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Taizé: Milhares de jovens passam o ano em oração no país considerado o mais ateu da Europa

Imagem Praga | Foto: Comunidade de Taizé | D.R.

Taizé: Milhares de jovens passam o ano em oração no país considerado o mais ateu da Europa

Mais de 30 mil jovens participam a partir de hoje no encontro europeu organizado pela comunidade religiosa ecuménica de Taizé (França), que decorre até 2 de janeiro em Praga, capital da República Checa.

Na fachada da casa de Kafka, uma cruz de Taizé: em pleno centro da cidade decorada com as cores do Natal e atravessada por um vento glacial, a residência do escritor checo serve de base aos voluntários que trabalham continuamente para preparar a chegada, esta segunda-feira, dos 23 mil jovens vindos do estrangeiro e dos sete mil oriundos do país de acolhimento que são esperados para o encontro que se realiza numa cidade europeia na passagem do ano.

É a segunda vez que Praga acolhe esta iniciativa. Em 1990, após a queda da “Cortina de Ferro”, o entusiasmo foi extraordinário: 80 mil jovens foram acolhidos em famílias que gozavam de uma liberdade que até então lhes tinha sido proibida e que se admiravam dos peregrinos vindos do outro lado, o lado da democracia.

Este ano, metade dos jovens será alojada em escolas ou instalações paroquiais, por não se terem encontrado famílias disponíveis para abrir as suas portas. Um facto que ilustra a indiferença que suscita a Igreja católica no país considerado o mais ateu da Europa.

«Era necessário voltar à Europa central, 25 anos após a queda do Muro de Berlim, e no momento em que se assinala o centenário da Primeira Guerra Mundial», explica o Irmão Aloïs, prior de Taizé, que acrescenta: «Devemos lembrar-nos que foram os povos da Europa central e de Leste que tiveram a coragem de crer no impossível».

Mas hoje, os checos não parecem crer em grande coisa. «O consumismo tornou-se a religião», lamenta Martina Hoskova. Com 58 anos, esta mulher elegante de maquilhagem discreta testemunha os anos de chumbo sob o jugo comunista, durante os quais os seus pais recebiam discretamente os irmãos de Taizé, que viajavam em segredo para visitar os cristãos do Leste europeu.

O seu pai, Jiri Kaplan, editava clandestinamente livros religiosos: «Era muito importante para ele transmitir algo mais do que a assistência na missa dominical, única atividade religiosa tolerada na época, quando a catequese e quaisquer géneros de encontro eram interditos», conta.

No início dos anos 1980, o casal Kaplan organizou uma viagem a Praga do Irmão Roger, o fundador de Taizé, que rezou nas igrejas da cidade à hora das celebrações autorizadas, sem nenhuma publicidade oficial. «As igrejas transbordavam», recorda Martina, emocionada.

Nos últimos dias, pelo contrário, o encontro em preparação mal foi referido na imprensa local e passa quase desapercebido aos olhos dos habitantes. «Tenho a certeza de que a maior parte das pessoas daqui não está a par», refere Martina, muito empenhada na sua paróquia para acolher os jovens europeus.

«Os cristãos dissidentes na época comunista eram sobretudo leigos», explica o padre Petr Kolar, jesuíta. «Quando o regime caiu, eles deixaram a política para se dedicarem à sua profissão. Fazem-nos hoje uma falta imensa nos assuntos públicos», aponta.

Para ele, que viveu 20 anos de exílio antes de voltar a Praga, após a queda do Muro, a ausência dos cristãos da política permitiu o retorno da antiga nomenclatura.

Paradoxalmente, o P. Kolar, que durante muito tempo trabalhou como jornalista na rádio nacional checa, nota um verdadeiro interesse pela religião por parte dos intelectuais. «Mas o povo está descristianizado», acrescenta. «Não quer saber.»

«A grande maioria da população não é batizada e não cresceu num meio cristão», confirma D. Karel Herbst, bispo auxiliar de Praga.

Este salesiano de 72 anos, que conheceu os interrogatórios e as medidas de repressão soviéticas dos anos 70, recebe com verdadeira simplicidade, que contrasta com o imponente palácio arquiepiscopal dentro dos muros do castelo de Praga.

A questão da restituição aos católicos dos bens confiscados pelo regime comunista está no centro da hostilidade que alguns checos nutrem pela Igreja. «Para não ter de pedir dinheiro ao Estado, a Igreja quer tornar-se independente», explica o prelado, recordando-se do período comunista, quando o Estado financiava quem lhe obedecia.

Quanto às gerações juvenis, o bispo auxiliar considera que há mais indiferença do que hostilidade, com uma procura de espiritualidade que a pode conduzir para o esoterismo.

O P. Kolar, por seu lado, lamenta que à Igreja falte impulso e que passe ao lado de ocasiões para se juntar às preocupações da sociedade. Segundo ele, a Igreja não assumiu suficientemente as questões colocadas pelo sínodo da família, quando em Praga metade dos casamentos acabam em divórcio.

Em contrapartida, sublinha o dinamismo de algumas paróquias, como a da Academia de Praga, onde se encontram numerosos estudantes e universitários, e onde 150 catecúmenos se preparam para receber o Batismo.

«As paróquias são muito vivas. É verdade que os cristãos são uma minoria. Mas esta minoria pode transformar as coisas», sublinha o Irmão Aloïs. O tema deste encontro europeu de jovens é, precisamente, “Ser o sal da terra”.

O bispo auxiliar sustenta que «os jovens cristãos são bem vistos, melhor que a própria Igreja, especialmente por causa do comportamento que têm». «Este evento vai tornar o cristianismo visível de forma positiva», pensa o P. Kolar.

O encontro congrega católicos, ortodoxos e protestantes provenientes de 65 países, sobretudo da Polónia – a maior representação estrangeira –, França, Ucrânia, Alemanha, Itália, França, Croácia e Bielorrússia.

O programa diário inclui a oração da manhã na paróquia de acolhimento, momentos de reflexão, encontros com agentes pastorais das comunidades locais, oração do meio-dia, participação em ateliês sobre compromisso social, fé e criação artística, entre outros temas, e oração da noite no parque de exposições ou em algumas das principais igrejas da cidade.

Os participantes passam o ano em vigília de oração pela paz, seguida pela «festa dos povos» nas paróquias de acolhimento. O primeiro dia de 2015 inclui um encontro entre jovens do mesmo país.

Em mensagem dirigida aos jovens, o papa Francisco lembra-lhes que Deus quer dar ao mundo «o seu verdadeiro sabor» através da «descoberta da beleza da comunhão».

A comunidade de Taizé enumera quatro propostas para se ser «sal da terra»: «Partilhar o gosto de viver com os que estão à nossa volta», «Comprometer-nos pela reconciliação», «Trabalhar pela paz» e «Cuidar da nossa terra».



 

La Croix
Com SNPC
Vídeo: Comunidade de Taizé
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 29.12.2014

 

 

 
Imagem Praga | Foto: Comunidade de Taizé | D.R.
«Era necessário voltar à Europa central, 25 anos após a queda do Muro de Berlim, e no momento em que se assinala o centenário da Primeira Guerra Mundial», explica o Irmão Aloïs, prior de Taizé
«Os cristãos dissidentes na época comunista eram sobretudo leigos», explica o padre Petr Kolar, jesuíta. «Quando o regime caiu, eles deixaram a política para se dedicarem à sua profissão. Fazem-nos hoje uma falta imensa nos assuntos públicos»
«As paróquias são muito vivas. É verdade que os cristãos são uma minoria. Mas esta minoria pode transformar as coisas». O tema deste encontro europeu de jovens é, precisamente, “Ser o sal da terra”
O programa diário inclui a oração da manhã na paróquia de acolhimento, momentos de reflexão, encontros com agentes pastorais das comunidades locais, oração do meio-dia, participação em ateliês sobre compromisso social, fé e criação artística, entre outros temas, e oração da noite no parque de exposições ou em algumas das principais igrejas da cidade
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