Projecto cultural
Sínodo dos Bispos

A Sagrada Escritura na vida da Igreja

A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como sempre venerou ao próprio corpo do Senhor, já que sem cessar toma da mesa da palavra de Deus e do Corpo de Cristo o pão da vida e o serve aos filhos. Sempre as teve e tem, juntamente com a Tradição, como suprema regra de sua fé, porque, inspiradas por Deus e consignadas por escrito uma vez para sempre, comunicam imutavelmente a palavra do próprio Deus e fazem ressoar através das palavras dos Profetas e Apóstolos a voz do Espírito Santo. É necessário, portanto, que toda pregação eclesiástica, como a própria religião cristã, seja alimentada e orientada pela Sagrada Escritura. Nos Livros Santos, com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. E é tão grande a força poderosa que se encerra na palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo vigoroso para a Igreja, firmeza na fé para seus filhos, alimento da alma, perene e pura fonte da vida espiritual. Por tudo isto, aplicam-se perfeitamente à Sagrada Escritura estas palavras: "A palavra de Deus é viva e eficaz (Heb 4, 12), poderosa para edificar e repartir a herança entre os santificados" (Act 20, 32; cf. I Tes 2, 13).

 

Empenho dos estudiosos e especialistas

A Esposa do Verbo Encarnado, a Igreja, instruída pelo Espírito Santo, esforça-se para conseguir cada dia uma compreensão mais profunda da Sagrada Escritura, a fim de incessantemente nutrir seus filhos com os ensinamentos divinos. Por esta razão, fomenta devidamente o estudo dos Santos Padres do Oriente e do Ocidente e das Sagradas Liturgias. É preciso que os exegetas católicos e todos aqueles que se dedicam à Sagrada Teologia, unindo corajosamente as suas forças, procurem, com meios aptos, investigar e apresentar, sob a vigilância do Magistério, as divinas Letras, de maneira que o maior número possível de ministros da divina Palavra possa frutuosamente fornecer ao Povo de Deus o alimento das Escrituras que ilumine a mente, fortaleça as vontades e inflame os corações dos homens para o amor de Deus. Este concílio encoraja os filhos da Igreja que se dedicam aos assuntos bíblicos a que com todo o esforço prossigam de acordo com o sentir da Igreja, na execução do trabalho felizmente empreendido, com quotidiana renovação de forças. 

 

Importância da Sagrada Escritura para a Teologia

A sagrada teologia apoia-se, como em seu fundamento perene, na palavra de Deus escrita e na sagrada Tradição, e nela se consolida firmemente e sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz da fé, toda a verdade contida no mistério de Cristo. As Sagradas Escrituras contêm a palavra de Deus, e, pelo facto de serem inspiradas. São verdadeiramente a palavra de Deus; e por isso, o estudo destes sagrados livros deve ser como que a alma da sagrada teologia. Também o ministério da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora com a palavra da Escritura.

É necessário, por isso, que todos os clérigos, e sobretudo os sacerdotes de Cristo e outros que, como diáconos ou catequistas, legitimamente se consagram ao ministério da palavra, se apeguem às Escrituras Sagradas, mediante assídua leitura e cuidadoso estudo das mesmas, para que não venha a ser "vão pregador da palavra de Deus externamente, quem a ela não presta ouvido interiormente", quando, especialmente na Sagrada Liturgia, tem que comunicar aos fiéis a si confiados as vastíssimas riquezas da palavra divina. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, a que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: "o conhecimento de Jesus Cristo" (Flp 3, 8). Porquanto "ignorar as Escrituras é ignorar Cristo". De bom grado, pois, vão ao próprio texto sagrado, quer pela Sagrada Liturgia, repleta da divina palavra, quer pela piedosa leitura, quer por cursos apropriados e outros meios que, com a aprovação e empenho dos Pastores da Igreja, hoje em dia louvavelmente se difundem por toda parte. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça um colóquio entre Deus e o homem. Pois "com ele falamos quando rezamos, a ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos". Cabe aos sagrados Pastores, depositários da doutrina apostólica, educar oportunamente os fiéis que lhes foram confiados para o correcto uso dos livros divinos, sobretudo do Novo Testamento e dos Evangelhos, por meio de versões dos textos sagrados acompanhadas das explicações necessárias e realmente suficientes, a fim de que os filhos da Igreja, segura e utilmente, se familiarizem com as Escrituras Sagradas e de seu espírito fiquem imbuídos.

Além disso, façam-se edições da Sagrada Escritura munidas de apropriadas anotações, para uso também dos não-cristãos e adaptadas à situação deles. E, tanto os Pastores de almas como os cristãos de qualquer condição, inteligentemente procurem difundi-las de todos os modos.
 

Conclusão

Assim, pois, com a leitura e o estudo dos Livros Sagrados, se propague e seja estimada a palavra do Senhor (II Tes 3, I), e o tesouro da Revelação confiado à Igreja cada vez mais tome conta dos corações dos homens. Assim como a vida da Igreja se desenvolve pela assídua participação no mistério eucarístico, assim é lícito esperar um novo impulso de vida espiritual de uma acrescida veneração pela palavra de Deus, que permanece eternamente (Is 40, 8; cf. I Pe 1, 23-25).  (...)

in Constituição dogmática "A Revelação Divina" (Dei Verbum), nn. 21, 23-26

06.10.2008

 

 

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