O papa sublinhou esta quinta-feira a necessidade de aprofundar as pontes entre culturas e religiões, por ocasião do congresso internacional sobre o jesuíta Matteo Ricci, que termina hoje em Macerata, Itália.
No telegrama enviado a D. Nazzareno Marconi, bispo diocesano, o papa, por intermédio do Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, expressa o seu apreço pela iniciativa que visa aprofundar a atividade missionária e cultural do religioso natural de Macerata e «amigo do querido povo chinês», revela a Sala de Imprensa da Santa Sé.
Francisco manifesta o desejo de que a evocação de um «homem tão entregue à Igreja, atento às mudanças sociais e empenhado em tecer relações entre a cultura europeia e chinesa, reafirme a importância do diálogo entre as culturas e as religiões no respeito mútuo e na perspetiva do bem comum».
Entre os temas do congresso, que conta com o apoio do departamento "Hanban", do Ministério da Educação da China, para a difusão da língua e cultura chinesas, incluem-se intervenções sobre o dicionário português-chinês de Michele Ruggeri e Matteo Ricci, a par de estudos sobre a cartografia e a linguagem.
O programa abrange igualmente a análise das repercussões da filosofia chinesa recolhida pelos jesuítas na história da filosofia europeia, bem como a relação entre as interpretações do religioso sobre os "Diálogos de Confúcio" e as três primeiras traduções da obra, a cargo da Companhia de Jesus.
Matteo Ricci nasceu a 6 de outubro de 1552, tendo sido ordenado padre e investigador de matemática e astronomia antes de partir para o Extremo Oriente, aos 26 anos. Passou quatro anos em Goa, antes de viajar para a China, onde aprendeu a língua local.
Os seus conhecimentos revolucionaram a percepção que aquele país tinha do resto do mundo. Em 1601 foi-lhe concedida permissão para entrar na Cidade Proibida de Pequim, onde trabalhou até à morte, em 1610.
«Dotado de profunda fé e de extraordinário talento cultural e científico, [Ricci] dedicou longos anos da sua existência a tecer um diálogo profícuo entre o Ocidente e o Oriente, conduzindo contemporaneamente uma incisiva acção de radicação do Evangelho na cultura do grande Povo da China. O seu exemplo permanece também hoje um modelo de proveitoso encontro entre as civilizações europeia e chinesa», escreveu Bento XVI em 2009.
O missionário foi um «modelo de diálogo e de respeito pelas crenças dos outros», tendo feito «da amizade o estilo do seu apostolado», ao mesmo tempo que procurava «conhecer cada vez mais as tradições da China», sublinhou o papa emérito em mensagem publicada por ocasião do início das celebrações evocativas do quarto centenário da morte de morte de Matteo Ricci.
«Não obstante as dificuldades e as incompreensões que encontrou, o Padre Ricci, quis manter-se fiel, até à morte, a este estilo de evangelização, atuando, poder-se-ia dizer, uma metodologia científica e uma estratégia pastoral baseadas, por um lado no respeito pelos costumes sadios do lugar que os neófitos chineses não deviam abandonar quando abraçavam a fé cristã, e por outro, na consciência de que a Revelação podia valorizá-los e completá-los ainda mais. E foi precisamente a partir destas convicções que ele, como já tinham feito os Padres da Igreja no encontro do Evangelho com a cultura greco-romana, delineou o seu clarividente trabalho de inculturação do Cristianismo na China, procurando um entendimento constante com os doutos daquele país», apontou Bento XVI.
Rui Jorge Martins