uma obscuridade essencial. A dos novos começos.

FotoRui Chafes

 

O fogo e o livro por vir

Os livros são perigosos: ateiam-nos fogo. Temíveis: por isso, são atirados ao fogo. Há uma relação íntima entre o livro, o fogo e as cinzas. Como a consciência de que o livro da nossa vida nos pode queimar. De que somos livro a ser escrito. Como um mapa aberto à viagem. A fazer-se e a desfazer-se. De um monte de palavras ou imagens, dessa matéria, formar se ao outros livros possíveis, ainda por vir. Ou a reler. Desconhecidos. A biblioteca interminável de Babel. Tarefas infinitas, chamou lhes Husserl, porque não se limitam ao tempo de vida de um indivíduo e são criação comunitária. O livro, a arte, o pensamento, a ciência. Vem de longe e dirigem-se para longe. Ao virar a pagina, no infinito obscuro da origem, da se uma explosão de luz que é começo.

Foto

 

Tudo existe para chegar a um livro

Do mais comum quotidiano à mais extraordinária iluminação - e desorganizando essas categorias: tudo se dirige para um livro. O trabalho e o descanso, a dor e o prazer, a ficção e a realidade, o amor e a morte. As paredes grafitadas e a pele do corpo. O desejo enciclopédico de apreender todo o conhecimento do mundo. Refletir sobre a brevidade da existência ou prolongá-la numa imortalidade da memória. Estabelecer a normalidade ou desencadear a loucura. Heróis, cobardes, santos, loucos. O que podemos ser encontraremos num livro, ou resultará num livro: possibilidades-de-si desconhecidas. Existirá o mundo porque o livro existe?

FotoLuiza Neto Jorge (1939-1989); Jorge Martins

 

Linha infinita: história interminável

Um ramo fértil tem origem no livro: a escrita e a leitura são tarefas inacabáveis. Demoradas. Uma linha atravessa o livro, reinventa-se a cada página e transita para outros: como se de um mesmo livro se tratasse. Uma linha imemorial que vem de trás e que nos ultrapassará. Linha infinita que atravessa a História: Os autores contaminam-se. As personagens, citações e ideias migram de uns livros para outros. As leituras cruzam-se criando novos sentidos. Abrem-se estradas, propõem-se passeios e deambulações. O livro exige de nós tempo.

FotoAndré Balthazar; René Bertholo (1935-2005)

 

A fenda e a explosão: entrar / sair

Entre as mãos abre-se uma fenda. Uma entrada inesperada que altera a ordem do mundo. Um abismo. Ou uma casa - que oferece um outro modo de hospitalidade. Ou uma exposição no espaço do livro - um outro modo de relação com a obra de arte. Mas aí não podemos permanecer. Pelas fissuras do livro saem novas e inesperadas realidades Aparições. Anúncios que recriam o mundo. O livro tem algo de bomba. Explosão de palavras, ideias, imaginação, sentidos - que destroem e recriam o horizonte de possibilidades em que nos movemos. E exigem de nós: faz, pensa, vê, sê!

FotoCântico dos Cânticos

 

Fotografia: Rui Jorge Martins
24.07.12

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Helena Almeida

 

 

 

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