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Papa Francisco prefacia biografia de Bento XVI: «O contributo da sua fé e da sua cultura» para a Igreja foi «fundamental»

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Papa Francisco prefacia biografia de Bento XVI: «O contributo da sua fé e da sua cultura» para a Igreja foi «fundamental»

As livrarias italianas recebem na próxima terça-feira o livro “Servitore di Dio e dell’umanità - La biografia di Benedetto XVI” (“Servidor de Deus e da humanidade. A biografia de Bento XVI”), da autoria do teólogo e historiador italiano Elio Guerriero.

A obra de 756 páginas, publicada pela editora Mondadori, é prefaciada pelo papa Francisco, texto que é adiantado hoje pelo jornal transalpino “Avvenire” e que traduzimos seguidamente.

«Amado e discutido em cada fase da sua vida, Joseph Ratzinger foi um dos grandes protagonistas da segunda metade do século XX e da passagem do milénio», lê-se nas primeiras linhas da nota de apresentação do livro.

«À Igreja, atingida por escândalos sexuais e financeiros, propõe um percurso de purificação; à Europa sugere repetidamente que valorize as raízes cristãs; às religiões pediu uma atitude de diálogo e serviço aos povos e das novas urgências da humanidade», prossegue o texto.

«Por muitos não compreendido», Bento XVI, que em maio de 2010 esteve em Lisboa, Fátima e Porto, viria a surpreender o mundo quatro anos mais tarde com a resignação, «gesto clamoroso que a muitos pareceu o sinal do declínio do catolicismo. Era, ao contrário, a semente sob a neve, a passagem obrigatória para abrir a Igreja a uma dimensão mais universal, a uma renovação na qual está a trabalhar o seu sucessor, Francisco», refere a sinopse.

 

Prefácio
Papa Francisco

Esta ampla biografia do meu predecessor Bento XVI é bem-vinda: oferece uma leitura global da sua vida do desenvolvimento do seu pensamento, credível e equilibrada. Todos na Igreja temos uma grande dívida de gratidão com Joseph Ratzinger-Bento XVI – pela profundidade e o equilíbrio do seu pensamento teológico, vivido sempre ao serviço da Igreja até às responsabilidades mais altas, de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé durante o longuíssimo pontificado de João Paulo II e, por fim, de pastor universal. O contributo da sua fé e da sua cultura para um magistério da Igreja capaz de responder às expetativas do nosso tempo, sobretudo durante as últimas três décadas, foi fundamental. E a coragem e a determinação com que enfrentou situações difíceis indicaram o caminho para lhes responder com humildade e verdade, em espírito de renovamento e purificação. Mas gostaria de insistir no facto de que nestes primeiros anos do meu pontificado a minha ligação espiritual com ele permanece particularmente profunda. (…)

A sua presença e discreta e a sua oração pela Igreja são apoio e conforto contínuo para o meu serviço. Recordo muitas vezes a última audiência de despedida dos cardeais, a 28 de fevereiro de 2013, antes de deixar o Vaticano, quando pronunciou aquelas palavras comoventes: «Entre vós está também o futuro papa, ao qual já hoje prometo a minha incondicional reverência e obediência». Não podia saber, então, que se referiria a mim. Mas em todos os encontros com ele pude experimentar não só reverência e obediência, mas também cordial proximidade espiritual, alegria de rezar juntos, fraternidade sincera, compreensão e amizade, também disponibilidade para o conselho. Quem melhor do que ele pode compreender as alegrias, mas também as dificuldades do serviço da Igreja universal e do mundo de hoje, e ser espiritualmente próximo de quem é chamado pelo Senhor a carregar-lhes o peso? Por isso a sua oração é-me particularmente preciosa e a sua amizade bem-vinda. Para a Igreja a presença de um papa emérito além daquele que está em funções é uma novidade. E uma vez que se amam, é uma bela novidade. Em certo sentido exprime de maneira particularmente evidente a continuidade do ministério petrino, sem interrupção, como os elos de uma mesma cadeia soldada pelo amor. O povo santo de Deus em caminho compreendeu-o muito bem.

Todas as vezes que o papa emérito, acolhendo o meu convite, apareceu em público e eu pude abraçá-lo diante de todos, a alegria e o aplauso dos presentes foram sinceros e intensos. Estou muito grato a Bento XVI por ter querido participar na abertura do Jubileu da Misericórdia, passando através da Porta Santa logo depois de mim. E uma sua recente intervenção (“Osservatore Romano”, 17.3.2016), em que evidencia como «sinal dos tempos» o facto de que «a ideia da misericórdia de Deus se torne cada vez mais central e dominante» e que «o homem de homem está à espera da misericórdia», demonstra uma vez mais da maneira mais clara como o amor misericordioso de Deus é o filão unificante mais profundo dos últimos pontificados, a mensagem mais urgente que a Igreja em saída leva até às periferias de um mundo marcado por conflitos, injustiças e desprezo pela pessoa humana. A missão da Igreja, o serviço de Pedro, através das naturais variações das situações e das pessoas, são sempre anúncio do amor misericordioso de Deus pelo mundo. Toda a vida de pensamento e de obra de Joseph Ratzinger olhou para este fim, e na mesma direção, com a ajuda de Deus, eu esforço-me por continuar.

 

Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 24.08.2016

 

 

 
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Gostaria de insistir no facto de que nestes primeiros anos do meu pontificado a minha ligação espiritual com ele permanece particularmente profunda
Todas as vezes que o papa emérito, acolhendo o meu convite, apareceu em público e eu pude abraçá-lo diante de todos, a alegria e o aplauso dos presentes foram sinceros e intensos. Estou muito grato a Bento XVI por ter querido participar na abertura do Jubileu da Misericórdia, passando através da Porta Santa logo depois de mim
A missão da Igreja, o serviço de Pedro, através das naturais variações das situações e das pessoas, são sempre anúncio do amor misericordioso de Deus pelo mundo. Toda a vida de pensamento e de obra de Joseph Ratzinger olhou para este fim
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