O papa destacou hoje os perigos que decorrem de uma atitude acomodada ao que se pensa conhecer sobre Deus, sublinhou que sem abertura ao novo, rompendo esquemas de pensar e agir dados como imutáveis, a fé cristã corre o risco de se dissolver, e afirmou que o «espanto» é o selo que distingue o encontro autêntico do crente com Jesus.
Francisco alertou para os perigos que recaem sobre os cristãos que pensam «saber já muito sobre» sobre Jesus, e que, por estarem agarrados a essa convicção, acreditam que lhes «basta repetir as coisas de sempre», o que se torna ainda mais grave quando essas frases feitas estão ancoradas na «comodidade do hábito» e na «ditadura dos preconceitos».
«Sem abertura à novidade e às surpresas de Deus, sem espanto, a fé torna-se uma litania cansada que lentamente se extingue e se torna um hábito, um hábito social», frisou Francisco na meditação anterior à oração do Angelus, na qual comentou o Evangelho proclamado nas missas deste domingo (Marcos 6, 1-6).
O «espanto» que ao mesmo tempo maravilha e transtorna o crente «é como o certificado de garantia» que o encontro com Deus «é verdadeiro», no seguimento do que é narrado «tanteas vezes» no Evangelho.
Para muitos ao tempo de Jesus, foi «escandaloso que a imensidão de Deus» se tenha revelado num homem referenciado como «filho do carpinteiro», e que «a divindade se oculte na humanidade» e «habite no rosto, nas palavras, nos gestos de um simples homem».
«Na realidade, é mais cómodo um deus abstrato e distante, que não se imiscua nas situações e que aceita uma fé distante da vida, dos problemas, da sociedade. Ou então agrada-nos acreditar num deus “dos efeitos especiais”, que só faz coisas excecionais e dá sempre grandes emoções», assinalou.
A ponte entre o divino e o terreno que Jesus estabeleceu com a sua proximidade, chegando o incomensurável à pequenez humana, não foi o único motivo de perturbação das pessoas que o conheceram na sua infância e juventude e agora o veem assumir-se como Filho de Deus: é a sua presença nas “coisas mínimas” da vida de cada pessoa que confunde.
«Deus encarnou-se: humilde, terno, oculto, faz-se próximo de nós habitando a normalidade da nossa vida quotidiana. E então, como os conterrâneos de Jesus, arriscamo-nos a que, quando passa, não o reconheçamos», observou Francisco, que de seguida propôs uma interpelação: «Pensemos a como é o nosso coração em relação a esta realidade».
Imediatamente antes do início da oração do Angelus, que medita nos momentos em que Jesus se fez carne na sua mãe, Maria, o papa lembrou que ela acolheu «o mistério de Deus no quotidiano de Nazaré», ou seja, na “rotina” da sua existência.
«Peçamos a Nossa Senhora (…) para ter corações livres dos preconceitos e ter olhos abertos ao espanto: “Senhor, que eu te encontre”». E quando encontramos o Senhor há este espanto. Encontramo-lo na normalidade: olhos abertos às surpresas de Deus, à sua presença humilde e oculta na vida de cada dia», apontou.
Após a oração do Angelus, Francisco anunciou que presidirá à missa que encerrará o Congresso Eucarístico Internacional, a 12 de setembro, em Budapeste, Hungria, e que nessa mesma data iniciará uma visita pastoral à Eslováquia, que se prolongará até dia 15.
Durante a tarde, o papa ficou internado no hospital A. Gemelli, em Roma, para ser submetido a uma cirurgia programada no cólon.