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Espiritualidade e História

Primeira edição portuguesa das obras de Potâmio, primeiro bispo conhecido de Lisboa

Há muito que esperávamos uma versão portuguesa das Obras de Potâmio, primeiro bispo conhecido de Lisboa. A coleção Philokalia apresenta agora, no volume nº 15, a edição bilingue de todos os escritos de Potâmio, que desenvolveu a sua ação pastoral e teológica em meados do século IV.

Tratam-se de escritos de capital importância para o conhecimento do cristianismo na Lusitânia deste remoto período. Os textos que agora se apresentam pela primeira vez em tradução portuguesa, da responsabilidade de José António Gonçalves e Isidro P. Lamelas, constituem a primordial expressão literária dos primeiros séculos da civilização cristã na Península Ibérica.

Estando nós a falar dos primeiros documentos cristãos conhecidos na nossa área geográfica, não deixa de surpreender que tenhamos esperado mais de 1600 anos para termos em mão uma versão portuguesa das homilias, tratados e cartas duma figura de proa da nossa história eclesiástica e cultural, que se correspondeu com Santo Atanásio e tomou parte ativa no grande debate teológico pós-niceno.

Depois dos aprofundados e insuperáveis estudos de António Montes Moreira (que assina, na presente edição, um extenso Prólogo em jeito de Status quaestionis),  que conduziram às mais recentes edições científicas dos escritos potamianos, tornou-se viável e inadiável esta edição portuguesa que pretende despertar um maior interesse pela obra e figura de Potâmio. 

Como convite e incentivo à leitura da demais obra, oferecemos dois excertos dos textos agora editados, prometendo para os próximos dias a publicação de mais fragmentos.

 

Potâmio autoapresenta-se

«Tenho o costume, irmãos, como vós próprios dizeis e eu não o ignoro, sim, tenho o costume de penetrar nos segredos da Lei, perscrutar as entranhas do dogma, ir até às veias das vísceras e sondar os sentidos mais recônditos das parábolas. Mas no meio destas coisas, perdida a agilidade dos movimentos, com a qual me movia rapidamente com oscilante velocidade e o cintilar da mente pelos terrenos da profecia e dos oráculos que adivinham os pensamentos, procurando o sentido da “substância” e esclarecendo a sua natureza, esbarrei com as limitações da linguagem e com a meta da minha divagação, à volta da qual eu andava.

Na verdade, tendo eu atingido a alta distinção do reconhecimento público a propósito da tríplice unidade da profundidade, acontece que teci uma mitra que abarca a totalidade da minha cabeça, ligada a ela a partir de três pedras preciosas de formas diferentes, mencionando apenas a palavra “Trindade”, à qual, engastadas as pérolas na sua singularidade, as pessoas se fixaram pela cadeia da união, que já antes dava a sua aprovação acerca da pedra angular.» (Epistola sobre a Substância)

 

Acreditamos e vivemos na unidade que vem da Trindade

«O que o Filho fez, o Pai o operou. O que o Pai quis, também o Filho o cumpriu. O Pai ordenou tudo o que o Filho mandou. Tudo aquilo de que se compadece o Filho corresponde à vontade do Pai, pois o verbo de Deus, Cristo, ou seja, o poder do Pai, tudo realizou. É por isso que o Pai fez tudo o que o Filho mandou. Com efeito, o Pai, pelo seu poder, descendo o Filho aos infernos, por meio do Filho e com o mesmo poder, quebrou as robustas trancas do inferno, com a palavra do seu poder chamou os mortos das profundezas do abismo e pela palavra do seu Cristo expulsou o diabo com a lança flamejante da sua boca. Esta é a única substância, esta é a indivisível e eterna majestade, esta é a unidade sempiterna da inviolável Trindade.» (Epistola sobre a Substância)

«Move-te, pois, ó fraternidade, porque o povo está unido ao Senhor Deus amigo [...] Vivemos na unidade, acreditamos na unidade católica, defendemos que há um só Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo e, suplicando com o dorso humilde e a cerviz inclinada, abraçamos, segundo a norma da oração, a verdadeira sabedoria, bem como Deus, Senhor da morada eterna.» (Epistola sobre a Substância)

 

Isidro Lamelas
Especialista em Patrística, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa
In Potâmio de Lisboa, ed. Alcalá
15.11.12

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