É o dia do silêncio e da oração. O papa Francisco vem sozinho, lentamente, atravessando o conhecido arco com a frase “O trabalho liberta”. Percorre um trecho da estrada a bordo de um automóvel elétrico e depois – sentado num banco entre as árvores – reza, mudo, na praça do Apelo, lugar do enforcamento dos prisioneiros, onde S. Massimiliano Kolbe ofereceu a vida por um outro recluso, um gesto de amor no lugar da barbárie e da desumanidade. Mãos juntas, por vezes com a cabeça baixa e os olhos fechados, Francisco orou sozinho, em silêncio, por vários minutos.
Bergoglio, terceiro pontífice a passar as portas de Auschwitz e Birkenau, os campos de concentração onde foram exterminados mais de um milhão de judeus, escolheu não pronunciar discursos. Porque o silêncio é a mais alta forma de respeito pelas vítimas. No lugar do massacre, cada palavra seria redutora.
O papa foi acolhido pela primeira-ministra polaca, Beata Maria Szydlo. No Bloco 11 encontra pessoalmente onze sobreviventes, o último dos quais lhe entrega uma vela com a qual Francisco acende uma lâmpada, a sua oferta ao campo. A lâmpada, com brasão em prata dourada, é constituída por uma base em madeira de nogueira torneada, que se inspira no gradeamento do campo de concentração, agora consumido pelo tempo, qual representação do poder que teoriza a supremacia sobre o homem e a natureza.
Três dos sobreviventes têm mais de cem anos. No Yad Vashem, memorial do Holocausto em Jerusalém, Francisco tinha beijado as mãos dos sobreviventes; em Auschwitz, dentro do Bloco 11, beija-os um após outro, depois de lhes ter apertado a mão. Há quem lhe mostre fotografias e peça uma assinatura. Uma mulher beija-lhe a mão. O papa troca algumas palavras com os sobreviventes.
A segunda etapa, ainda em Auschwitz, é a visita e a oração na cela onde morre Kolbe, religioso franciscano polaco.
Na cela da fome, iluminada por uma pequena janela gradeada, Francisco senta-se sozinho, na penumbra. E reza em silêncio. Nas paredes há grafitos, entre os quais uma cruz. Ao médico que lhe injetava ácido fénico para acelerar a morte, o padre Kolbe tinha dito: «Não entendeu nada da vida. O ódio não serve de nada, só o amor cria».
O papa argentino assina, em espanhol, o Livro de Honra, disposto numa pequena mesa de um corredor: «Senhor tem piedade do teu povo! Senhor, perdão por tanta crueldade!».
A seguir, Francisco é conduzido a Birkenau, a 3 km de distância, o verdadeiro lugar simbólico do Holocausto, entrando pela porta principal e continuando, a bordo da viatura, paralelamente ao caminho-de-ferro, ao longo da via que levava à morte. Diante do monumento às Vítimas das Nações esperam-no um milhar de convidados. O papa passa pelas lápides comemorativas das vítimas nas várias línguas. E reza silenciosamente.
Francisco depõe depois uma vela acesa. E debaixo dela deixa algumas folhas. A única voz que se ergue é a do rabino-chefe da Polónia, que canta em hebraico o Salmo 130, o “de profundis”, que assim começa: «Do fundo do abismo clamo a ti, Senhor». O texto é a seguir lido em polaco por um padre.
Chegando à última lápide esperam-no 25 “Justos entre as Nações”, não judeus que na hora mais sombria, arriscando a própria vida e a dos seus próximos, salvaram a vida dos perseguidos. Como acontece com a família Ulma, que acolhe, escondendo numa fábrica, oito judeus, e é exterminada pelos nazis. Entre os Justos há uma religiosa, Janina Kierstan, superiora geral das Irmãs Franciscanas da Família de Maria, ordem que salvou cerca de 150 crianças judias.
O sacrifício do padre Kolbe, o da família Ulma, e a coragem dos “Justos entre as Nações” representam um sinal de esperança, uma luz frágil mas ao mesmo tempo poderosa, na escuridão da humanidade.
Andrea Tornielli / "Vatican Insider", Associated Press
Papa Francisco: A oração em Auschwitz e Birkenau
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