O preconceito é uma grande besta má. Porque, como diz o nome, não se funda no conhecimento, mas, precisamente, no pré-conceito, ou seja, em algo que prescinde do saber e baseia-se unicamente em suposições, crenças, superstições ou distorcidas visões religiosas, ideológicas ou pseudoculturais.
Podem dar-se exemplos em abundância: os migrantes que «tiram o trabalho» e «trazem doenças», os ciganos «que roubam», os muçulmanos «terroristas»; mas também os homossexuais, ou quem é apontado como lançando “mau-olhado”.
São os preconceitos, assim, que geram discriminações, exclusões, marginalização social. Os quais são indefensáveis, e que, como uma vida sem fim, geram outras exclusões e discriminações. As pessoas que adotam os preconceitos acabam por suspeitar de tudo e de todos, por medo, e fecham-se no seu microcosmo “perfeito”, até o tornar impermeável aos outros. Ao ponto de querer expulsá-los.
A história esteve sempre repleta de preconceitos, e infelizmente também daquele do século XX, que nos mostrou o quão atrozes podemos tornar-nos aos gerá-los.
A propósito de preconceitos, num destes domingos o papa Francisco recordou o passo do Evangelho em que um leproso, eludindo a proibição que relegava para as margens da sociedade quem era atingido por aquela terrível doença, se aproxima de Jesus. O qual, transgredindo também a Ele a mesma lei, o toca.
Hoje, afirmou, há muitas pessoas que sofrem de «outras doenças e condições às quais é, infelizmente, associado um preconceito social. Em certos casos, há inclusive uma discriminação religiosa… E o preconceito social de afastar as pessoas com a palavra: “Este é um impuro, este é um pecador, este é um trapaceiro, este é…”.
Sim, às vezes é verdade, mas que não se façam pré-conceitos. A cada um de nós pode acontecer experimentar feridas, falhas, sofrimentos, egoísmos que nos fecham a Deus e aos outros, porque o pecado fecha-nos em nós mesmos, por vergonha, por humilhação, mas Deus quer abrir o coração… Deus é aquele que se “contamina” com a nossa humanidade ferida e não tem medo de tocar as nossas chagas.»
Nós, ao contrário, «para respeitar as regras da boa reputação e dos hábitos sociais, muitas vezes calamos a dor ou revestimos máscaras que a camuflam. Para fazer enquadrar os cálculos dos nossos egoísmos ou as leis interiores dos nossos medos, não nos envolvemos em demasia nos sofrimentos dos outros.
Quanto, pelo contrário, devíamos pedir a Deus para nos tornar capazes de viver na nossa vida as duas transgressões que a história do leproso nos ensina. A do pobre doente, que, infringindo o interdito que o excluía da convivência civil, vai ao encontro de Jesus, e a de Cristo que o acolhe.
Para ter «a coragem de sair do nosso isolamento e, em vez de ficarmos em comiserações ou a chorar as nossas falhas, a lamentá-las, irmos ao encontro de Jesus tal como somos: “Senhor, eu sou assim”»; e para nos tornarmos capazes de «um amor que faz ir para além das convenções, que supera os preconceitos e o medo de nos misturarmos com a vida do outro». É assim que se muda o mundo, e se muda a História, segundo aquele que é o estilo de Deus. Feito de «proximidade, compaixão e ternura».