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S. Francisco Xavier, padroeiro do Oriente, pioneiro das missões modernas

Imagem Os milagres de S. Francisco Xavier (det.) | 1617-18 | Peter Paul Rubens | Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria

S. Francisco Xavier, padroeiro do Oriente, pioneiro das missões modernas

Pioneiro das missões dos tempos modernos, padroeiro do Oriente desde 1748, da Obra da Propagação da Fé desde 1904, de todas as missões (com Santa Teresa do Menino Jesus) desde 1927, Francisco nasce de pais nobres a 7 de abril de 1506 no castelo de Xavier, comunidade de Navarra, atual Espanha.

Francisco não se tornou jurista e administrador, como o pai, nem guerreiro, como os seus irmãos maiores, mas eclesiástico. Em 1525 encontramo-lo em Paris, para obter o doutoramento, sonhando com ricos benefícios na diocese de Pamplona. O encontro com Inácio de Loyola foi providencial porque o transformou de campeão de salto e corrida em arauto do Evangelho, de professor de filosofia em santo.

Inscrito no colégio de Santa Bárbara, onde Francisco estudava, o fundador da Companhia de Jesus conheceu a fundo a sua alma e por ele ganhou afeto, tendo-lhe várias vezes recordado a pergunta de Jesus: «Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se depois perde a alma?» (Marcos 8, 36).

Mais tarde, Inácio confidenciará que Francisco foi a mais dura porção de massa que alguma vez teve de amassar, e Xavier, ao completar quarenta dias de retiro sob a direção de Inácio, antes de iniciar o estudo da teologia, rezará: «Agradeço-te, Senhor, pela providência de me teres dado um companheiro como Inácio, inicialmente tão pouco simpático».

A 15 de agosto de 1534, juntamente com Inácio, na igrejinha de Santa Maria de Montmartre, fez voto de castidade, pobreza e de peregrinar à Palestina ou, em caso de impossibilidade, de ir para Roma para se colocar à disposição do papa.

Também ele, no início de 1537, juntou-se com os outros primeiros seis companheiros em Veneza, mas a guerra entre a Turquia e a República Veneziana impediu-os de concretizar o voto. Inácio e os seus discípulos dedicaram-se então à assistência aos doentes e, depois de serem ordenados padres, à pregação nas praças.

Em Bolonha, especialmente, Francisco adquiriu fama de pregador e consolador dos doentes e dos encarcerados, mas a sua saúde deteriorou-se em virtude das austeríssimas penitências. Santo Inácio chama-o então a Roma, como seu secretário.

Na primavera de 1539 toma parte da fundação da Companhia de Jesus, e no ano seguinte foi enviado para as Índias Orientais na qualidade de legado papal para todas as terras situadas a oriente do Cabo da Boa Esperança, no seguimento dos insistentes pedidos dirigidos por João III, rei de Portugal, a Inácio.

Durante a penosa viagem, que se arrastou por 13 meses, Francisco assume a assistência espiritual aos 300 passageiros, apesar de durante dois meses ter sofrido dos males causados pelo mar.

Uma noite, no hospital em Moçambique, o médico encontrou-o a tremer de febre, e ordenou-lhe que se fosse deitar. Dado que um marinheiro estava a morrer impenitente, responde-lhe: «Não posso ir. Um irmão precisa muito de mim».

Estabelecido no colégio de S. Paulo, em Goa, começou em 1542 o seu apostolado na colónia portuguesa, que, com a sua vida imoral, escandalizava até os pagãos. Depois estende o seu ministério aos doentes, aos prisioneiros e aos escravos. O cuidado que tinha com todos mereceu-lhe o título de “Santo Padre” e “Grande Padre”. Com um sino recolhia as crianças pelas estradas e ensinava-lhes o catecismo e cânticos espirituais.

Após cinco meses, o governador das Índias enviou-o para o sul do território, onde os portugueses tinham construído as suas fortalezas, estabelecido trocas comerciais e batizado os indígenas e os prisioneiros de guerra sem suficiente preparação. Muitos tinham caído na idolatria, como os pescadores de pérolas que oito anos antes haviam pedido o Batismo para serem defendidos dos maometanos.

Com a ajuda de intérpretes, Francisco traduz nos seus idiomas as principais orações e verdades da fé. Depois, durante dois anos, passou de povoação em povoação, a pé ou em desconfortáveis embarcações de cabotagem, exposto a mil perigos, fundando igrejas e escolas, fazendo-se mestre, médico, juiz, defensor contra a extorsão dos portugueses, saudado em todo o lado como santo e taumaturgo.

«É de tal maneira grande a multidão dos convertidos – escrevia ele – que muitas vezes me doem os braços de tanto batizar e não tenho mais voz nem força para repetir o Credo e os mandamentos na sua língua.» Num mês chegou a batizar dez mil pescadores.

Entretanto, recebe a triste notícia de que 600 cristãos tinham preferido deixar-se matar a regressar ao paganismo. «Estou tão cansado de viver, que a melhor coisa para mim seria morrer pela nossa santa fé», anotou. Entristecia-o também ver cometer muitos pecados e nada poder fazer.

Apesar de estar continuamente à disposição do próximo, o santo foi sempre maltratado pelos oficiais e mercadores portugueses, decididos a não permitir que a sua procura das almas fosse um obstáculo à busca de prazeres e riquezas.

Entre 1545 e 1547 abre novos campos de apostolado. Prega durante quatro meses no importante centro comercial de Malaca; visita o arquipélago das Molucas. Desloca-se à extrema fortaleza dos portugueses, na ilha de Ternate, Indonésia, e mais além, até Morotai, ao norte das Molucas, habitada por caçadores de cabeças, onde aos hóspedes indesejados se servia comida envenenada. Quando Francisco decide visitar a ilha, sugerem-lhe que leve antídoto, mas ele prefere colocar a sua confiança em Deus.

Passados três meses extenuantes regressa a Ternate, onde o sultão o acolhe amavelmente, mas à fé cristã prefere as suas cem mulheres e as numerosas concubinas.

Voltando a Malaca em dezembro de 1547, Francisco encontra um fugitivo japonês, Anjiro, desejoso de fazer-se cristão para se libertar do remorso causado por um delito cometido na pátria. O santo fica seduzido pelas novidades sobre o Japão e os seus habitantes, despertando-se nele o desejo de os evangelizar. Se bem o pensou, melhor o fez, desembarcando em Kagoshima a 15 de agosto de 1548.

O príncipe Shimazu Takahisa acolhe-o gentilmente, e enquanto estudava a língua do país, Anjiro convertia ao catolicismo mais de uma centena de parentes e amigos. «Os japoneses são o melhor dos povos», escreve Francisco Xavier.

Quando o príncipe, incitado pelos bonzos, proibiu mais batismos, o corajoso missionário decide apresentar-se ao imperador e à universidade da capital, Quioto, mas por causa da guerra civil endémica a instituição não lhe abre as portas e o imperador, em fuga, não quer recebê-lo (1551) por estar desprovido de presentes e pobremente vestido. Apresenta-se então, em vestes esplêndidas e com preciosas ofertas, ao príncipe de Yamaguchi, que lhe concede plena liberdade de pregação. Em pouco tempo consegue criar um florescente cristianismo e a estendê-lo ao vizinho reino de Bungo.

Chamado para tratar de assuntos urgentes, regressou à Índia no inverno de 1551; por essa altura havia mais de mil cristãos no Japão. As fadigas haviam embranquecido os seus cabelos. Muitas vezes caminhou de pés descalços e ensanguentados e teve de atravessar rios gelados. Exausto, caía frequentemente nas bermas dos caminhos. Por vezes, para prosseguir viagem, tornou-se criado de viajantes mais afortunados.

Para os japoneses, os chineses eram mestres indiscutíveis de toda a sabedoria. Ouvindo os bonzos afirmar que se a religião cristã fosse verdadeira, os chineses já a teriam conhecido, decide ir ao seu encontro para os converter.

Dado que a prisão ou a morte eram a sorte que tocava a todos os estrangeiros que procuravam entrar na China, Francisco organizou uma embaixada para a corte do imperador, de que ele teria feito parte. Em Malaca, porém, o almirante português em funções, irritado por não ter sido escolhido com embaixador, cancelou a viagem e denunciou publicamente o santo como falsificador de bulas papais e imperiais.

Sem se deixar abater pelo rude golpe, Francisco aportou em 17 de abril de 1552 na ilha de Sanchuan, com um servo chinês convertido, António de Santa Fé. Lá encontrou antigos amigos que lhe ofereceram hospitalidade e um contrabandista que, por 200 ducados, se declarou disposto a desembarcá-lo secretamente no porto de Cantão.

A um amigo, o santo escreve: «Reza muito por nós, porque corremos grande perigo de ser presos. Todavia, já nos consolamos antecipadamente com o pensamento de que é melhor ser prisioneiros por puro amor de Deus, que ser livres por ter querido fugir ao tormento e à pena da cruz».

No dia combinado, o contrabandista faltou à palavra. No rigoroso inverno, Francisco adoeceu e, privado de cuidados, morre numa cabana a 3 de dezembro de 1552, depois de repetir insistentemente: «Jesus, filho de David, tem piedade de mim! Ó Virgem, Mãe de Deus, recorda-te de mim».

A carta que Inácio de Loyola lhe dirigiu, chamando-o, pelo menos provisoriamente, à Europa, chegou ao destino quando já tinha morrido.

O seu corpo foi sepultado pelo servo na parte setentrional da ilha. Dois anos depois foi transportado, íntegro e intacto, primeiro para Malaca e depois para Goa, onde se venera na igreja do Bom Jesus.

O papa Paulo V beatificou-o a 21 de outubro de 1619 e Gregório XV declarou-o santo a 12 de março de 1622. Calcula-se que Francisco tenha batizado cerca de 30 mil pessoas.

 

Fonte: Santi i beati
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 03.12.2015

 

 
Imagem Os milagres de S. Francisco Xavier | Peter Paul Rubens | 1617-18 | Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria
Inácio confidenciará que Francisco foi a mais dura porção de massa que alguma vez teve de amassar, e Xavier, ao completar quarenta dias de retiro sob a direção de Inácio, antes de iniciar o estudo da teologia, rezará: «Agradeço-te, Senhor, pela providência de me teres dado um companheiro como Inácio, inicialmente tão pouco simpático»
Na primavera de 1539 toma parte da fundação da Companhia de Jesus, e no ano seguinte foi enviado para as Índias Orientais na qualidade de legado papal para todas as terras situadas a oriente do Cabo da Boa Esperança, no seguimento dos insistentes pedidos dirigidos por João III, rei de Portugal, a Inácio
Durante dois anos, passou de povoação em povoação, a pé ou em desconfortáveis embarcações de cabotagem, exposto a mil perigos, fundando igrejas e escolas, fazendo-se mestre, médico, juiz, defensor contra a extorsão dos portugueses, saudado em todo o lado como santo e taumaturgo
As fadigas haviam embranquecido os seus cabelos. Muitas vezes caminhou de pés descalços e ensanguentados e teve de atravessar rios gelados. Exausto, caía frequentemente nas bermas dos caminhos. Por vezes, para prosseguir viagem, tornou-se criado de viajantes mais afortunados
Para os japoneses, os chineses eram mestres indiscutíveis de toda a sabedoria. Ouvindo os bonzos afirmar que se a religião cristã fosse verdadeira, os chineses já a teriam conhecido, decide ir ao seu encontro para os converter
A um amigo, o santo escreve: «Reza muito por nós, porque corremos grande perigo de ser presos. Todavia, já nos consolamos antecipadamente com o pensamento de que é melhor ser prisioneiros por puro amor de Deus, que ser livres por ter querido fugir ao tormento e à pena da cruz»
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