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«Os avós e os idosos não são sobras de vida, desperdícios para deitar fora», declara papa

«Perguntemo-nos: “Visitei os avós? Os idosos da minha família ou do meu bairro? Prestei-lhes atenção? Dediquei-lhes algum tempo?” Guardemo-los, para que nada se perca: nada da sua vida e dos seus sonhos. Cabe a nós, hoje, prevenir o lamento de amanhã por não termos dedicado suficiente atenção a quem nos amou e nos deu a vida.»

Esta foi uma das advertências que o papa proferiu hoje, pela voz do arcebispo Rino Fisichella, na homilia da missa, na basílica de S. Pedro, Vaticano, durante a qual se assinalou o primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.

«Os avós e os idosos não são sobras de vida, desperdícios para deitar fora. Mas são aqueles preciosos pedaços de pão deixados na mesa da nossa vida, que ainda nos podem nutrir com uma fragrância que perdemos, “a fragrância da memória”, considera Francisco, que não participou nesta missa por estar a convalescer da cirurgia a que foi submetido no início do mês.

Francisco quis lembrar como os avós foram, e são, imprescindíveis para cada pessoa, não só porque estão na sua origem, como a acompanharam e apoiaram, sobretudo nos momentos de maior fragilidade «Depois duma vida feita muitas vezes de sacrifícios, não se mostraram indiferentes a nosso respeito nem apressados sem nos ligar; mas tiveram olhos atentos, cheios de ternura».



«Sejamos agradecidos pelos seus olhos atentos, que se aperceberam de nós, pelos seus joelhos que nos deram colo, pelas suas mãos que nos acompanharam e levantaram, pelos jogos que fizeram connosco e pelas carícias com que nos consolaram. Por favor, não nos esqueçamos deles»



«No nosso crescimento quando nos sentíamos incompreendidos ou com medo dos desafios da vida, eles deram-se conta de nós, do que estava a mudar no nosso coração, das nossas lágrimas escondidas e dos sonhos que trazíamos dentro de nós. Todos nos sentamos nos joelhos dos avós, que nos tiveram ao colo. E foi também graças a este amor que nos tornamos adultos», assinalou.

Perante esta história de amor, que atitude têm hoje filhos e netos? « Que olhar temos para com os avós e os idosos? Quando foi a última vez que fizemos companhia ou telefonamos a um idoso para o certificar da nossa proximidade e deixar-nos abençoar pelas suas palavras?».

«Sofro quando vejo uma sociedade que corre, apressada e indiferente, ocupada com tantas coisas e incapaz de parar para dar um olhar, uma saudação, uma carícia. Tenho medo duma sociedade onde todos formamos uma multidão anónima e já não somos capazes de erguer os olhos e reconhecer-nos. Os avós, que alimentaram a nossa vida, hoje têm fome de nós: da nossa atenção, da nossa ternura; de nos sentir ao pé deles. Ergamos o olhar para eles, como Jesus faz connosco», pediu Francisco.

E se na infância, e mesmo ao longo da vida de adultos, os avós deram o que tinham, chega o tempo de ter para com eles a mesma generosidade que antes manifestaram: «Agora cabe a nós guardar a vida deles, aliviar as suas dificuldades, atender às suas necessidades, criar as condições que lhes permitam ver facilitadas as suas tarefas diárias e não se sintam sozinhos».










Depois de reiterar a «necessidade duma nova aliança entre jovens e idosos, necessidade de partilhar o tesouro comum da vida, sonhar juntos, superar os conflitos entre as gerações para preparar o futuro de todos», o papa frisou que, mesmo com as suas eventuais limitações, os avós e idosos continuam a ser «pão» que alimenta as gerações mais novas.

«Sejamos agradecidos pelos seus olhos atentos, que se aperceberam de nós, pelos seus joelhos que nos deram colo, pelas suas mãos que nos acompanharam e levantaram, pelos jogos que fizeram connosco e pelas carícias com que nos consolaram. Por favor, não nos esqueçamos deles. Aliemo-nos com eles. Aprendamos a parar, a reconhecê-los, a ouvi-los. Nunca os descartemos. Guardemo-los amorosamente. E aprendamos a partilhar tempo com eles. Sairemos melhores. E juntos, jovens e idosos, saciar-nos-emos à mesa da partilha, abençoada por Deus», concluiu a homilia de Francisco.

No início da celebração, o arcebispo italiano D. Fisichella, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, informou os fiéis que o papa os iria saudar aquando da oração do Ângelus, ao meio-dia do Vaticano.

«Sabeis que estes, para ele, são dias de convalescência, e nós desejamos que não se canse, para que possa passar estes últimos dias em repouso, para retomar plenamente as forças e o seu ministério pastoral», afirmou.


 

Rui Jorge Martins
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Imagem: /Maria SbytovaBigstock.com
Publicado em 08.10.2023

 

 

 
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