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Jornada da Pastoral da Cultura: Relação entre cultura e economia pode ser ponto de encontro entre Igreja e pessoas «em busca»

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Jornada da Pastoral da Cultura: Relação entre cultura e economia pode ser ponto de encontro entre Igreja e pessoas «em busca»

O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz considera que o tema da 12.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, "Cultura e economia - Implicações e desafios", que se realiza este sábado, em Fátima, pode constituir um ponto de encontro entre crentes e pessoas «em busca».

«Não podemos pensar que fora da Igreja só há inimigos dela. Há muitas pessoas que estão em busca, que procuram alguma coisa, e que nós, por vezes, não sabemos encontrar a melhor forma de responder a esses anseios e buscas», declarou esta quarta-feira Pedro Vaz Patto, acrescentando que «a relação entre a economia e a cultura pode ser um desses âmbitos de encontro».

No programa de debate religioso que a Renascença apresenta semanalmente, o responsável recordou os «vários economistas» para quem é «muito redutor fazer uma análise puramente materialista e quantitativa da economia, como se não estivessem em causa pessoas mas números».

«Isso acaba por ser empobrecedor também para a própria análise económica, porque sendo uma ciência social tem de ter em conta todas as dimensões da pessoa. A cultura dá uma perspetiva mais integral daquilo que são os anseios das pessoas», afirmou, antes de expressar a convicção de que «a economia pode ser enriquecida pela cultura, mas a cultura também pode ser enriquecida com a economia».

Para a jornalista Aura Miguel, a «relação entre Igreja e cultura nem sempre tem corrido bem»: «Nós vemos a evolução da nossa história ao longo dos séculos, a beleza de um Giotto, de um Fra Angelico, absolutamente luminosos. Quando se sobrepõe o Iluminismo e o homem centrado em si, há a pretensão do fazer sozinho».

«Há coisas extraordinárias - não quero dizer que depois do Iluminismo toda a cultura seja menor. O que quero sublinhar é que se introduziu uma pretensão individualista. Muito melhor do eu soube explicar o papa Bento XVI no Colégio dos Bernardins [Paris, 12.9.2005], quando fez um discurso perante o supra-sumo da cultura reunido para o ouvir», recordou a repórter da Renascença.

«A partir de uma frase de Eliot, que se interrogava sobre tinha sido a humanidade que abandonou a Igreja - com a pretensão de ser capaz sozinha, sem Deus, e Deus, quando é preciso, vou buscá-lo de vez em quando, se não fica acantonado - ou se tinha sido a Igreja a abandonar o homem, entrincheirando-se naquilo que consideravam ser os clichés da verdadeira cultura e desinteressando-se de tudo o que não se enquadrava neles. Os dois afastamentos fizeram com que, gradualmente, cada vez menos o mundo da cultura se reveja na Igreja», assinalou.

Esta tendência, todavia, não se pode generalizar: «Não é por acaso que o Santuário de Fátima tem um conjunto de iniciativas para seduzir, entre aspas, todo o universo mais esclarecido do ponto de vista cultural, com atividades muito interessantes no programa do centenário das aparições. Já antes João Paulo II tinha feito o Jubileu dos Artistas. E Bento XVI inventou o Átrio dos Gentios justamente por haver pessoas com a inquietação de que falava Pedro Vaz Patto. Existe um tatear nos novos desafios que se colocam à Igreja porque a ligação à cultura ainda é muito tímida».

No entender de Aura Miguel, o tema da Jornada Nacional da Pastoral da Cultura «dá muito pano para mangas»: «A cultura, muitas vezes, também é um negócio. A cultura vende e nessa atividade tem determinados interesses, umas vezes com coisas muito boas, outras vezes nem por isso. Mas não deixa de ser um sinal de poder, possivelmente mais para quem não tem cultura, porque são mais manipuláveis as pessoas pouco esclarecidas».

«Desde sempre apostar na cultura é bom. Mas quando essa aposta é desviada para outro tipo de estratégias, penso que é sempre contra o homem. Por isso acho interessante que a Igreja aponte para um período de reflexão sobre a dimensão alargada daquilo que constrói», referiu.

A jornalista lembrou que quando o papa Francisco esteve no Brasil, salientou que «um país cresce quando se dialoga de modo construtivo nas suas diversas riquezas culturais. E elencou-as: a cultura popular, universitária, juvenil, artística, tecnológica, económica, da família e dos bens de comunicação social. Seria maravilhoso se se dialogasse a este nível».

O jornalista António Marujo realçou que a «cultura económica, e sobretudo financeira, perdeu muitos valores matriciais, éticos» ao «colocar o lucro e o poder acima da dignidade da pessoa».

 «Estamos perante uma economia que mata, como diz o papa», ao nível do aumento do número de suicídios, redução no acesso ao sistema de saúde e no âmbito educativo, pelo que «é preciso inverter o ciclo da cultura que se criou com a mentalidade de que vale tudo, incluindo espezinhar as pessoas - que são a razão última da economia e do sistema financeiro, e não o contrário».

António Marujo participa na Jornada Nacional da Pastoral da Cultura como moderador do painel da manhã, em que intervêm António José Gomes de Pinho, antigo Secretário de Estado da Cultura e atual presidente da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, Clara Almeida Santos, vice-reitora da Universidade de Coimbra para a Cultura, e Manuel Castelo Branco Santos, diretor do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra.

Ainda no decorrer do debate religioso, Pedro Vaz Patto sublinhou que «nem todas as pessoas conhecem o trabalho da Pastoral da Cultura. Eu recomendo a consulta da página do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - snpcultura.org. Há também uma "newsletter", que quem quiser pode receber regularmente notícias sobre o que se vai fazendo neste âmbito».

«É muito interessante porque nestas iniciativas cabe um leque muito variado de temáticas, desde o acompanhamento da atividade do papa, do Conselho Pontifício da Cultura, a indicação do que se vai publicando, comentários a filmes - ainda recentemente vi uma indicação de várias películas sobre temáticas ligadas à vida familiar abordadas na exortação apostólica "Amoris laetitia"» -, bem como arte, arquitetura - tudo isto se pode encontrar neste site», assinalou.

O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz destacou «que muitas das iniciativas apresentadas na página não se situam no âmbito da Igreja» e frisou que «a cultura é um campo em que se podem estabelecer pontes e um diálogo também com pessoas que não frequentam a igreja».

A 12.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que começa às 10h00 deste sábado na Casa "Domus Carmeli", em Fátima, inclui a entrega do Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes, atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, com o patrocínio do grupo Renascença Multimédia Comunicação, ao médico e especialista em bioética Walter Osswald.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 02.06.2016 | Atualizado em 17.04.2023

 

 

 
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«A cultura, muitas vezes, também é um negócio. A cultura vende e nessa atividade tem determinados interesses, umas vezes com coisas muito boas, outras vezes nem por isso. Mas não deixa de ser um sinal de poder», alertou Aura Miguel
«Estamos perante uma economia que mata, como diz o papa», ao nível do aumento do número de suicídios, redução no acesso ao sistema de saúde e no âmbito educativo, pelo que «é preciso inverter o ciclo da cultura que se criou com a mentalidade de que vale tudo», vincou António Marujo
«Muitas das iniciativas apresentadas na página [da Pastoral da Cultura] não se situam no âmbito da Igreja», realçou o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, para quem «a cultura é um campo em que se podem estabelecer pontes e um diálogo também com pessoas que não frequentam a igreja»
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