A mais recente edição da revista "Communio" é dedicada à "Unidade da Igreja", tema que se confronta «com a realidade histórica que a parece contradizer pela manifesta dificuldade concreta dos cristãos em se manterem unidos».
«Perante as divisões que se foram criando ao longo do tempo, a Igreja de hoje está consciente da sua obrigação de procurar novos caminhos de união», aponta o texto de apresentação, assinado por Henrique Noronha Galvão e Alexandre Palma.
No artigo de abertura, "(Re)pensar a unidade", José Maria da Silva Rosa reflete sobre «uma questão humana de sempre: a da relação entre o Uno e o Múltiplo», começando por revisitar a sabedoria dos pensadores gregos que viveram antes do filósofo Sócrates, antecipadores de «questões que animaram épocas sucessivas».
«De seguida, esse (re)pensar concentra-se no universo religioso, sobretudo na forma como monoteísmo e politeísmo se foram articulando e transformando, para por fim se aproximar do tema da unidade vivida e entendida na esfera propriamente cristã», sintetiza a introdução.
Em "A unidade no quarto Evangelho", Mário Sousa apresenta «um itinerário biblicamente documentado que ajuda a perceber como a unidade é um tema central» do texto atribuído a João, explorando o simbolismo de alguns episódios.
D. José Manuel Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda, sustenta, no artigo "A liturgia, sacramento de unidade", como na ação litúrgica se manifesta e constrói a unidade da Igreja, a qual, segundo a tradição cristã, constitui um dos frutos da liturgia.
"'Muitos, somos um só corpo.' As dimensões eucarísticas da unidade segundo Henri de Lubac", de Mons. Éric de Moulins-Beaufort, sublinha como o teólogo francês parte do versículo «uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos participamos desse único pão», de S. Paulo, para chegar à afirmação de que «a Eucaristia faz a Igreja, a Igreja faz a Eucaristia».
A partir da sua experiência como bispo auxiliar na Suíça, D. Peter Henrici propõe uma reflexão sobre as conferências episcopais, que o papa Francisco tem fortalecido em favor de um governo mais descentralizado da Igreja, enquanto «contributo promissor para a unidade da Igreja». Uma nota de Maria Branco, acrescentada ao artigo, ajuda o leitor a situar esta problemática no panorama da Igreja em Portugal.
O presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, no texto "Unidade da Igreja numa perspectiva ecuménica", assina uma «visão de conjunto da situação histórica e atual», realçando que apesar de «alguns entendimentos parciais» é necessário alcançar o «consenso sobre o próprio conceito de ecumenismo, o que ainda não se conseguiu».
«Do lado evangélico defende-se uma “comunidade das Igrejas” (Acordo de Leuenberg), em vez do objectivo de se alcançar uma “comunidade da fé, dos sacramentos, do ministério” (Bento XVI). Por seu lado, as Igrejas ortodoxas entendem-se como Igrejas autocéfalas e autónomas. Na visão católica, a Igreja deve comparar-se a uma elipse com os dois focos: Igrejas locais e Igreja universal», explica o texto de apresentação da revista.
"Paulo VI, obreiro da unidade entre as Igrejas" é um estudo de Aldino Cazzago que destaca a permanente preocupação manifestada por aquele pontífice para esclarecer a «função fundamental» do papado «como serviço à garantia e à promoção da unidade de toda a Igreja».
O Beato Giovanni Montini estava consciente de que o papado, para muitos irmãos separados, constitui um obstáculo a essa unidade, pelo que tentou superar essa situação com «gestos proféticos», como o abraço ao patriarca Atenágoras e o beijo aos pés do metropolita Melitão, depois de no fim do Concílio Vaticano II (1962-1965) se ter decidido a comum abolição das excomunhões que dividiam as Igrejas católica e ortodoxa.
O irmão Alois, atual prior de Taizé, escreve sobre o fundador da comunidade ecuménica sediada na povoação francesa, o irmão Roger, assassinado em 16 de agosto de 2005, quando se encontrava na igreja em oração.
Alexandre Bonito, protopresbítero da Igreja Ortodoxa, escreve um testemunho sobre a unidade da Igreja, vista como “unidade com Cristo no Espírito Santo”, «expressa pelo termo russo "sobornost", designando a comunidade-comunhão que liga o corpo eclesial com os membros individuais
Manuel Barbosa, secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, salienta como a preparação do Sínodo dos Bispos que o papa Francisco convocou para refletir sobre a família constitui um convite «a tomar consciência da importância do contributo de toda a comunidade eclesial para se responder aos desafios atuais do mundo».
O artigo "Mudança de religião e perseguição religiosa", de Hans Maier, fecha este número da edição portuguesa da revista "Communio", iniciada em 1984.
Rui Jorge Martins