Olhamos à nossa volta e sentimos que verdadeiramente a primavera desencadeou um movimento: as árvores voltaram a germinar após a nudez do inverno; ao longo dos caminhos vemos flores amarelas, brancas e de todas as cores; damo-nos conta de que a temperatura é outra; a natureza prepara-se para uma estação diferente.
Ora, toda esta preparação não pode ser só exterior a nós, não pode ser apenas um desejo que atravessa a paisagem. Também a nossa vida precisa de primavera; também nós necessitamos de voltar a acender o fogo debaixo das cinzas; também nós precisamos de uma revitalização interna e de um florescimento.
O oceano gelado do nosso coração anseia por um degelo, e a terra desolada da nossa alma geme na expetativa de reverdejar. Não podemos permitir que o inverno se prolongue dentro de nós, e devemos estar conscientes disto: se nos deixamos simplesmente arrastar, se nos mantemos numa tépida e incapacitante indecisão, pode até acontecer que a primavera nunca chegue.
A Quaresma é precisamente um sobressalto, um gesto disruptivo, um chamamento à mobilização existencial para a acolher a reviravolta que Deus pode imprimir em nós.
A espiritualidade cristã não é uma região de conforto: é um desafio permanente a colocarmo-nos em viagem, conscientes de que devemos formar (ou reformar) o nosso coração à luz da caridade, da esperança e da fé.