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O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, recebido hoje em Bruxelas pela Comissão dos Episcopados da União Europeia (COMECE), apelou à redescoberta dos valores expressos pelo ensinamento social católico, e pediu paciência e determinação.
«Sou um fervoroso defensor da doutrina social da Igreja. É um dos ensinamentos mais nobres da nossa Igreja. Todo ele faz parte de uma doutrina que a Europa não aplica com a frequência que deveria», afirmou perante os prelados reunidos para a assembleia da primavera.
Durante o encontro, em que discursou durante cerca de 50 minutos e depois entrou em diálogo com os bispos, o responsável luxemburguês confessou um desejo: «Gostaria que redescobríssemos os valores e os princípios diretores do ensinamento social da Igreja».
Referindo-se aos refugiados, Juncker admitiu que do Velho Continente tem chegado sobretudo uma «resposta de tecnocratas», e elogiou a declaração do presidente da COMECE sobre a «responsabilidade partilhada de acolher, proteger, promover e integrar» os migrantes, na sequência do convite do papa Francisco.
A intervenção mencionou a necessidade de estabelecer um programa para África, porque só agindo no desenvolvimento dos países do continente é possível evitar que os jovens «morram no mar».
A saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado “Brexit”, é uma «questão grave», mas a União Europeia, afirmou, quer salvaguardar «uma relação amiga» com o país, na base de «uma história partilhada» e de «valores comuns».
Apesar dos problemas, a UE «é seguramente melhor do que aquilo que se diz», e quer continuar a ser «um projeto inclusivo», onde «a dignidade da pessoa humana» é «respeitada, independentemente da raça e da orientação sexual».
«Faço um apelo a vós, homens sábios. Os homens sábios são pacientes e determinados, e a Europa, neste momento, precisa de paciência e determinação», frisou.
A pouco mais de dois meses das eleições europeias, Juncker reiterou que «a Europa não é contra as nações» nem um projeto que visa «fazer desaparecer as identidades singulares num magma europeu».
«Juncker falou como homem político, mas também como cristão e crente», observou o bispo auxiliar de Bruxelas e delegado do episcopado belga na COMECE, ao comentar a intervenção.
Trata-se de uma personalidade «que tem uma experiência política única. E esta sua bagagem humana e profissional é importante, sobretudo nestas situações difíceis. Na sua palavra há sempre uma esperança, uma convicção forte pela Europa», acrescentou D. Jean Kockerols.
Uma das preocupações dos bispos é que muitas vezes a Europa é percecionada como «uma realidade longínqua», e as Igrejas locais podem ajudar a fazer compreender que a «pertença ao projeto europeu não é contrária à identidade nacional ou regional». «Creio que Juncker considera que as Igrejas podem ajudar a construir e reforçar esta unidade», assinalou.
O discurso positivo do presidente da Comissão também foi destacado pelo vice-presidente da COMECE: «Aquilo que me sensibilizou hoje na intervenção de Juncker foi a nota de esperança que o caracterizou, uma mensagem de confiança» na capacidade de a UE alcançar os seus propósitos.
D. Mariano Crociata lembrou que «há muitas pessoas que trabalham e acreditam na Europa», e por isso, «se há mensagem que deve ser lançada aos cidadãos, é uma mensagem de confiança».
«Há a possibilidade de fazer mais e melhor para superar os limites que a organização europeia mostrou até agora. Precaver-se dos riscos é bom, mas também é importante apostar e potenciar as possibilidades e a positividade que estão largamente presentes», sublinhou,
A COMECE é composta por bispos delegados pelas conferências episcopais católicas dos 28 estados-membros da UE. O delegado português é o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga.