«Salam aleikhum!» «A paz esteja convosco!» Que esta saudação seja trocada entre nós como um desejo de bênção mútua. Sim, é uma grande bênção estarmos reunidos neste dia 25 de março, onde cristãos e muçulmanos celebram juntos Maria, aqui no Líbano.
Para uns como para outros, Maria é um exemplo de crente. Com confiança, Maria abandonou-se à vontade de Deus. Dela podemos aprender esta atitude de abandono em Deus. Gostaria de dizer aos nossos amigos muçulmanos aqui presentes o quanto admiro, na sua grande tradição espiritual, essa sede de abandono em Deus.
Desde há alguns anos aprofundamos em Taizé um diálogo de amizade entre muçulmanos e cristãos. Para nós, é precisamente no nome da nossa fé que desejamos entrar nesse diálogo.
Com efeito, vemos no Evangelho como Jesus ultrapassou barreiras culturais, sociais e religiosas do seu tempo para entrar em relação com pessoas que não eram do seu povo, que não partilhavam a sua fé.
Como adotar, por nossa vez, essa atitude de profunda abertura que nós vemos em ação na vida de Jesus? É em primeiro lugar, creio, através de uma vida interior florescente que podemos receber sem medo a diferença do outro, a sua alteridade, numa confiança benevolente.
O fruto desta atitude interior encontra-se numa fraternidade autêntica com aqueles que nos rodeiam. Após várias décadas, irmãos da nossa comunidade vivem essa amizade em pequenos grupos nos diferentes continentes. No Bangladesh e no Senegal, em bairros onde a população é maioritariamente muçulmana, eles ataram verdadeiros laços de amizade.
Se falamos de fraternidade, é também porque acreditamos que Deus é um pai para todos os humanos. E para nós, cristãos, é através da vida, da morte e da ressurreição de Jesus que descobrimos esse amor incondicional de Deus.
Fazer crescer a fraternidade e a amizade implica respeitar o outro na sua diferença. Em todo o diálogo inter-religioso autêntico, uma atitude de respeito deverá evitar querermos forçar o outro a pensar como nós. Uma amizade verdadeira é possível com pessoas que pensam de maneira muito diferente, inclusive sobre assuntos essenciais.
Claro que esta amizade comporta também, sem dúvida, um elemento de dor, porque o tesouro da minha fé não pode ser inteiramente recebido e partilhado pelo outro. O que para mim a fonte de uma alegria profunda, pode mesmo ser-lhe inacessível.
Que isso não nos impeça de entrar em diálogo. Mesmo com estes misteriosos limites, somos sempre chamados a amar e respeitar o outro tal como é, a esforçar-nos para conhecer melhor aquilo em que ele acredita e aquilo que vive.
Neste tempo em que o nosso mundo é muitas vezes sacudido por acontecimentos violentos, é fundamental fazer tudo para exprimir que as religiões não querem a violência, mas procuram ser fatores de paz, de amizade, de fraternidade entre todos os humanos.
Desejo que este dia celebrado em conjunto permita a cada um de nós conhecer um alargamento do coração. Sim, acolhamo-nos mutuamente, deixemo-nos acolher pelo outro – a pessoa que está cara a cara, o estrangeiro, aquele que é diferente de mim.