Chamou a si os doze e começou a enviá-los (Marcos 6, 7-13). De cada vez que Deus te chama, põe-te em viagem. O nosso Deus ama os horizontes e o saibro. Dois a dois: porque dois não é simplesmente a soma de um mais um, é o início do nós, a primeira célula da comunidade.
Ordenou-lhes que não levassem mais que um cajado. Só um cajado a sustentar o cansaço e um amigo sobre o qual apoiar o coração. Nem pão, nem alforge, nem dinheiro, nem duas túnicas. Serão diariamente dependentes do Céu.
Vê-os avançar pelas curvas da estrada, parecem mendigos debaixo do céu de Abraão. Gente que sabe que o seu segredo está para além deles, «anunciadores infinitamente pequenos, porque só assim o anúncio será infinitamente grande» (G. Vannucci).
Mas se virmos melhor, podemos notar que além do cajado levam algo: um frasco de óleo à cintura. É uma peregrinação de mansidão e que cura, de corpo em corpo, de casa a casa. A missão dos discípulos é simples: são chamados a levar a vida por diante, a vida frágil: ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos.
Ocupam-se da vida, como o profeta Amós, expulsam os demónios, tocam os doentes e as suas mãos dizem: «Deus está aqui, está próximo de ti, com amor». Viram com Jesus como se tocam as chagas, como da dor nunca se foge, aprenderam a arte da carícia e da proximidade.
E proclamavam a conversão: converter-se ao sonho de Deus: um mundo curado, vida sem demónios, relações que se tornem harmoniosas e felizes, um mundo de portas abertas e brechas nos muros. As suas mãos sobre os doentes pregam que Deus já está aqui. Está junto de mim com amor. Está aqui e cura a vida. Francisco advertia os seus frades: pode pregar-se também com as palavras, quando não resta mais nada.
Se em algum lugar não vos acolherem e não vos escutarem, ide-vos embora e sacudi a poeira debaixo dos vossos pés como testemunho para eles. Jesus prepara-os também para o insucesso e para a coragem de não capitularem.
Como os profetas, que acreditam na Palavra de Deus mais ainda do que na sua realização: Isaías não verá a virgem dar à luz, nem Oseias verá Israel a ser conduzido de novo ao deserto do primeiro amor. Mas os profetas amam a Palavra de Deus mais ainda que os seus sucessos.
Os doze têm a mesma fé dos profetas: acreditam no Reino bem antes de o verem instaurar-se. O ideal neles conta mais do que aquilo que dele conseguem realizar.
Belíssimo Evangelho, onde emerge uma tripla economia: da pequenez, da estrada, da profecia. Os doze vão, os mais pequenos dos mais pequenos; pela estrada que é livre, que é de todos, que nunca se detém e que te impele; vão, profetas do sonho de Deus: um mundo totalmente curado.