«Meus caros jovens amigos, se visses a minha Bíblia, talvez não ficásseis impressionados. Diríeis: “O quê? Esta é a Bíblia do papa? Um livro tão velho, tão estragado!”. Poderíeis também oferecer-me uma nova, talvez até uma de mil euros; não, não a quereria. Amo a minha velha Bíblia, que me acompanhou metade da minha vida. Viu a minha alegria, foi banhada pelas minhas lágrimas: é o meu tesouro inestimável. Vivo dela e por nada do mundo me desfarei dela.»
Começa assim o prefácio que o papa Francisco redigiu para uma edição da Bíblia dirigida especialmente aos jovens e por eles comentada, publicada em alemão, e cuja tradução italiana do prefácio foi publicada na mais recente edição da revista italiana “Civiltà Cattolica”.
Francisco pede aos jovens que a Bíblia não fique «na terceira fila» das estantes, a «encher-se de pó» e correndo o risco de um dia ser vendida pelos filhos dos leitores no mercado dos livros usados.
«Hoje, mais ainda do que no início da Igreja, os cristãos são perseguidos; qual é a razão? São perseguidos porque trazem uma cruz e dão testemunho de Cristo; são condenados porque possuem uma Bíblia. Evidentemente, a Bíblia é um livro extremamente perigoso, tão arriscado que em certos países quem possui uma Bíblia é tratado como se escondesse no armário uma granada de mão», sublinha o papa.
«Que coisa tendes então na mão? Uma obra-prima literária? Uma recolha de antigas e belas histórias?», questiona Francisco. «Se fosse esse o caso, seria necessário dizer aos muitos cristãos que se fazem aprisionar e torturar pela Bíblia: ‘Fostes verdadeiramente idiotas e pouco astutos: é só uma obra literária!’. Não, com a Palavra de Deus a luz veio ao mundo e nunca mais será apagada.»
A Bíblia, prosseguiu o papa, é «alguma coisa de divino: um livro como fogo, um livro no qual Deus fala. Por isso, recordai-vos: a Bíblia não é feita para estar colocada numa estante, mas é feita para estar na mão, para ser lida muitas vezes, a cada dia, seja sozinho, seja acompanhado».
Se os jovens se fazem acompanhar quando «fazem desporto e vão às compras, porque não ler juntos, a dois, a três ou a quatro, a Bíblia?», pergunta Francisco. «Talvez ao ar livre, imersos na natureza, na floresta, na margem do mar, à noite à luz de uma vela… fareis uma experiência poderosa e desconcertante. Ou talvez tereis medo de parecer ridículos diante dos outros?».
«Lede-a com atenção, não fiqueis à superfície, como se faz com uma banda desenhada. A Palavra de Deus não se pode simplesmente percorrer com o olhar», acentua o papa.
Francisco sugere aos jovens para que se interroguem sobre o que a Bíblia diz aos seus corações: «Só assim a Palavra de Deus poderá exercer toda a sua força; só assim a nossa vida poderá transformar-se, tornando-se plena e bela».
«Quero confidenciar-vos como leio a minha velha Bíblia: muitas vezes pego nela, leio-a um pouco, depois coloco-a de lado e deixo-me olhar pelo Senhor. Não sou eu a olhar para Ele, mas é Ele a olhar-me: Deus está verdadeiramente ali, presente. Assim me deixo observar por Ele e sinto – não é com certeza sentimentalismo -, perceciono no mais profundo aquilo que o Senhor me diz», escreve Francisco.
«Às vezes, Ele não fala: e antão não sinto nada, só vazio, vazio, vazio… Mas, paciente, permaneço lá e espero-o assim, lendo e rezando. Rezo sentado, porque me faz mal estar de joelhos. Por vezes, ao rezar, chego a adormecer: sou como um filho próximo do seu pai, e isto é o que conta. Quereis fazer-me feliz? Lede a Bíblia.»
In "Rádio Vaticano"