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A Palavra de Deus no quotidiano da vida eclesial

A leitura crente dos sinais dos tempos - com sensibilidade real aos acontecimentos e sua profundidade, com capacidade profética, com rele­vância existencial e com pertinência cultural - não é possível (...) sem um modo cristão de viver que se sabe atento à Palavra de Deus, disponível para escutar o Evangelho de Jesus. Colocam-se assim pressupostos de vivência, de formação, de espiritualidade, de autêntica busca de Deus como a verdadeira questão que tem de atravessar a vida de cada crente e nortear tudo o que a Igreja é chamada a ser e a fazer.

Deste dado primeiro - a disponibilidade para o confronto quotidiano com a "Palavra de Deus", a intensidade e a qualidade do seu acolhimento na vida eclesial - brota a exigência de uma profunda revisão de vida, que podemos sinalizar e exemplificar numa série de questões relativas ao nosso ser cristão e ser Igreja. Que lugar é dado à Palavra de Deus na vida concreta das nossas comunidades, em termos de anúncio, celebração e testemunho diacónico da fé? Como confrontamos em termos comunitários essa escuta da Palavra de Deus com as questões que diariamente se sentem na vida das pessoas, mormente daquelas que não estão em contacto imediato com a Igreja? Que disponibilidade há para pensar a catequese como lugar privilegiado, essencial, de preparação para a escuta da Palavra de Deus? Que qualidade de anúncio da Palavra de Deus têm as homilias, que constituem o quadro mais básico mas também o mais amplo da formação dos cristãos, da ideia que fazem de Deus, do modo como entendem as questões da fé, da maneira como veem o seu existir crente no mundo? Que importância estrutural, em termos de perceção de uma identidade vocacional, dão os nossos futuros ministros ordenados a uma formação exigente em termos teológico-culturais que os capacite para serem autênticos mediadores da Palavra de Deus no serviço que a Igreja os chama a prestar? Que exigências colocamos na formação dos nossos diáconos permanentes quando lhes reconhecemos um papel importante no anúncio público, autorizado da Palavra de Deus? Que lugar damos à Bíblia e como a utilizamos nos processos pessoais e comunitários de maturação na fé? E as perguntas poderiam continuar, sendo certo que elas se orientam para um núcleo com di­versas faces: a importância decisiva de uma formação cristã de qualidade, exigente a vários níveis, superando inércias ou soluções adhoc que só conduzem, em última análise, a simples "pinturas de superfície".

Em tudo isto, é de crucial significado tomar-se consciência de que, em última instância e dentro de uma indispensável "hierarquia das verdades", o que está aqui em causa é o sentido da centralidade de Deus na vida cristã, quer dizer, a consciência de que Deus não é um tema entre outros no conjunto das verdades da fé, mas é o centro, o suporte, o fundamento da fé. Tudo na vida cristã tem de estar, pois, orientado por esta abertura profunda e constante ao "Mistério que chamamos Deus", por esta sensibilidade a dar a Deus o lugar devido na estruturação da própria fé e de uma verdadeira espiritualidade. Trata-se assim, antes de mais, de nos dispormos a verificar se a centralidade de Deus é o fio condutor e determinante das nossas opções existenciais e da nossa leitura do mundo. É esta atitude interior, decidida, de abertura ao Mistério de Deus que nos permite captar e acolher a proxi­midade de Deus nas nossas vidas, valorizar a obra de Deus à nossa volta e estar verdadeiramente atentos aos sinais de Deus e às perguntas por Deus - sejam elas colocadas sob forma secular ou sob forma religiosa - presentes no quotidiano do nosso mundo.

 

Esta transcrição omite as notas de rodapé.

 

José Eduardo Borges de Pinho
Professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa
In Didaskalia 1/2011
02.11.11

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Albrecht Dürer














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