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O professor de Religião que deu música ao vocalista da banda vencedora do festival Eurovisão

«Não sou o professor que dizia aos Måneskin [banda que no sábado ganhou o festival Eurovisão 2021] para estarem “zitti e buoni” [título da canção vencedora, que em tradução livre pode dizer “cala-te e comporta-te bem”], fui apenas o professor de canto de Damiano David.» A precisão é feita por Giacomo Campanile, docente de Religião do Liceu Eugenio Montale, em Roma - «estou aqui há 26 anos» - que pode afirmar, sem desmentidos, ter visto nascer e crescer musicalmente o vocalista do conjunto que pouco tempo antes tinha também arrebatado o primeiro prémio de uma das iniciativas musicais mais importantes de Itália, o festival de San Remo. «Também não era o seu professor de religião, mas tive o prazer de inserir o Damiano naquela que considero uma criatura minha, o Pequeno Coro de Montale.»

Um conjunto que o docente, autodidata, guitarrista, autor e compositor, inclusive de música sacra, começou em 1996. «Aquele coro nasceu propositadamente para jovens como ele, porque compreendi que uma só hora de Religião não me permitia instaurar um diálogo mais amplo com as últimas gerações, como, pelo contrário, consegui abrir com a arte – as visitas às basílicas de Roma, com o próprio Damiano sempre presente –, com a música e também com as redes sociais. A propósito: não demonizemos sempre o Facebook, o Instagram ou o Twitter, porque, queira-se ou não, se queremos encontrar hoje os nossos filhos temos de ir lá, a essas plataformas. E eu, à exceção do TikTok, estou presente em todas, para falar e compreender melhor as necessidades dos jovens.»

As redes sociais determinaram também o sucesso no festival de San Remo dos Måneskin, de que Damiano é voz e símbolo do “Teatro d’ira” (título do novo álbum), no qual apela aos jovens a uma «raiva que sacuda as consciências». Uma pergunta ao professor Campanile: o aluno David foi sempre assim tão rebelde? «Conheci um rapaz com uma grande paixão pela música e também profundamente em busca de uma sua espiritualidade. Não é por acaso que nas costas tatuou a imagem de Jesus Cristo».



«Se souberem gerir-se, os Måneskin podem ser portadores de uma mensagem forte para os jovens, podem testemunhar que através da música pode empreender-se um caminho que muda a vida para melhor»



E no caminho de Damasco, Damiano encontrou depois um grupo que em pouquíssimo tempo alcançou popularidade internacional. «Que era um predestinado a subir a um palco e a cantar perante milhões de pessoas percebemo-lo naquele dia em que na aula magna do liceu entoou “Your song” de Elton John… A escola veio abaixo. Foi um triunfo, as meninas não o queriam deixar fugir.» Mas Damiano foi-se embora, sem terminar o curso. No terceiro ano foi bloqueado: não estudava, só pensava em cantar. E depois, no quarto, quando se uniu aos outros três Måneskin (Victoria, Thomas e David), abandonou o liceu. Mas antes de se ir embora, fez-me escutar “Chosen”, com que se apresentaram ao concurso X-Factor (2.º lugar na edição de 2017). Escutar aquela canção, uma peça “funky” que se abria com o “Dies irae-Requiem” de Mozart, abriu-me o coração e deu-me a certeza que aqueles jovens chegariam longe, muito longe.» E de facto, a banda subiu aos lugares cimeiros dos topos e atraiu um vasto público.

No entanto, muitas vezes dividem, quando por vezes se referem ao género ou se expõe ao limite da blasfémia, como em “Zitti e buoni”, em que cantam: «Em minha casa não há Deus». Campanile observa: «Na canção “Vent’anni” a mensagem que lançam é tudo menos blasfema. O baixista Vic, no palco de Sanremo, durante a final, levava o terço ao pescoço, e não creio que tenha sido uma forma de ostentação…». Sobre a ideologia “gender”, patente na música vencedora da Eurovisão, declara; «Os artistas da última geração são vítimas, mais ou menos conscientes, de um mundo adulto que quer destruir a identidade dos jovens».

Fora dos ecrãs, a banda, para o professor Campanile, é composta «essencialmente por quatro jovens de bairro normalíssimos. A sua força mediática está precisamente na simplicidade. Incluindo o Damiano, claro». E acrescenta: «Se souberem gerir-se, os Måneskin podem ser portadores de uma mensagem forte para os jovens, podem testemunhar que através da música pode empreender-se um caminho que muda a vida para melhor».

Desde que Damiano saiu da escola, há cinco anos, o seu caminho levou-o para longe do seu querido professor. «Nunca mais o vi, mas ouvimo-nos e com os jovens do coro Montale enviámos-lhe, há tempos, um vídeo com uma paródia do seu sucesso “Marlena”, em que o nosso coro, no refrão “Marlena volta a casa”, canta “Damiano volta à escola!». Ele divertiu-se muito a escutá-lo… Agora gostava que ele viesse aqui ao liceu para a cantar juntamente connosco, e nós haveríamos de o escutar calados e bem comportados».


 

Massimiliano Castellani
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 25.05.2021 | Atualizado em 21.04.2023

 

 
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