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“Responsabilidade social da fé” é o tema do novo número da revista “Didaskalia”

Imagem Capa (det.) | D.R.

“Responsabilidade social da fé” é o tema do novo número da revista “Didaskalia”

«O que é próprio do cristão? O que é uma fé reta? A fé que opera pela caridade e dá frutos de amor. O que é próprio do amor de Deus? Observar os mandamentos e amar o próximo. E o que é próprio do amor ao próximo? Não buscar o interesse próprio mas o interesse daquele que se ama, tanto no que toca à alma como ao corpo».

Estas formulações de S. Basílio Magno, que se mantêm tão atuais como quando foram redigidas, no séc. IV, enquadram o novo número da revista semestral “Didaskalia”, publicada pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), dedicada ao tema “Responsabilidade social da fé”.

O 2.º fascículo de 2014 aborda «sob diversos ângulos, a relação entre a fé e o compromisso com a cidade dos homens», explica a nota de apresentação.

«Desde a tradição bíblica até às interpelações mais recentes do papa Francisco, é-nos proposto um percurso de reflexão sobre questões tão antigas e tão novas como: a pobreza, o uso dos bens, a doutrina social da Igreja, a opção pelos pobres, o catolicismo e a ordem social, a relação entre o anúncio e celebração da fé e o compromisso social», acrescenta o texto.

Em “The richness of the poor in the Holy Scripture”, José Carlos Carvalho centra-se na «dupla perspetiva bíblica sobre a pobreza»: «Enquanto contexto social do qual não somos os causadores ou responsáveis, ou como um estado de espírito que promove a fraternidade e a bem-aventurança».

«Ambas as perspetivas criticam a mundividência que olha para a pobreza como um castigo divino ou como uma fatalidade da qual não existe escapatória possível», refere a síntese do artigo.

Fernando Rivas Rebaque pergunta se “¿Los ricos pueden salvarse?”, questionamento baseado na obra “O pastor”, de Hermas, escrita em meados do séc. II, que propõe «um novo modo de relacionamento entre ricos e pobres na comunidade cristã com base na esmola redentora».

«Pela primeira vez na história do cristianismo os ricos, em vez de serem condenados ou induzidos à conversão, são convidados a prestar um serviço», ajudando os pobres, recebendo, em troca, «a vida eterna por meio daqueles a quem ajudaram».

Américo Pereira, colaborador da página do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, propõe o artigo intitulado “Da legitimidade da posse das riquezas à luz de dois Sermões agostinianos (15/A e 50)”.

«O direito à posse de bens depende do bom uso a que estes se destinam. A posse não é, assim, um direito absoluto, talvez vazio de razão fundadora, mas constitui um direito relativo, dependendo, deste modo, de um bem a que a mesma riqueza se encontra teleologicamente apontada», assinala o resumo.

“Repulsa e atração nas migrações – a pobreza e o pobre nas obras morais de Hume e Smith”, de Paulo Eurico Alves Variz, analisa os escritos de dois dos principais representantes do Iluminismo escocês, «com vista a procurar identificar o contributo das suas obras morais para a reflexão em torno da pobreza, do lugar que a mesma ocupa, e do deslocamento do indivíduo pobre».

Joaquim Cerqueira Gonçalves detém-se na “Doutrina social da Igreja católica. Questões de fundamentação teológica e filosófica”, começando por recordar que a encíclica “Rerum novarum”, do papa Leão XIII, é «até hoje a matriz de uma tradição nunca esmorecida», suportada pela Bíblia, a tradição e a teologia.

«Mas se esses documentos do Magistério têm sido de matiz acentuadamente pastoral, há na teologia que os apoia supostos filosóficos cuja repercussão se faz sentir na doutrina social. É com esses supostos que aqui se dialoga, ao mesmo tempo que se vão explicitando», explica o autor.

Em “Dottrina sociale della chiesa e teologia morale”, Sergio Bastianel S.J. e Donatella Abignente chamam a atenção para «três questões que exprimem o cuidado da doutrina social da Igreja e da teologia moral hodierna: A relação entre pessoa e bem comum, entre solidariedade e privilégio do mais fraco, entre formação de consciência e viver estruturado».

«A honestidade humana amadurece quando conscientemente compromete a própria liberdade em responsabilidade face ao outro, na busca sincera e objetiva de comunhão. Na palavra e na existência de Jesus de Nazaré a solidariedade torna-se patente no seu sentido e na sua possibilidade concreta nesta história, como realidade de partilha e de construção gratuita de reciprocidade», sustentam os investigadores.

Pedro Rubens Ferreira de Oliveira e Francisco de Aquino Júnior debatem “A atualidade da opção pelos pobres para a Igreja e a Teologia”, começando por observar «o modo como Francisco retoma e repropõe a opção pelos pobres para toda a Igreja, a partir da exortação apostólica “Evangelii Gaudium”».

«Em segundo lugar, o artigo faz uma releitura da relação entre Jorge Bergoglio e os teólogos da libertação, não somente para discernir as continuidades e descontinuidades entre eles, mas, sobretudo, para vislumbrar a atualidade da opção pelos pobres e a agenda aberta ao labor teológico.»

“Missão e transformação social” é o tema do texto de José Nunes, para quem «a missão da Igreja não pode deixar de lado toda a problemática que se esconde por detrás de conceitos como “libertação”, “promoção humana”, “denúncia profética”,

“luta contra a injustiça”, “erradicação da pobreza”, “direitos humanos”, “enfrentamento face a todo o tipo de opressão”, “defesa da dignidade dos marginalizados”».

Luca Diotallevi propõe o estudo “Cattolicesimo e ordine sociale. La questione dell’ordine sociale nella semantica religiosa contemporanea, con particolare riferimento al cattolicesimo europeo-continentale”, que «pretende ser uma abordagem sociológica de uma estrutura do catolicismo contemporâneo, com particular incidência na sua expressão centro-ocidental da Europa continental».

«Cientes de que o catolicismo não se pode reduzir à sua dimensão religiosa, ainda que esta dimensão, hoje em crise, seja a tendência dominante há séculos, o presente contributo pretende levar a cabo uma breve síntese dos resultados adquiridos pela investigação dedicada à semântica religiosa católica contemporânea e, em particular, ao modo como esta tematiza e organiza as questões relativas à ordem social», explica o autor.

O bispo de Bragança-Miranda, D. José Manuel Cordeiro, realça, no seu texto, que a «Liturgia é a primeira escola da fé e da vida espiritual», não sendo «só rito, nem mera execução de rubricas, mas “ethos” e, fundamentalmente uma arte da ação, onde a Igreja vai buscar as ajudas para a sua vida quotidiana».

«A Liturgia é a Bíblia transformada em oração. A fé professada e transmitida pela Igreja é celebrada na Liturgia e irradia para a vida na caridade», acentua o prelado no artigo “Da Liturgia à vida”.

Por fim, Acácio F. Catarino incide a sua reflexão no texto “As comunidades cristãs e a ação social. Caminhos de reflexão e de prática”, que indica «algumas notas que caracterizam a ação social das comunidades cristãs: o paradoxo da informalidade e do peso institucional; a secundarização do laicado; a cumplicidade sistémica; o empobrecimento da pastoral social; e alguns bloqueios».

O autor sugere «algumas linhas práticas a ter em conta nas paróquias e instituições da Igreja, à luz da doutrina social da Igreja: assunção e reconhecimento da identidade laical; animação das comunidades cristãs; coordenação da ação social paroquial; participação no Conselho Pastoral Paroquial; integração na ação social da Diocese; cooperação com entidades não eclesiais; e viver em irmandade cristã».

Esta edição da “Didaskalia” termina com a secção dedicada às recensões.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 09.12.2014

 

 

 
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O direito à posse de bens depende do bom uso a que estes se destinam. A posse não é, assim, um direito absoluto, talvez vazio de razão fundadora, mas constitui um direito relativo, dependendo, deste modo, de um bem a que a mesma riqueza se encontra teleologicamente apontada
A honestidade humana amadurece quando conscientemente compromete a própria liberdade em responsabilidade face ao outro, na busca sincera e objetiva de comunhão
A missão da Igreja não pode deixar de lado toda a problemática que se esconde por detrás de conceitos como “libertação”, “promoção humana”, “denúncia profética”, “luta contra a injustiça”, “erradicação da pobreza”, “direitos humanos”, “enfrentamento face a todo o tipo de opressão”, “defesa da dignidade dos marginalizados”
A «Liturgia é a primeira escola da fé e da vida espiritual», não sendo «só rito, nem mera execução de rubricas, mas “ethos” e, fundamentalmente uma arte da ação, onde a Igreja vai buscar as ajudas para a sua vida quotidiana»
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