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Fome: Papa pede «humanidade» para «pessoas, e não números, cada qual com o seu fardo de dor»

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Fome: Papa pede «humanidade» para «pessoas, e não números, cada qual com o seu fardo de dor»

O papa Francisco recebeu hoje, no Vaticano, membros do Banco Alimentar italiano, a quem vincou que «a fome assumiu hoje as dimensões de um verdadeiro "escândalo" que ameaça a vida e a dignidade de muitas pessoas».

«A cada dia temos de nos confrontar com esta injustiça (permito-me dizê-lo: com este pecado): num mundo rico de recursos alimentares, graças também aos enormes progressos tecnológicos, demasiadas pessoas são as que não têm o necessário para sobreviver; e isto não só nos países pobres, mas cada vez mais também nas sociedades ricas e desenvolvidas», sublinhou.

Apresentamos excertos da intervenção de Francisco, que, apesar de se dirigir a um organismo e realidade italianas, têm paralelo em pessoas - agentes, voluntários, beneficiários - e situações que ocorrem em Portugal, onde o Banco Contra a Fome e os beneméritos que o apoiam, entre indivíduos e empresas, continuam a ser uma solução de recurso para quem não dispõe de meios próprios de subsistência.

«A situação [da fome] agrava-se com o aumento dos fluxos migratórios, que levam à Europa milhares de refugiados, que fogem dos seus países e estão necessitados de tudo. Diante de um problema tão desmesurado, ecoam as palavras de Jesus: "Tive fome e destes-me de comer" (Mateus 25, 35).

Vemos no Evangelho que o Senhor, que se apercebe que a multidão que o foi escutar tinha fome, não ignora o problema, nem faz um belo discurso sobre a luta contra a pobreza, mas realiza um gesto que deixa todos estupefactos: toma o pouco que os discípulos tinham levado, bendi-lo e multiplica os pães e os peixes, de tal maneira que no fim sobraram doze cestos cheios.

Nós não podemos realizar um milagre como o fez Jesus; todavia, podemos fazer alguma coisa perante a emergência da fome, alguma coisa de humilde, e que tem também a força de um milagre. Antes de tudo, podemos educar-nos para a humanidade, a reconhecer a humanidade presente em cada pessoa, necessitada de tudo.

Talvez fosse precisamente nisto que pensava Danilo Fossati, empresário do sector alimentar e fundador do Banco Alimentar, quando confiou ao padre [Luigi] Giussani o seu desgosto diante da destruição de produtos ainda comestíveis, cendo quantos em Itália sofriam a fome.

O padre Giussani ficou sensibilizado e disse: «Poucas vezes me aconteceu encontrar uma pessoa poderosa que escolhesse dar sem pedir nada em troca, e nunca conheci um homem que desse sem querer aparecer (...) O Banco foi a sua obra. Nunca publicamente, sempre em pontas dos pés, seguiu-o desde o nascimento».

A vossa iniciativa, que festeja os 25 anos, tem as suas raízes no coração destes dois homens, que não ficaram indiferentes ao grito dos pobres. E compreenderam que alguma coisa devia mudar na mentalidade das pessoas, que os muros do individualismo e do egoísmo devem ser abatidos.

Continuai com confiança esta obra, concretizando a cultura do encontro e da partilha. É verdade que o vosso contributo pode parecer uma gota no mar das necessidades, mas na realidade é precioso. Juntamente convosco, outros também agirão, e isto aumenta o rio que alimenta a esperança de milhões de pessoas.

É o próprio Jesus que nos convida a dar espaço no nosso coração à urgência de «dar de comer a quem tem fome», e a Igreja fez dela uma das obras de misericórdia corporal. Partilhar o que temos com aqueles que não têm os meios para satisfazer uma necessidade tão primária, educa-nos para aquela caridade que é um dom inundante de paixão pela vida dos pobres que o Senhor nos faz encontrar.

Compartilhando a necessidade do pão de cada dia, vós encontrais a cada dia centenas de pessoas. Não esqueçais que são pessoas, e não números, cada qual com o seu fardo de dor que por vezes parece impossível de suportar. Tendo isto sempre presente, sabereis olhá-los no rosto, estender-lhes a mão, perceber neles a carne de Cristo e ajudá-los também a reconquistar a sua dignidade e a voltar a porem-se de pé.

Encorajo-vos a ser irmãos e amigos para os pobres; a fazê-los sentir que são importantes aos olhos de Deus. Que as dificuldades que seguramente encontrais não vos desencorajem; antes vos inspirem a apoiarem-se cada vez mais uns nos outros, competindo na caridade operativa.»

 

Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 03.10.2015 | Atualizado em 19.04.2023

 

 

 
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Nós não podemos realizar um milagre como o fez Jesus; todavia, podemos fazer alguma coisa perante a emergência da fome, alguma coisa de humilde, e que tem também a força de um milagre. Antes de tudo, podemos educar-nos para a humanidade, a reconhecer a humanidade presente em cada pessoa, necessitada de tudo.
Continuai com confiança esta obra, concretizando a cultura do encontro e da partilha. É verdade que o vosso contributo pode parecer uma gota no mar das necessidades, mas na realidade é precioso. Juntamente convosco, outros também agirão, e isto aumenta o rio que alimenta a esperança de milhões de pessoas
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