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Papa Francisco confessa-se e confessa: O «coração da Confissão» não é o pecado que dizemos, mas a misericórdia

A imagem, como acontece a cada ano, é a de um papa penitente, ajoelhado diante de um sacerdote de um dos 95 confessionários que ladeiam a nave direita da basílica de S. Pedro, no Vaticano.

Francisco celebra a iniciativa “24 horas para o Senhor”, e, antes de confessar 11 fiéis, tira os paramentos, dirige-se para receber o sacramento da Reconciliação. Durante cerca de seis minutos, o papa permanece de joelhos, com a cabeça inclinada e as mãos juntas, tendo como fundo o canto dos “pueri cantores” do coro da Capela Sistina.

Depois, coloca a estola roxa e passa para um confessionário, onde encontra homens e mulheres, todos leigos, provenientes de Itália, Colômbia, Vietname e Polónia. Ao mesmo tempo, 80 padres confessam os numerosos fiéis reunidos na basílica.

Ao contrário dos últimos anos, em que preferiu para esta celebração quaresmal não pronunciar quaisquer palavras, mas concentrar-se no silêncio da oração, nesta quinta edição da iniciativa, dedicada ao tema “Também eu não te condeno”, palavras que Jesus dirigiu à mulher prestes a ser morta por lapidação (cf. João 8,11), o papa partilha com os presentes uma reflexão.



«Só como perdoados podemos voltar a partir revigorados, depois de termos experimentado a alegria de sermos amados pelo Pai até ao fim. Só através do perdão de Deus acontecem coisas verdadeiramente novas em nós»



Francisco reiterou o primado da misericórdia de Deus, um dos temas centrais do pontificado. Para Jesus, afirmou, «antes do pecado vem o pecador»: «Eu, tu, cada um de nós, vem primeiro no coração de Deus: primeiro que os erros, as regras, os juízos, as nossas quedas».

«Peçamos a graça de um olhar semelhante ao de Jesus, peçamos o enquadramento cristão da vida, onde primeiro que o pecado vejamos com amor o pecador, primeiro que o erro, o errante, primeiro que a sua história, a pessoa», apontou.

A confissão, prosseguiu Francisco, «é a passagem da miséria à misericórdia, é a escrita de Deus no coração», um perdão que oferece um novo início: «Faz-nos criaturas novas, faz-nos tocar com a mão a vida nova».

«Quantas vezes nos sentimos sós e perdemos o fio da vida. Quantas vezes já não sabemos como recomeçar, oprimidos pela exaustão de nos aceitarmos. Precisamos de iniciar do princípio, mas não sabemos por onde», observou.



Deus conhece-nos, «sabe que a luta interior é dura, que somos fracos e inclinados a cair, muitas vezes reincidimos no fazer o mal»; porque o mal «é forte» e «tem um poder sedutor»



Na iniciativa, que decorre em todas as dioceses do mundo nesta data, imediatamente antes do domingo em que nas missas é proclamada uma das passagens do Evangelho que melhor destaca a misericórdia de Deus – a parábola do filho pródigo –, Francisco lembrou que «o cristão nasce com o perdão que recebe no Batismo. E renasce sempre daí: do perdão surpreendente de Deus, da sua misericórdia que nos restabelece».

«Só como perdoados podemos voltar a partir revigorados, depois de termos experimentado a alegria de sermos amados pelo Pai até ao fim. Só através do perdão de Deus acontecem coisas verdadeiramente novas em nós», sublinhou.

Por isso, é preciso «superar o temor da Confissão», começando por se ter consciência «do perdão de Deus». Após receber o sacramento do perdão, é importante que a pessoa não se concentre nas suas «misérias», mas na «misericórdia de Deus».

«Olhar o Crucificado e dizer com admiração: “Eis como acabaram os meus pecados. Tu tomaste-os sobre ti. Não me apontaste o dedo, abriste-me os braços e voltaste a perdoar-me», assinalou.



«Sem Deus não se pode vencer o mal: só o seu amor volta a erguer por dentro, só a sua ternura derramada no coração nos torna livres»



Para Francisco, «é importante fazer memória do perdão de Deus, recordar a sua ternura, voltar a saborear a paz e a liberdade experimentadas». «Porque este é o coração da Confissão: não os pecados que dizemos, mas o amor divino que recebemos e de que temos sempre necessidade.»

Nos cristãos que se confessam periodicamente, surge muitas vezes a inquietação: «Não me serve de nada confessar-me, faço sempre os mesmos pecados».

«O Senhor conhece-nos, sabe que a luta interior é dura, que somos fracos e inclinados a cair, muitas vezes reincidimos no fazer o mal»; porque o mal «é forte» e «tem um poder sedutor.»

Para deter o seu poder, «é preciso um amor maior»: «Sem Deus não se pode vencer o mal: só o seu amor volta a erguer por dentro, só a sua ternura derramada no coração nos torna livres». «Será Ele a erguer-nos novamente e a fazer de nós criaturas novas».


 

Salvatore Cernuzio
In Vatican Insider
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 29.03.2019 | Atualizado em 08.10.2023

 

 
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