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Os papas e o desporto

Durante os Jogos Olímpicos, foi para mim uma surpresa simpática saber que o Papa Pio X tinha sido promotor dos Jogos Olímpicos, em 1908. De facto, não podendo realizar-se em Roma por causa de uma grave crise económica - acabaram por ser celebrados em Londres -, Pierre de Coubertin, instigador dos Jogos modernos, pediu ajuda à Santa Sé, e foi o próprio Pio X que o apoiou.

Quem o afirma é Antonella Stelitano no livro “Pio X e o Desporto”, fazendo notar que nos começos do século XX menos de um por cento da população praticava desporto. Ora, Pio X via no desporto uma forma de educar os jovens. «São Pio X viu a possibilidade de o desporto ser educativo. Uma forma de aproximar os jovens, para que, estando juntos, seguissem regras e respeitassem o adversário. Creio que entendeu que era possível fazer com que as pessoas estivessem juntas de uma forma simples, unidas sem problemas de raça, religião ou ideias políticas diferentes.»

Aliás, dada a dificuldade em se compreender nessa altura a ginástica, o próprio Papa terá dito a um cardeal: «Muito bem! Se não entendem que é algo que se pode fazer, pôr-me-ei eu próprio a fazer ginástica diante de todos e assim verão que, se o Papa a pratica, todos a podem praticar.»

Foto Bento XVI recebe camisola da equipa de futebol italiana AC Milan

É claro que os Jogos Olímpicos não se reduzem ao lema olímpico: citius, altius, fortius (mais rápido, mais alto, mais forte). Lá estão interesses outros que não os desportivos (aliás, não é o que se passa nos outros desportos, concretamente no futebol?), como os negócios e a corrupção, o perigo da idolatria e imensas frustrações e humilhações.

Seja como for, nunca foi esquecido o lema: "mens sana in corpore sano" (mente sã num corpo são) e os Papas recentes não deixaram de sublinhar a importância e o valor do desporto.

Pio XII, chamado «o amigo dos desportistas» e o primeiro a mandar instalar um ginásio no Vaticano, perguntava e respondia: «Qual é, em primeiro lugar, o sentido e o objetivo do “desporto”, sã e cristãmente entendido, senão precisamente cultivar a dignidade e a harmonia do corpo humano, desenvolver a saúde, o vigor, a agilidade e a graça do mesmo?» E acrescentava: «O desporto, adequadamente dirigido, desenvolve o caráter, faz do ser humano uma pessoa valorosa, que perde com generosidade e vence sem presunção; ele afina os sentidos, ilumina a mente, e forja uma vontade de ferro para perseverar. Não é só desenvolvimento físico. O desporto corretamente entendido tem em conta o homem todo.»

FotoBento XVI com a esquiadora alemã Maria Hoefl-Riesch

O desporto tem a capacidade de contribuir para a formação integral e para a fraternidade universal e a paz. João XXIII notou que o desporto «constitui um dos fenómenos mais vivos e interessantes da cultura contemporânea». O Concílio Vaticano II recomendou: «Empreguem-se os descansos oportunamente para distração do ânimo e para consolidar a saúde do espírito e do corpo, ... com exercícios e manifestações desportivas que ajudam a conservar o equilíbrio espiritual e a estabelecer relações fraternas entre os homens de todas as classes, nações e raças.»

Paulo VI dirigiu-se aos atletas das XIX Olimpíadas: «Procedeis de tantos países, representais ambientes e culturas, mas une-vos um ideal idêntico: ligar todos os homens com a amizade, a compreensão, a estima recíproca. Isto prova que a vossa meta final é mais elevada: a paz universal." O desporto simboliza a vida: "A vida é um esforço, a vida é um risco, a vida é uma corrida, a vida é uma esperança para a meta final, uma meta que transcende o palco da experiência comum e que a alma entrevê e a religião nos apresenta.»

FotoBento XVI com jovens da escola da equipa inglesa de futebol Manchester City

João Paulo II, o papa dos desportistas, disse-lhes: «Sede conscientes da vossa responsabilidade. Não apenas o campeão no estádio, também o homem com toda a sua pessoa deve converter-se num modelo para milhões de jovens, que têm necessidade de “líderes” e não de “ídolos”.» E exortou: «Que o desporto esteja sempre ao serviço do homem e não homem ao serviço do desporto.» Neste sentido, Bento XVI afirmou que, para os cristãos, a luz da chama olímpica «remete para o Verbo encarnado, luz do mundo que ilumina o homem em todas as dimensões, incluindo a desportiva.»

 

Anselmo Borges
In Diário de Notícias, 18.8.2012
19.08.12

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Crianças jogam futebol
na praça de São Pedro, Vaticano

 

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